O globo, n. 30965, 18/05/2018. País, p. 5

 

Ministro da Defesa: relatório da CIA é tema para ‘historiadores’

Cristiane Jungblut

18/05/2018

 

 

General afirma que Lei da Anistia encerra debate sobre assunto

-BRASÍLIA- O ministro interino da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, disse ontem que os documentos da CIA, agência de inteligência dos Estados Unidos, que tratam da ditadura militar no Brasil são uma questão para “historiadores e a Justiça”. Por duas vezes, Silva e Luna disse que, para os militares, o assunto se esgotou com a aplicação da Lei da Anistia. O ministro e o presidente Michel Temer participaram da cerimônia de abertura da exposição “Entre a Saudade e a Guerra”, sobre a participação da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial.

— Para o Ministério da Defesa, esse tema se esgota na Lei da Anistia. A partir daí, é uma atividade para historiadores e, se houver demandas, para a Justiça. Reafirmo: passa a ser assunto para historiadores e a Justiça, se houver demanda, porque com a Lei da Anistia, do ponto de vista militar, esse assunto fica encerrado — disse Silva e Luna, depois do evento no Palácio do Planalto.

A Lei da Anistia, promulgada em 1979, no governo do presidente João Baptista Figueiredo, perdoou crimes cometidos por agentes do Estado e reverteu punições impostas a militantes políticos durante a ditadura.

No documento da CIA revelado na semana passada, o ex-diretor da agência William Egan Colby narra para o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, um encontro em que o presidente Ernesto Geisel foi informado sobre execução sumária de 104 pessoas feita pelo Centro de Inteligência do Exército (CIE) durante o governo de Emílio Garrastazu Médici. Um general presente, segundo o relato, pediu a Geisel autorização para continuar a “política” de extermínio. Segundo o memorando, dias após o encontro, Geisel disse ao então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), João Baptista Figueiredo, que a “política deveria continuar” e que “apenas subversivos perigosos fossem executados”. Após a repercussão do caso, o governo brasileiro pediu à CIA o envio de documentos relacionados à ditadura militar.

 

“LUTAR PELA DEMOCRACIA”

No mesmo evento, Temer destacou o papel dos militares na defesa da democracia durante a Segunda Guerra Mundial. O presidente afirmou que, “lá atrás”, a FEB teve papel relevante a favor da democracia e contra um regime autoritário que a Alemanha tentava implantar em toda a Europa, em referência ao nazismo.

— Foi para isso que (os militares brasileiros) foram à Itália, para lutar pela democracia. Foram combater em nome da democracia. Relembrar este fato é fundamental para saber que o Brasil, lá atrás, em 1943, em 1945, ajudou a restaurar a democracia — disse Temer.

Ao lado de representantes das Forças Armadas, o o presidente exaltou a atuação do Exército brasileiro na Segunda Guerra.

— Cada momento histórico exige um esforço dos brasileiros, em particular de quem governa. Não há homenagem alguma que seja bastante para exaltar aqueles que enfrentaram a morte em nome da liberdade, que combateram regimes autoritários, fechados, em nome da democracia — disse Temer

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PF acha evidências de propina a Gleisi

18/05/2018

 

 

Presidente do PT teria recebido R$ 1 milhão de esquema em ministério

A Justiça Federal determinou nova prisão do ex-ministro José Dirceu. A PF achou evidências de propina para a senadora Gleisi Hoffmann. Uma investigação da Polícia Federal encontrou evidências de que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do PT, recebeu R$ 1 milhão em propina de um esquema que envolvia o Ministério do Planejamento e a empresa Consist. As informações são do “Jornal Nacional”, da TV Globo.

De acordo com o relatório final do inquérito, que investigava um esquema de fraude em empréstimos consignados para servidores públicos federais, existem “indicativos” de que Gleisi “de alguma forma colaborou para ocultar ou disimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores oriundos do esquema criminoso Consist”. O documento da PF diz ainda que “foram identificados diversos registros de pagamentos feitos em benefício da senadora Gleisi Hoffmann ou de pessoas relacionadas a ela e/ou ao marido, Paulo Bernardo (exministro do Planejamento” entre 2010 e 2015.

O relatório foi enviado em março ao ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal. Ao todo, a Consist, empresa que administrava o software usado nos empréstimos, é suspeita de ter repassado R$ 100 milhões ao PT e a políticos. Os pagamentos a Gleisi seriam feitos por intermédio do escritório do advogado Guilherme Gonçalves, que firmava contratos falsos de prestação de serviços com a firma.

A PF identificou ainda um pagamento de R$ 390 mil de Gleisi e Paulo Bernardo para o advogado. Segundo a investigação, a verba seria oriunda da Consist, e a transação seria uma maneira de ocultar a origem do dinheiro.

 

CAIXA DOIS DA TAM

No relatório, a Polícia Federal também aponta o possível pagamento de caixa dois pela companhia aérea TAM, hoje Latam, na campanha de Gleisi ao Senado em 2010. A investigação identificou o pagamento de R$ 300 mil pela companhia em 30 de agosto de 2010 ao escritório de Guilherme Gonçalves, que afirma não ter prestado serviço à Latam. Para a Polícia Federal, o contrato foi simulado, e a conduta pode configurar crime de falsidade ideológica eleitoral.

“Existem indicativos de que Gleisi Hoffmann, com a participação de Marco Antonio Bologna (ex-presidente da TAM), Luiz Claudio Mattos de Aguiar (exdiretor jurÍdico da TAM) e Guilherme Gonçalves (advogado da área eleitoral), ao menos omitiu, em documento público ou particular a declaração de que recebeu, em 30/08/2010, R$ 300 mil da empresa TAM para fins eleitorais por intermédio de um contrato de consultoria jurídica simulado entre o escritório de Guilherme Gonçalves e a empresa TAM sem a correspondente prestação do serviço, mas com registro de uso como honorário eleitoral.”

Gleisi disse que é vítima de calúnia e difamação e que nunca recebeu dinheiro ilegal para ela ou campanhas. Paulo Bernardo afirmou que não é investigado no inquérito. A TAM e a Consist afirmaram que estão colaborando com as investigações.