O Estado de São Paulo, n.45517 , 01/06/2018. POLÍTICA, p.A6

Associado ao ‘ódio’, Bolsonaro prega ‘amor’

Marcha para Jesus / Líder da Igreja Renascer cobra ‘valores cristãos’ do presidenciável, que faz discurso conciliador

Pedro Venceslau

Daniel Weterman

 

 

O deputado Jair Bolsonaro (PSL) foi o único pré-candidato à Presidência da República que discursou ontem na 26.ª Marcha para Jesus, em São Paulo, um dos mais importantes eventos da comunidade evangélica do País. O empresário Flávio Rocha, presidenciável do PRB, subiu ao palco, mas não usou microfone.

Antes de chegar à Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira, na zona norte da capital paulista, Bolsonaro foi recebido discretamente por aliados no Aeroporto de Congonhas. Horas antes, o apóstolo Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer e organizador da Marcha, deu uma entrevista na qual criticou o discurso do pré-candidato.

“Alguns posicionamentos dele podem fazer com que ele realmente ganhe a simpatia dos evangélicos. Agora, existem outros que são antagônicos com os valores cristãos, como força, talvez ódio, algumas coisas mais extremistas”, afirmou. A mensagem correu rápido entre aliados de Bolsonaro. O deputado chegou ao evento no meio tarde, ao lado do senador Magno Malta (PR), que é cotado para ser seu vice na chapa, e do deputado Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo.

Para evitar a imprensa, Bolsonaro foi “escoltado” até um corredor vip instalado na lateral do palco que dava acesso ao camarim de Hernandes, onde permaneceu por mais de uma hora até ser chamado para usar a palavra.

Ao aparecer no palco, o deputado foi recebido com vaias e aplausos pelo público, que agitava bandeiras de Israel. Fez então uma fala rápida e conciliadora. “Nós também somos contra (ódio). Aqui é lugar de perdão, é de entendimento, de amor ao próximo, não é lugar para atacar ninguém. Eu vim aqui mais para ouvir que para falar”, disse Bolsonaro.

Na saída, o pré-candidato deparou-se com jornalistas, que o questionaram sobre o apoio que ele recebeu de caminhoneiros grevistas que levantaram a bandeira da intervenção militar. “Nunca falei a palavra intervenção militar. Se um dia um militar chegar ao poder, será através do voto”, disse Bolsonaro.

O deputado destacou que tem uma “enorme” proximidade com a comunidade evangélica e afirmou que o senador Magno Malta, que é evangélico e estava ao seu lado, é o seu “vice dos sonhos”. “Já mandei cartinhas de amor para ele”, afirmou o pré-candidato.

O político mais saudado pelos religiosos, entretanto, foi o governador paulista, Márcio França (PSB), que concorre à reeleição. Ele se ajoelhou no palco para receber uma bênção dos pastores presentes, que oraram por ele e pelo Estado.

Em seguida, França fez um discurso emotivo, no qual abordou seu papel na negociação com os caminhoneiros. “O Brasil precisa de paz, compreensão e, acima de tudo, muita fé. Não adianta colocar a polícia, vigiar, se Deus não estiver no controle”, afirmou.

Candidato do PSDB ao governo, o ex-prefeito João Doria foi ao evento pela manhã, com o prefeito Bruno Covas e de Flávio Rocha. O ex-governador e pré-candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, não foi à Marcha.

 

1. Bolsonaro discursa na Marcha para Jesus

2. Flávio Rocha ,  Bruno Covas  e João Doria  participam  do evento

3. Márcio França recebe bênção de pastores evangélicos

 

‘Posicionamentos’

“Alguns posicionamentos dele (Bolsonaro) podem fazer com que ele realmente ganhe a simpatia dos evangélicos. Agora, existem outros que são antagônicos com os valores cristãos, como força, talvez ódio.”

Estevam Hernandes

LÍDER DA IGREJA RENASCER