Correio braziliense, n. 20132, 05/07/2018. Política, p. 3

 

Executivos são presos no Rio

Renato Souza

05/07/2018

 

 

CORRUPÇÃO » PF desmonta esquema de fraudes em contratos e pagamento de propina por multinacionais que prestavam serviço ao governo do estado

A operação Ressonância, desdobramento da Lava-Jato, deflagrada ontem pela Polícia Federal, desmontou um esquema de corrupção que durou entre 1996 e 2007, de acordo com o Ministério Público Federal (STF). As investigações apontaram que, pelo menos, 37 empresas multinacionais participaram de um esquema de pagamento de propina, lavagem de dinheiro e fraudes em contratos na Secretaria Estadual de Saúde do Rio. Entre os presos, estão executivos de empresas que atuam no Brasil e no exterior.

O principal alvo da operação foi o empresário Miguel Skin, que de acordo com as investigações, recebia pelo menos 40% do valor dos produtos como propina. Ele chegou a ser preso na Operação Fratura Exposta, em abril do ano passado, por suspeita de envolvimento em fraudes na área de saúde em contratos no valor de R$ 300 milhões, entre 2006 e 2017, durante a gestão do então governador Sérgio Cabral. No entanto, em dezembro do mesmo ano, foi liberado pelo ministro Gilmar Mendes. A Justiça autorizou o bloqueio de R$ 1,2 bilhão dos investigados na nova operação.

Foram cumpridos 20 mandados de reclusão, sendo 13 de prisão preventiva e nove de temporária, expedidos pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio. As ações ocorreram no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Paraíba, em Minas Gerais e no Distrito Federal e também envolveram o cumprimento de 43 mandados de busca e apreensão. Entre os detidos está Daurio Speranzini Jr, ex-executivo da Philips e atual CEO da General Electric (GE) na América Latina. De acordo com o MPF, os atos ocorreram enquanto ele ocupava o cargo de gestão na Philips.

Os desvios ocorriam por meio de empresas de fachadas e também foram realizados em contratos firmados pelo Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad com o governo do Rio. Em nota, o instituto afirmou que “está à disposição para esclarecimentos da investigação”. De acordo com o MPF, havia um cartel, formado pelos empresários, que “congregava fabricantes multinacionais de equipamentos médicos que ajustavam as vitórias nos procedimentos licitatórios em troca de pagamento de comissões exorbitantes a Miguel Skin no exterior, por intermédio de offshores”.

Ex-secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes foi intimado para depor. No entanto, ele não foi encontrado em casa. A defesa informou que ele estava acompanhando a filha em uma cirurgia. Ele também foi solto por decisão do ministro Gilmar, em fevereiro deste ano.

Em nota, a Philips informou que “os atuais líderes executivos não são parte da ação da Polícia Federal” e que “um colaborador da equipe de vendas da Philips foi conduzido para prestar esclarecimentos”. A empresa destacou ainda que a “política da instituição é realizar negócios de acordo com todas as leis, regras e regulamentos aplicáveis e quaisquer investigações sobre possíveis violações dessas leis são tratadas muito seriamente”.

A GE destacou que não é alvo das ações e que os fatos apontados “são referentes ao período em que o executivo (Daurio Speranzini Jr) atuou na liderança de outra empresa”. A defesa de Miguel Skin afirmou que a atitude da PF é “uma repetição da operação anterior, na qual a prisão preventiva do empresário foi afastada pelo Supremo Tribunal Federal”.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Alves é réu de novo

05/07/2018

 

 

O juiz federal Vallisney de Oliveira abriu ação penal contra o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (MDB) por crime de lavagem de dinheiro. O Ministério Público Federal em Brasília, no âmbito da Operação Sépsis, que investiga o peemedebista por supostos desvios na Caixa, aponta transações de R$ 4,6 milhões, que teriam sido ocultadas pelo ex-parlamentar nos Emirados Árabes e no Uruguai.

A investigação indica que Henrique Alves se associou ao também ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), ao ex-vice-presidente da Caixa Fábio Ferreira Cleto, ao corretor Lúcio Bolonha Funaro e ao investidor Alexandre Rosa Margotto, “com o objetivo de obter vantagens indevidas na concessão de recursos oriundos do FI-FGTS e das carteiras administradas do FGTS, da Caixa para diversas empresas”. Esse esquema já foi denunciado e Alves é um dos corréus.

Desta vez, a denúncia se refere, especificamente, às transações financeiras que o ex-presidente da Câmara teria executado para “encobrir propina paga pela Construtora Carioca, uma das responsáveis pela obra Porto Maravilha, no Rio de Janeiro”.

Em nota, o advogado Marcelo Leal, que defende Henrique Alves, afirmou que o ex-parlamentar “é inocente e provará isso no curso do processo”.