Correio braziliense, n. 20220, 30/09/2018. Brasil, p. 8

 

Mulheres protestam contra Bolsonaro

Rodolfo Costa

30/09/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Movimento #Elenão extrapola as redes sociais e toma as ruas. Manifestação ocorreu nas 27 unidades da Federação. No DF, 40 mil pessoas, segundo organizadores, participaram da caminhada. Em 16 estados, eleitores pró-candidato se uniram para apoiá-lo

O calor sufocante, que chegou a 39ºC em Teresina, e 35,7ºC em Brasília, com umidade a 25%, não impediu que milhares de pessoas aderissem ao movimento #Elenão, convocado nas redes sociais por grupos de mulheres contra Jair Bolsonaro. No mesmo dia em que o candidato do PSL à Presidência da República deixou o Hospital Sírio-libanês, em São Paulo, houve manifestações nas 27 unidades da Federação. Diversas cidades no exterior também organizaram manifestos.

Embora muitas pessoas empunhassem bandeiras de partidos políticos, os atos foram suprapartidários. Em Brasília, 7 mil marcaram presença no auge do protesto, segundo informações da Polícia Militar (PM). A organização do ato, que começou às 15h, no entanto, estima que 40 mil da Rodoviária do Plano Piloto à Torre de Tevê. O sentimento partilhado pelos manifestantes era de repúdio ao presidenciável que, para eles, representa um retrocesso à democracia. No carro de som, uma releitura da música Ela é Top, do MC Bola: “Ele é fascista. Ele é machista. Ele mente, ele é racista. É sem controle, não sabe dialogar. Com discurso limitado não serve nem para governar”.

Discursos de ódio, a exemplo do que Bolsonaro disse em 2016, ao afirmar em entrevista que o “erro da ditadura foi torturar e não matar”, pesam contra o candidato. Posições polêmicas, machistas e homofóbicas também refletem a contrariedade dos manifestantes. “Achar que vai ganhar por ser mais forte vai contra todas as correntes democráticas. Desde a redemocratização, nunca vi uma situação de um presidenciável com discursos reacionários”, disse o engenheiro agrônomo Rogério Dias, 61 anos.

O ato foi avaliado pelos manifestantes como uma prova do poder das mulheres nas eleições. Formada em relações internacionais,  Roberta Ataídes, 32 anos, afirmou que o protesto pode ser determinante para o processo eleitoral. “Acho que vai ser decisivo. Teremos um cenário antes desse ato e outro, depois. Diante da nossa força, ele vai enfraquecer. Mulheres têm de ser consideradas em todas as esferas e demos a prova de que o discurso dele não condiz com o poder da mulher. Força que vai mostrar que não somos quem ele acha que somos”, avaliou.

As mulheres despontam nas pesquisas como as mais indecisas no atual processo eleitoral. Para Roberta, esse quadro deve mudar nas próximas pesquisas. “Acho que mostramos que, ou os candidatos vão junto conosco, ou ficam para trás. Nós somos maioria e vamos decidir a eleição. A falta de empatia, o ódio e a misoginia não prevalecerão”, declarou.

Defesa

Em São Paulo, uma multidão se reuniu no Largo do Batata para protestar contra Bolsonaro, em um ato que contou com a presença dos presidenciáveis Guilherme Boulos (PSol) e Marina Silva (Rede). A PM não fez estimativa do número de participantes, mas as imagens mostram milhares de pessoas na concentração.

O Rio de Janeiro também foi palco de protestos. Na Cinelândia, homens e mulheres começaram o ato às 14h20, entoando o Hino Nacional, seguido pela oração do Pai Nosso. “Somos um movimento de paz e harmonia”, afirmou, do alto de um carro de som, uma das líderes do movimento.

