O globo, n. 31029, 21/07/2018. País, p. 4
Bolsonaro quer Janaína Paschoal como vice
Marco Grillo
Maiá Menezes
Thiago Prado
21/07/2018
‘Vai ser a dupla Já-Já’, anuncia o pré-candidato do PSL, garantindo que a advogada ‘deu o sinal verde’
A advogada Janaína Paschoal, professora de Direito da USP, está perto de ser anunciada como candidata a vice na chapa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). Os dois se falaram por telefone na quintafeira, e Janaína deve vir hoje ao Rio para conversar pessoalmente com o pré-candidato — será a primeira vez em que Bolsonaro e a advogada vão se encontrar. Caso as negociações avancem, a parceria será anunciada oficialmente na manhã de domingo, durante a convenção nacional do PSL. O próprio pré-candidato antecipou as informações ao GLOBO na tarde de ontem.
Janaína se tornou conhecida por ser uma das autoras do parecer que embasou o pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
— O meu sentimento é que ela (Janaína) está com vontade de ajudar a transformar o Brasil. Estamos “namorando” por telefone. Ela deu sinal verde e deve vir ao Rio amanhã (sábado) e, provavelmente, no domingo estará na convenção. Pode acontecer de anunciar (a chapa) lá. Vai ser a dupla Já-Já — disse Bolsonaro.
Janaína se filiou ao PSL em abril, no limite do prazo que tornaria possível uma candidatura este ano. Ela foi convidada pelo deputado Major Olímpio (PSL-SP), presidente do partido em São Paulo, a concorrer ao governo do estado, mas recusou e passou a estudar uma candidatura a deputada estadual. Na quinta-feira, o presidente nacional do PSL, Gustavo Bebianno, esteve em São Paulo e conversou com a advogada.
“ELA TEM SUSTÂNCIA”
Bolsonaro afirmou que não conhece Janaína “olho no olho”, e que só a via passando na Câmara durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Questionado sobre qual o sentido de convidar para vice em sua chapa alguém que nem conhece pessoalmente, desdenhou:
— Tenho informações de terceiros e a referência do trabalho dela no impeachment.
O pré-candidato do PSL disse que a presença de Janaína ao seu lado agregaria “muita coisa”, mas citou apenas a “honestidade” como um fator. Perguntado se o fato de ter uma mulher na chapa contribuiria para a escolha, afirmou que para ele isso não conta:
— Sempre falei que pra mim tanto faz ser homem, mulher, afrodescendente, gay... Tem que ter ‘sustância’. Ela tem ‘sustância’, tem garra.
Antes de Janaína, Bolsonaro convidou o senador Magno Malta (PR-ES) para o posto de vice. Malta, no entanto, preferiu disputar a reeleição ao Senado. As negociações entre PSL e PR naufragaram depois, porque o PR exigia uma contrapartida de coligação na eleição para deputado no Rio e em São Paulo, o que o partido de Bolsonaro não considerou vantajoso.
“PERSONALIDADES FORTES”
Dias depois, as tratativas se voltaram para o general Augusto Heleno (PRP), que chegou a aceitar o convite. Neste caso, no entanto, a aliança foi barrada pela direção nacional do PRP. Bolsonaro também descartou a possibilidade de o vice ser o general Hamilton Mourão, que se filiou este ano ao PRTB, partido do presidenciável Levy Fidélix.
Procurada, Janaína não respondeu ao GLOBO. Na quinta-feira, em entrevista à Rádio Eldorado, de São Paulo, Janaína disse que não fora procurada por Bolsonaro, mas que após a desistência do PRP de fazer aliança com o PSL, o que possibilitaria a candidatura do general Augusto Heleno como vice, seu telefone não parou de tocar, com as pessoas pedindo para que ela aceitasse um convite para concorrer ao lado de Bolsonaro.
Segundo Janaína, ela e Bolsonaro têm personalidades fortes, o que pode contribuir para promover as mudanças que o país precisaria.
— Se essa dupla não consegue mudar o Brasil, ninguém consegue, são duas pessoas de personalidade muito forte. Não conheço ninguém que ame mais o Brasil do que eu. Para o país, seria algo significativo — afirmou na entrevista para a rádio.
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Letícia Fernandes
21/07/2018
Bolsonaro ensina menina a reproduzir revólver com as mãos, e gesto causa indignação. Aliado diz que uso dos dedos simboliza ‘ser cristão e patriota’; Presidenciáveis repudiam imagem e defendem que crianças não sejam submetidas a violências
Um vídeo do pré-candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro, gravado em Goiânia na quinta-feira, mostra o aspirante ao Palácio do Planalto ensinando uma criança a fazer o gesto de uma arma com as mãos. As imagens geraram polêmica nas redes sociais. Em cima de um carro de som, enquanto discursava a simpatizantes, Bolsonaro segura no colo uma menina e a auxilia, com um largo sorriso no rosto, a usar os dedos polegar e indicador para simular que segurava uma arma em suas mãos. Em seguida, ele também faz o gesto.
Ao GLOBO, o deputado delegado Waldir (PSL-GO), que acompanhava o pré-candidato na agenda em seu reduto eleitoral, disse que a criança foi entregue a Bolsonaro pelos pais, que teriam pedido a ele para fazerem o símbolo.
