Amanda Pupo 

Cármen critica ‘demonização’ da política

 

 

Presidente do STF, no entanto, diz que excesso de partidos gera crise de representatividade

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, criticou ontem a “demonização” da política e destacou a necessidade de o brasileiro agir com ética em seu cotidiano.

A cerca de três meses e meio do primeiro turno das eleições, Cármen também tratou do número “excessivo” de partidos – atualmente são 35 – e da falta de objetividade nos programas das siglas. Ao fazer uma palestra no 2.º Congresso de Direito Eleitoral de Brasília, a presidente da Corte disse que o País “vive uma crise”, mas deve melhorar quando a população for comprometida com a ética e a construção da democracia.

“Demonizar a política não faz com que não tenhamos o caos provavelmente em vários momentos”, disse Cármen, usando a mesma expressão que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, adotou em junho do ano passado, um mês depois de vir a público a delação de executivos do grupo J&F que envolveu o presidente Michel Temer e outros políticos. À época, o ministro afirmou que não seria o “sistema penal punitivo a resposta de todos os males” e “falar de Constituição corresponde também a sustentar que não se pode demonizar a política”.

Na palestra de ontem, Cármen disse que a política “é necessária” e defendeu a democracia. “Podemos ser contra servidor, agentes públicos, programas de governo e governantes. A democracia é a liberdade de opinar e de se contrapor, mas o que não podemos é ficar sem política. (...) Hoje vivemos um momento particularmente grave onde a maioria acha ruim tudo que aí está, desde a fila no açougue até o governo, e tem o direito de achar. Mas ele fura a fila do açougue e acha que o secretário, quando fura a fila da licitação, tem de ser punido. É preciso que todos nos comprometamos com a ética”, completou.

 

Partidos. Além de citar a necessidade de maior participação, Cármen disse na palestra que o número “excessivo” de partidos políticos é uma das causas da crise representativa pela qual passa o Brasil, fazendo com que o cidadão não se sinta representado de maneira “firme” por nenhum deles.

Outra causa, segundo a magistrada, é a falta de programas partidários objetivos e claros em seus compromissos. “Não tem muita diferença entre o que eles oferecem”, afirmou.

 

Palestra

Para Cármen, brasileiro tem de agir com ética