Em 16 estados, houve manifestações pró-Bolsonaro. No Rio, algumas dezenas de apoiadores se concentraram na Praia de Copacabana e na Barra da Tijuca. Na capital paulista, os favoráveis a Bolsonaro se reuniram em frente ao Estádio do Pacaembu, de onde saíram em carreata pelo centro da cidade. O verde e o amarelo marcaram os atos de apoio.

Em Jaguariúna, no interior de São Paulo, a manifestação em favor do candidato do PSL contou com a participação de um dos filhos do capitão reformado.

Também houve carreata em Vitória. Motoristas fizeram ato a favor do peesselista em Erechin (RS). Motociclistas organizaram, em Rio Verde (GO), uma carreata que reuniu 3 mil veículos, segundo os organizadores. Em Teresina (PI), 30 eleitores favoráveis ao candidato foram à Praça Rio Branco e, em Palmas (TO), um número não divulgado de participantes ocupou as ruas.

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No exterior, atos em 63 cidades

Paloma Oliveto

30/09/2018

 

 

Os batuques ganharam as praças de diversas localidades do mundo, onde os movimentos Mulheres no Exterior contra Bolsonaro e Brasileiras no Exterior contra Bolsonaro organizaram manifestações contrárias ao candidato do PSL. Em ao menos 63 cidades, entre elas Paris, Bruxelas, Viena, Boston, Lisboa, Dublin, Genebra, Montreal, Munique, Roma, Barcelona, Londres, Budapeste, Helsinque, Beirute, Santiago do Chile e Auckland, brasileiros e estrangeiros fizeram barulho e empunharam cartazes com as frases #EleNão e #EleNunca, que caracterizam os atos contra o presidenciável.

“Não ao fascismo”, gritaram dezenas de pessoas em Beirute, no Líbano. “Somos mulheres, a resistência de um Brasil sem fascismo e horror, vamos à luta para derrotar o ódio e pregar o amor”, cantavam as mulheres na Praça de Itália, em Santiago do Chile. Na Praça da República, em Paris, a manifestação que reuniu centenas teve apoio da Aliança das Mulheres pela Democracia e, em Gotemburgo, na Suécia, foi marcada por cartazes com dizeres como “Candidato machista e homofóbico não me representa”. Segundo os movimentos, em nenhum local houve confusão. Nas páginas das organizadoras, porém, muitos simpatizantes de Jair Bolsonaro deixaram críticas, principalmente questionando o direito ao manifesto de pessoas que não vivem no Brasil.

Em Lisboa há 11 meses para cursar doutorado, uma das idealizadoras do Brasileiras no Exterior contra Bolsonaro disse que, em menos de 10 dias de criação da página, 1,7 mil pessoas já haviam curtido o perfil no Facebook. “Fui tomada pelo sentimento de pertencimento, isso é, a crença subjetiva numa origem comum que une indivíduos distintos. Sou mulher, somos brasileiras. E esse sentimento também está presente em todas as brasileiras espalhadas pelo mundo”, afirmou Beth Olegário, 31 anos.

Ela conta que foi inspirada pelo Mulheres contra Bolsonaro. “Senti vontade de me irmanar com as mulheres que estão no Brasil. Senti a vontade de somar nessa luta. Porque sou mulher, sou brasileira, sou nordestina. Ao ver o movimento, pensei que uma ação conjunta das mulheres que estão fora do Brasil poderia ser não só uma forma de dizer que essa luta também é nossa, mas uma forma de denunciar o que tem acontecido no Brasil.” De acordo com Beth Olegário, o apoio dos portugueses tem sido grande. “O povo português sabe bem o que é viver o fascismo.”

Os simpatizantes de Jair Bolsonaro que vivem no exterior fizeram manifestação a favor do candidato do PSL em Miami, no Bayfront Park, onde dezenas de pessoas deram as mãos em um círculo. “Queremos mostrar que queremos mudar, que queremos um presidente que seja favorável à família, estamos acreditando em seu projeto para o Brasil”, afirmou ao site Achei USA a organizadora, Larissa Martins.