Correio braziliense, n. 20167, 08/08/2018. Política, p. 3

 

Munição no horário eleitoral

Rodolfo Costa

08/08/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Candidatos com mais tempo na TV se preparam para trocar fogo durante propaganda. Tendência é isolar Bolsonaro

Petistas e tucanos estão preparando as munições para a guerra no horário eleitoral. As coligações montadas por PSDB e PT garantem a ambas as legendas os maiores espaços na propaganda gratuita no rádio e televisão, que se inicia em 31 de agosto. Os petistas apostam na retórica de que os adversários são a continuidade do governo Michel Temer. Os tucanos, por sua vez, vão defender que a crise econômica foi construída nos 13 anos dos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma.

O horário eleitoral foi reduzido de 45 para 35 dias. Uma semana e três dias a menos para trabalhar o convencimento ou uma peça publicitária diferente, reconhece o deputado Carlos Zarattini (PT-SP). “Isso implica na campanha, mas vamos otimizar os esforços para termos boas possibilidades de vitória”, destacou.

A estratégia petista com as 26 inserções diárias e os 2 minutos e 22 segundos em cada bloco terá duas frentes. Uma é recuperar o histórico das gestões petistas de Lula. O de um governo preocupado com emprego, distribuição e igualdade de renda.

O mote principal, contudo, será voltado para atacar a coligação montada por PSDB, que inclui o centrão. A ideia é vincular a imagem da coalizão tucana como um grupo que entrega o pré-sal e apoiou a reforma trabalhista.

A tática tucana vai na mesma linha de confronto. Com 62 inserções diárias e 5 minutos e 32 segundos em cada bloco do horário eleitoral, a ideia é construir uma narrativa que mostre o PT como o responsável pela crise econômica, sustentada em uma imagem petista vinculada ao populismo. Os cerca de 45% do tempo de televisão são vistos pelos tucanos como suficientes para desconstruir a retórica adversária e mostrar como uma gestão comandada por Geraldo Alckmin pode recolocar o Brasil nos trilhos, explica o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), primeiro vice-líder da legenda na Câmara. “Vamos ter a possibilidade de recontar a história. E o PT terá menos tempo que nós para contra-atacar.”

Sem muitos minutos de televisão, as legendas acreditam que Jair Bolsonaro, do PSL, pode desidratar. “Ele vai sumir deste debate”, disse Gomes. A estratégia do PT e do PSDB será voltada para o confronto direto entre ambos. Para o cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a estratégia não é equivocada. “Não acredito que escolherão Bolsonaro como um rival. Quanto menos comentarem, mais isolado ele ficará em termos comunicativos. A estratégia das legendas é polarizar o debate e deixar Bolsonaro de lado, para desaparecer no horário de televisão.”

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Mercado em polvorosa

Vicente Nunes

08/08/2018

 

 

Uma série de boatos sobre delações contra o presidencial do PSDB, Geraldo Alckmin, provocou nervosismo no mercado financeiro ontem. Os rumores indicavam que Laurence Casagrande Lourenço, ex-secretário de Transportes de São Paulo e ex-presidente da Dersa, teria fechado acordo para dizer o que sabe. Ele poderia complicar Alckmin.

Os boatos surgiram logo após a hora do almoço. Por volta das 14h30, o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas na Bolsa paulista, apontava alta de quase 0,5%. Tão logo os rumores ganharam corpo, o Ibovespa desabou, chegando a cravar perdas superiores a 1%. Encerrou o dia nos 80.347 pontos, com baixa de 0,87%.

O dólar, que operava praticamente estável, acabou ganhando força com os boatos e fechou as negociações cotado a R$ 3,77, com alta de 0,91. Os analistas dizem que esses movimentos serão cada vez mais comuns daqui por diante, por causa das incertezas eleitorais. O mercado será um terreno fértil para boatos.

A equipe de Alckmin negou qualquer envolvimento dele em delações. Segundo assessores do tucano, ele passou boa parte da tarde gravando, tranquilamente, programas que serão veiculados durante a campanha de televisão. Alckmin tem declarado, reiteradamente, que não tem nada a temer em relação a Laurence Casagrande, que está preso desde 21 de junho.

A Polícia Federal vê “responsabilidade criminal” de Laurence Casagrande em fraudes nas obras do Trecho Norte do Rodoanel. Em um relatório de 113 páginas, a PF ressalta que houve desvios e sobrepreços de até R$ 131 milhões no empreendimento. O ex-secretário e ex-presidente da Dersa foi preso no âmbito da Operação Pedra no Caminho, braço da Lava-Jato em São Paulo.

Em nota enviada ao Blog do Vicente, a defesa de Laurence Casagrande diz que “é absolutamente mentiroso o boato segundo o qual ele estaria pensando em fazer delação premiada”. O advogado Eduardo Carnelós afirma “que Laurence não é delator, nem teria como se transformar em um, pela simples e contundente razão de que nunca praticou nenhum crime, e, por isso, nada teria a apresentar a respeito disso, muito menos algo que envolvesse o ex-governador Alckmin”.

O advogado ressalta ainda que, “como se já não bastasse a violência contra Laurence, que se encontra ilegal e injustamente preso desde o dia 21 de junho deste ano, a informação ‘vazada’ de que ele estaria pensando ou negociando uma delação premiada impõe ainda mais prejuízo à sua imagem, ao atribuir a ele a condição de delator, o que constitui mentira nojenta que deve ser rechaçada”.