Correio braziliense, n. 20190, 31/08/2018. Brasil, p. 7

 

Educação estagnada

Ingrid Soares

31/08/2018

 

 

EDUCAÇÃO » Maioria dos estudantes do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio não consegue resolver operações básicas de matemática e apresenta problemas de leitura e interpretação

A maioria dos estudantes brasileiros não consegue resolver operações fundamentais de matemática e apresenta problemas de leitura e interpretação, revelando uma educação estagnada. O recorte corresponde ao desempenho de 2017 de estudantes do 5º e do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do ensino médio.

Os dados são do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), divulgados ontem. Os níveis de proficiência foram classificados numa escala de 0 a 9, na qual os de 0 a 3 são considerados insuficientes; 4 a 6, nível de conhecimento básico; e 7 a 9, adequado.

O 5º ano é o que apresenta melhor desempenho, período em que os alunos estão no nível quatro em português e em matemática. No 9º ano, eles apresentam a média geral no nível três. No entanto, os números desandam no ensino médio, classificado no nível 2 de proficiência e estagnada desde 2009.

Sete de cada 10 alunos do 3º ano do ensino médio apresentam conhecimento aquém do esperado em matemática e em português. Em matemática, 71,67% têm nível insuficiente de aprendizado. Desses, 23% estão no nível zero. Em português, são 70,88% com nível insuficiente de aprendizado, sendo que 23,9% estão no nível zero.

Na apresentação dos dados, o ministro da Educação, Rossieli Soares Silva, classificou o sistema educacional brasileiro como “literalmente falido”. Ele afirmou ser possível que, em 2021, o fundamental do 9º ano esteja com desempenho acima do ensino médio na escala de pontuação. “Seria um absurdo e o fundo do poço”, criticou.

Pela primeira vez, os dados do Saeb foram publicados separadamente do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Mais de 5,4 milhões de estudantes fizeram as provas do Saeb. No Centro-Oeste, foram 431 mil alunos. O Distrito Federal está entre as 10 melhores em todas as turmas e disciplinas e acima da média nacional. No entanto, a desigualdade de aprendizagem, levando em consideração as diferenças socioeconômicas entre alunos, é a maior do país.

Aluno do CED 1 do Cruzeiro, Paulo Júnior Nascimento, 16 anos, cursa o 3º ano e sonha em fazer veterinária. Ele conta que nunca repetiu de série, mas ressalta a dificuldade nas duas disciplinas, principalmente em matemática. “Acho que a didática do professor pode ajudar ou piorar na aprendizagem. A minha média é 5, dá para passar. Mas acho que a maioria dos professores não está preocupada com o real aprendizado, apenas em passar a matéria”, afirma. Ele também apresenta dificuldade em redação, principalmente com acentuação, pontuação e argumentação.

Reforço

Tamires Oliveira dos Santos, 17 anos, pensa em cursar enfermagem. Ela conta que já teve aulas de reforço em matemática, mas teve de parar devido aos custos. “O reforço me ajudou bastante, conseguia acompanhar as aulas, mas daí tive de parar, porque estava pesando no orçamento de casa. Aí, a dificuldade voltou. Acho que os alunos com mais dificuldade deviam ter uma atenção maior por parte da escola”, avalia.

Para a professora de política educacional da Universidade de Brasília (UnB) Catarina de Almeida Santos, os números apresentados podem piorar, caso a reforma do ensino médio seja aprovada. “É uma mania de querer melhores resultados sem mexer no processo. Tem de melhorar as condições na educação, investir, mas a reforma do ensino médio nunca foi a solução”, ressalta. “Se com um ensino que engloba as matérias já está assim, imagina com o desmonte. Esses resultados vão piorar. A reforma não é um caminho. É um ensino pobre feito para a população de baixa renda.”