O globo, n. 31035, 27/09/2018. País, p. 4
Um presidenciável entre o príncipe e o astronauta
Bruno Abbud
27/09/2018
Bolsonaro diz ser ‘mais simpático’ a Marcos Pontes, e Luiz Philippe faz oferta: ‘Estou disponível’
Na última segundafeira, o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro, disparou uma mensagem para a sua lista de contatos no WhatsApp. Nela, um link levava a uma enquete publicada na página “Bolsonaro Opressor 2.0”, que lançava a seguinte pergunta: “Quem você prefere para ser o vicepresidente do Bolsonaro?”. Logo abaixo, as fotos do astronauta Marcos Pontes e do príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança.
A página tem mais de um milhão de seguidores. Até a tarde de ontem, 9,4 mil tinham votado na enquete: 75% escolheram o príncipe, 25%, o astronauta. A votação, contudo, vai contra a vontade de Bolsonaro:
— Sou muito mais chegado ao astronauta, conheço ele, mas reconheço o valor do príncipe. Com o astronauta já conversei várias vezes pessoalmente. Se for falar em voto, ele agrega a comunidade científica e a garotada no Brasil gosta dele.
Entre idas e vindas e demonstrando alguma indecisão, o presidenciável não descarta a possibilidade de ter o príncipe como vice, opção “extremamente agregadora”:
— No meu círculo de amizade, o pessoal é mais simpático ao príncipe. Eu, particularmente, sou mais simpático ao astronauta, mas não há um fator determinante. Vou ouvir. Se tivesse de decidir hoje, seria o príncipe. É o consenso, até porque traz um civil e evita dois militares na chapa.
Em viagem à Argentina, o príncipe Luiz Philippe, que também administra uma distribuidora de motopeças e é pré-candidato a deputado federal por São Paulo, informou que ainda não recebeu convite:
— Não há proposta feita, mas a internet já está avaliando isso. Cabe às lideranças decidirem. Estou disponível.
Nos Estados Unidos para um ciclo de palestras no Kennedy Space Center, centro de lançamento de foguetes da Nasa, o astronauta Marcos Pontes também aguarda o futuro incerto da chapa de Bolsonaro.
— O que ele (Marcos Pontes) tem conversado comigo é que nunca pensou em ser vice. Ele está como segundo suplente na chapa do Major Olímpio para o Senado e gostaria de participar com ideias no Ministério da Ciência e Tecnologia. Essa é a pretensão dele.
Depois da recusa do senador Magno Malta (PR-ES), que preferiu disputar a reeleição, o nome do general da reserva Augusto Heleno Ribeiro (PRP) surgiu como opção, mas seu partido rejeitou a aliança. Foi a vez de Janaína Paschoal ser cortejada.
Na convenção do PSL, no entanto, Janaína criticou o “pensamento único” de seguidores do presidenciável, o que desagradou a aliados.
— Tem um universo em aberto, nada definido. Só quero, quando for anunciar, ter o nome definitivo para ir pro pau. Não podemos mais apresentar um possível nome e recuar — disse Bolsonaro.
ENCONTRO COM JANAÍNA
Para evitar novo recuo, o deputado analisa sugestões de nomes que recebe de aliados. Ele já cogita a possibilidade de Janaína recusar o posto.
— Dei um toque em várias pessoas — disse Bolsonaro — A nossa lagoa é muito pequena, nós não temos como pescar fora do PSL ou quem não esteja filiado, exceto militar da ativa. As pessoas trazem nomes e eu anoto. Vamos supor que não dê certo com a Janaína, tenho que ter outro nome meio amadurecido.
O deputado federal Marcelo Álvaro Antonio (PSL-MG) também é cotado:
— Dei um toque no Marcos Pontes, no Marcelo Álvaro Antonio, em um oficial-general da ativa e em várias pessoas. Mas no príncipe ainda não — lista o précandidato a presidente.
Na segunda-feira, Bolsonaro deve se encontrar com Janaína em São Paulo. O presidenciável irá à capital paulista para participar do programa Roda Viva, da TV Cultura.
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Bolsonaro vai apoiar deputado condenado
Eduardo Bresciani
27/09/2018
Com eleitorado evangélico, Arolde de Oliveira fará chapa com Flávio
-BRASÍLIA- A família do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) vai apoiar a candidatura ao Senado de Arolde de Oliveira (PSD), condenado no início de mês a devolver recursos aos cofres públicos por desvios que teriam ocorrido em contratos relativos aos Jogos Panamericanos do Rio de 2007. A informação sobre a aliança foi publicada pela colunista Berenice Seara, do Extra, e celebrada nas redes sociais de Flávio Bolsonaro, que fará dobradinha com Arolde na disputa ao Senado.
“Por identificação políticoideológica, sinto-me honrado de caminhar com @AroldeOliveira”, escreveu Flávio Bolsonaro em seu Twitter.
O deputado é sócio de uma rádio evangélica e tem seu eleitorado majoritariamente nesse segmento. Também já foi ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje preso.
Arolde foi secretário municipal de Transportes durante o Pan. Fiscalização do Tribunal de Contas do Município apontou que uma parte dos serviços contratados pela pasta para o evento não teria sido efetivamente prestada. Ele foi condenado no dia 3 de julho deste ano pelo juiz Sergio Roberto Emilio Louzada, da 2ª Vara de Fazenda Pública do Rio, a ressarcir R$ 21,9 milhões aos cofres da prefeitura junto com quatro fiscais dos contratos, todos nomeados por Arolde.
Ele argumenta que não participou da licitação para a contratação das empresas, nem da assinatura dos contratos. Afirma ter sido condenado por ter atrasado “em poucos dias” a criação de uma comissão para fiscalizar os contratos. Ressalta que a culpa pelo atraso seria de outra secretaria municipal, a da Fazenda. O parlamentar sustenta que a denúncia é “vazia”, que o juiz “não ouviu a defesa” e que vai recorrer ao Tribunal de Justiça do Rio por ser vítima do que chama de “caça às bruxas”.
— É uma tentativa de desconstruir uma imagem construída ao longo de 36 anos de vida pública. Esse é o único foco — disse Arolde de Oliveira ao GLOBO.