Segundo o aliado de Bolsonaro, “para as pessoas de bem” o gesto não significa uma arma. O deputado afirmou ainda que o gesto simboliza “ser cristão”.
— Tem que fazer a distinção. Para as pessoas de bem, (o gesto) é coragem, honestidade, ser patriota. Mas para o bandido pode ser uma arma — disse.
Waldir reivindicou para si a popularização do gesto, mas tentou refutar que o intuito de Bolsonaro fosse simbolizar uma arma:
— Uso os dedos, é uma marca registrada minha. É um símbolo de ser cristão, de ser patriota, mas se alguém está tentando traduzir isso como uma arma, as pessoas estão equivocadas.
Presidenciáveis criticaram a atitude de Bolsonaro.
A pré-candidata da Rede, Marina Silva, disse que ficou “estarrecida” com as imagens, sem, no entanto, citar Bolsonaro diretamente. “Como mãe e professora, fiquei estarrecida ao ver um candidato ensinar uma criança a fazer gesto de revólver com as mãos. As mãos de uma criança devem ser treinadas para pegar em lápis e caderno, e jamais em armas”, escreveu a pré-candidata, em sua conta no Twitter.
Presidenciável do PCdoB, Manuela D'Ávila afirmou que sonha com um país “em que nenhuma criança seja submetida a violências”.
“O inominável fez, na mão de um ser ainda tão indefeso, o gesto de uma arma. O Brasil que eu sonho viver é aquele em que nenhuma criança seja submetida a violências. Em que a educação forme brasileirinhos para a paz. A imagem é tão violenta que o sorriso do inominável deve ser apenas um deboche” registrou Manuela, também em post no Twitter.
Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL ao Palácio do Planalto, também criticou Bolsonaro, e afirmou sentir “nojo” das imagens. Boulos considera o ex-capitão um “adversário do Brasil”, e não apenas um concorrente eleitoral. “Bolsonaro em Goiânia pegou uma criança no colo e incentivou gesto simbólico de uma arma empunhada. Eu, como pai, sinto nojo e lamento uma pessoa dessa estar solta por aí destilando ódio. Bolsonaro não é um adversário eleitoral, é adversário do Brasil”, escreveu.
Procurado pelo GLOBO, Bolsonaro não respondeu aos pedidos de esclarecimento. O gesto com as mãos, imitando uma arma, tornou-se tradicional no Congresso durante reuniões da chamada bancada da bala, da qual Bolsonaro orgulha-se de ser um dos expoentes.
Em março, quando se filiou ao PSL, Bolsonaro afirmou que faria campanha nessas eleições para tentar levar um maior número de policiais e integrantes das Forças Armadas para o Congresso. Esses novos deputados formariam, nas palavras dele, a “bancada da metralhadora”.
— A bancada da bala, chamada assim de forma jocosa, vai se transformar na bancada da metralhadora. A metralhadora que vai defender a vida de cada um de nós e a liberdade desse povo, a liberdade do nosso Brasil — disse Bolsonaro.
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PSC oficializa Paulo Rabello de Castro candidato à Presidência
21/07/2018
Economista foi presidente do BNDES e do IBGE no governo Temer
O PSC oficializou ontem, durante a convenção nacional do partido, a candidatura do economista Paulo Rabello de Castro à Presidência da República. O partido ainda não fechou o nome do candidato a vice na chapa.
— Nós representamos o melhor futuro para o nosso país a partir de 1º de janeiro de 2019. Este é o início de um esforço para eleger o próximo presidente da República e também a maior bancada que o PSC já teve na Câmara dos Deputados e no Senado — disse Paulo Rabello, na convenção.
O economista tem 69 anos e foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) durante o governo de Michel Temer.
O presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo, destacou a candidatura de Rabello e disse que o partido apresenta “não apenas um nome, mas um projeto de Brasil”.
— Cremos que a nossa proposta é a melhor para tirar nosso país da crise que aflige nosso povo — afirmou.
Em março, na despedida do cargo, o então presidente do BNDES criticou a equipe econômica do governo do presidente Michel Temer. Ele disse que os desembolsos do banco devem somar R$ 210 bilhões em 2018, mas apenas R$ 80 bilhões para o setor produtivo. Ou seja, R$ 130 bilhões ficarão para o Tesouro Nacional. Ao longo de todo ano passado, o economista trocou farpas públicas com a Fazenda sobre a devolução antecipada de R$ 130 bilhões à União.
— Vou brincar com vocês porque não resisto à piada. Serão R$ 210 bilhões (de desembolso), sendo R$ 80 bilhões para as atividades produtivas do Brasil e R$ 130 bilhões para serem esterilizados pelo Tesouro Nacional. O banco está batendo a meta dos R$ 190 bilhões desembolsados em 2013, mas de uma maneira que os brasileiros vão dizer se é pior ou melhor. Muita gente no neoliberalismo brasileiro bate palmas para o fato de que, agora sim, o banco está cumprindo seus objetivos — disse Paulo Rabello.
LEVI FIDELIX COTADO PARA VICE
O candidato do PSC afirmou que tem um programa de governo com 20 metas, inspirado no lema do ex-presidente Juscelino Kubitschek: avançar “50 anos em 5”.
Um dos nomes cotados para vice na chapa de Rabello é o de Levi Fidelix (PRTB), que participou da convenção.