Correio braziliense, n. 20188, 29/08/2018. Cidades, p. 17

 

Sete candidatos e um encontro histórico

Helena Mader

29/08/2018

 

 

Cara a cara, diante das câmeras e de milhares de eleitores, sete candidatos ao Governo do Distrito Federal se enfrentaram ontem em um dos momentos mais importantes da corrida eleitoral de 2018. Durante duas horas e meia, eles apresentaram propostas, fizeram promessas aos cidadãos, trocaram farpas e tiveram de responder perguntas incômodas. O debate promovido pelo Correio Braziliense mobilizou o meio político, eleitores e entidades representativas da sociedade civil, que acompanharam o confronto de ideias ao vivo pela TV Brasília e pelas redes sociais. A hashtag #DebateCorreio ocupou a lista dos cinco assuntos mais mencionados no Twitter em todo o país, ao longo de boa parte do evento.

Alberto Fraga (DEM), Eliana Pedrosa (Pros), Fátima Sousa (PSol), Ibaneis Rocha (MDB), Júlio Miragaya (PT), Rodrigo Rollemberg (PSB) e Rogério Rosso (PSD) participaram do encontro. O jornal convidou para o debate os políticos filiados a partidos com pelo menos cinco representantes no Congresso Nacional — como obriga a legislação eleitoral.

Saúde e segurança pública foram os temas mais abordados durante o encontro. Apesar de representar uma das maiores preocupações dos brasilienses, a educação e seus problemas ficaram de fora da maioria dos discursos. O pagamento de reajustes a servidores públicos e a atuação da Agência de Fiscalização do DF (Agefis) no controle de invasões geraram polêmica e troca de acusações.

O clima ficou tenso em alguns momentos do debate e um bate-boca entre Rollemberg e Rosso gerou pedido de direito de resposta, concedido ao governador. O candidato à reeleição foi o alvo principal dos adversários, que questionaram duramente a atual gestão. Concorrentes de esquerda e de direita dispararam críticas a Rollemberg e o chefe do Executivo subiu o tom para responder aos ataques.

Alguns políticos evitaram ataques mútuos e pareciam fazer dobradinha, ao partilhar considerações amistosas em momentos do encontro. Esquecidos pelos rivais no primeiro bloco de perguntas entre candidatos, Miragaya e Fátima Sousa mantiveram um comportamento cortês entre eles e partilharam da posição em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Eles se aliaram para não dialogar com representantes da esquerda de Brasília”, afirmou o petista.

Temas

A salvaguarda de Lula, aliás, foi o principal tema do discurso de Miragaya. E a representante do PSol destacou sucessivas vezes o fato de que é professora universitária, com atuação na área da saúde. Ibaneis Rocha fez questão de se apresentar como a novidade da política, mas acabou confrontado com o fato de que está filiado a um partido com dezenas de políticos acusados de corrupção. Alberto Fraga, líder da bancada da bala no Congresso Nacional, explorou o tema da segurança. Rollemberg apresentou dados e realizações de seu governo; Eliana fez promessas na área de transporte; e Rosso voltou a prometer aumentos salariais a servidores.

A concessão de aumentos ao funcionalismo gerou o momento de maior tensão do debate. Rollemberg afirmou que as promessas do candidato do PSD para reajustar o contracheque dos servidores custariam ao menos R$ 4 bilhões por ano e disse que as propostas só sairão do papel, se Rosso tiver como secretário de Fazenda “o Papai Noel ou o Mágico de Oz”. O deputado federal não gostou dos comentários. Ele questionou os números apresentados pelo governador e o chamou de “mentiroso”. Na tréplica, Rollemberg mencionou a gestão de Rosso à frente do GDF em 2010, quando ele atuou como governador tampão, após a Operação Caixa de Pandora. “Você não foi capaz de cortar o mato, que alcançou a sua altura e, agora, diz que vai fazer tudo”, criticou. Após o bate-boca, Rollemberg pediu direito de resposta, solicitação deferida pela organização do debate.

No quarto e último bloco, os sete candidatos tiveram dois minutos para as considerações finais. Fraga tentou colar sua imagem a do ex-secretário de Saúde Jofran Frejat, do PR. “Tenho a sorte de ter ao meu lado um dos melhores especialistas na área de saúde, que é o Jofran Frejat. Ele estará ao nosso lado”, disse. Fátima criticou Rollemberg e citou a atuação em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). O governador fez novas promessas e garantiu que vai universalizar o acesso a creches, ampliar a atenção primária na saúde e melhorar a mobilidade urbana.

Ibaneis voltou a apresentar-se como novidade no cenário político, citou casos de feminicídio e defendeu mais ações na área social. Eliana destacou a necessidade de geração de empregos, especialmente para jovens e mulheres. Miragaya aproveitou as considerações finais para associar a sua imagem à proposta de seu partido. “Quem cuida do povo é o PT”, afirmou. Rosso, mais uma vez, criticou o governador e mencionou o alto índice de rejeição de Rollemberg.