O globo, n. 30985, 07/06/2018. País, p. 5

 

Para analistas, AM e TO podem indicar perfil da votação nacional

Jeferson Ribeiro

07/06/2018

 

 

Eleições suplementares para governador dos dois estados tiveram índice de abstenções, nulos e brancos acima do verificado em anos anteriores

As eleições suplementares para os governos do Amazonas, em agosto do ano passado, e de Tocantins, no domingo, apresentaram um roteiro do que pode acontecer em outubro, segundo cientistas políticos: o fenômeno do não-voto — a soma das altas taxas de abstenção e dos votos em branco e nulos.

Segundo os especialistas, há sinais claros de que o eleitor está cansado do sistema político e seus representantes. No Amazonas, em 2017, mais de 36% do eleitorado não foi às urnas ou votou em branco e nulo. Para efeito de comparação, nas eleições de 2010 e 2014 no estado, o índice de abstenção foi de 27% e 26%, respectivamente.

Já em Tocantins, no domingo, 43,5% dos eleitores tiveram a mesma postura. Esses percentuais haviam sido de 27%, em 2010, e 29%, em 2014. Em ambos os estados, o crescimento do não-voto foi expressivo nos pleitos mais recentes.

— Esse sinal mostra que grande parcela do eleitorado não se vê nas candidaturas — afirmou o cientista político Fernando Abrucio, professor da FGV.

Para o cientista político Fernando Schuler, do Insper, a abstenção nesses pleitos também pode ter outras causas, mas ele alerta que esse percentual de nãovoto das eleições vem subindo desde 2012.

— Nós tivemos um crescimento nas últimas eleições. Nulos, brancos e abstenções subiram de 26% para 32% entre 2012 e 2016. Tem uma curva aí e, respeitando isso, devemos ter abstenção acima de um terço do eleitorado em outubro. Agora, se chegar a 40%, seria grave — avaliou o professor.

Apesar de concordarem que os eleitores amazonenses e tocantinenses indicam um movimento de rejeição ao sistema político, os especialistas alertam que as eleições suplementares têm peculiaridades que não se repetirão.

— A campanha de outubro (deste ano) é curta, mas essas suplementares são ainda menores. Parte da abstenção eleitoral é por causa disso, inclusive. E são eleições plebiscitárias, o que dá vantagem aos que já são conhecidos — argumentou Abrucio.

Já Schuler aponta ainda um outro fator que pode contribuir para conter parte do desencanto com o sistema político e a consequente abstenção massiva.

— A eleição presidencial é mobilizadora e será muito fragmentada. Ou seja, mesmo que tenhamos seis ou sete candidaturas, elas atenderão a um espectro mais completo da política e aí o eleitor de extrema direita passa a se sentir representado, com o (Jair) Bolsonaro (PSL), assim como a extrema esquerda, com o (Guilherme) Boulos (PSOL). Então, tem uma riqueza política maior, mais complexa e também mais completa — analisou o professor do Insper.

Segundo os especialistas, a opção dos eleitores por candidatos com longa trajetória política em pleitos fora de hora nos estados pode não servir como parâmetro para a eleição geral de outubro. Eles consideram que o cenário pode ser diferente, ainda mais se o quadro analisado for o da disputa presidencial, fragmentada em muitas pré-candidaturas que ainda não se sabe se vão emplacar no gosto do eleitor.

No Amazonas, o ex-governador e ex-prefeito da capital Amazonino Mendes foi eleito governador em agosto do ano passado. Em Tocantins, o atual governador em exercício, Marcelo Calesse (PHS), e o senador Vicentinho Alves (PR) vão disputar o segundo turno.