O Estado de São Paulo, n.4559 , 15/08/2018. Metrópole, p.16

6 EM CADA 10 CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO PAÍS VIVEM NA POBREZA, DIZ ESTUDO

 

 

 

 

 Recorte capturado

 

Retratos do Brasil.  Unicef aponta que 6 milhões são de famílias sem renda para comprar cesta básica; outros 12 milhões enfrentam esse problema aliado a outras privações (como saneamento e educação); 14 milhões possuem condição financeira, mas têm direitos negados

 

Ligia Formenti / BRASÍLIA

 

Estudo divulgado ontem pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que 6 em 10 crianças e adolescentes no País vivem na pobreza – seja por condição financeira ou privação de direitos. Além da renda familiar, foi avaliado o acesso a informação, educação, proteção contra o trabalho infantil, moradia e saneamento.

Feito com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2015, o estudo concluiu que, na última década, houve redução da chamada “pobreza monetária” na infância e na adolescência no País, mas as múltiplas privações não acompanham essa diminuição. Ao todo, 32 milhões de meninas e meninos vivem na pobreza em suas múltiplas dimensões.

Para se ter uma ideia, 6 milhões vivem em famílias cuja renda não é suficiente para comprar cesta básica. Outros 12 milhões têm, além da pobreza, outro direito negado, seja ele saneamento, acesso à educação ou à informação – o que pesquisadores denominam privação múltipla. Há ainda outros 14 milhões que, embora vivam em famílias com renda suficiente para adquirir cestas básicas, vivem em situação de privação, com mais de um direito negado.

Também há diferenças nas privações de direitos, de acordo com o grupo analisado. Moradores da zona rural, por exemplo, têm mais direitos negados do que os da zona urbana. Negros e moradores das Regiões Norte e Nordeste enfrentam mais privações se comparados a brancos e moradores de Sul e Sudeste.

Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil, observa que a pobreza multidimensional é um risco para o País. “Sem desenvolvimento pleno, com lacunas da educação, a mão de obra também não será qualificada, prejudicando a economia.” E o fenômeno não está restrito ao País, como destaca Liliana Chopitea, coordenadora da Área de Políticas Sociais do fundo no Brasil. “Crianças têm risco maior de viver na pobreza do que adultos, o que pode afetar economias e gerações futuras.”

Diante desse quadro, há um compromisso internacional (do qual o País é signatário) para reduzir à metade a pobreza, em todas as suas dimensões, de mulheres, homens e crianças até 2030. “Mas a pesquisa nos mostra que, na prática, são pífios, em 2018, os índices de direitos por nós garantidos. Somos excelentes em discursar e escrever em nossas leis os melhores princípios e melhores regras de conduta que não cumprimos”, alerta o procurador federal aposentado Edson Seda, um dos redatores do Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990.

Para Florence, é cedo ainda para dizer se o Brasil atingirá a meta. Mas observa que, para melhorar os indicadores, é preciso não só mais verba, mas planejar bem os orçamentos. Na sua avaliação, estudos ajudam a ver quais as prioridades, identificar as desigualdades e, a partir daí, traçar estratégias de melhoria.

 

Poder público. O Ministério da Educação disse que não analisou o estudo de forma detalhada, e por isso não comentaria. Procurados, o governo federal e o Ministério das Cidades não se manifestaram até as 20 horas./ COLABOROU PAULA FELIX

 

INFÂNCIA

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