O globo, n. 31100, 30/09/2015. País, p. 17

 

Um fim de semana na mansão de Sérgio Cabral

Juliana Castro

30/09/2018

 

 

Arrematada por comprador misterioso há duas semanas, casa de Mangaratiba deve ser colocada no mercado para aluguel por temporadas; leilão concedeu redução de pena ao ex-governador e à ex-primeira dama Adriana Ancelmo

Quem quiser aproveitar o luxo de que desfrutavam Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo em sua mansão em Mangaratiba já pode se candidatar: a casa estará no mercado, disponível para aluguel por temporada, no melhor esquema tipo Airbnb. O leilão dos bens do ex-governador e de sua mulher, no último dia 13, quase terminou sem nenhum lance, até que um misterioso empresário do ramo imobiliário resolveu comprar o imóvel, nos últimos minutos.

O novo dono da mansão — um morador do Rio de cerca de 55 anos —quer distância dos holofotes. Enviou ao leilão um representante, com quem assinou contrato de confidencialidade. Dos R$ 6,4 milhões que ele desembolsará, 25% têm que ser pagos à vista, e o restante pode ser dividido em até 30 vezes.

EM BUSCA DE LOCATÁRIOS

A própria empresa que auxiliou o empresário no leilão deve trabalhar na captação de locatários, inclusive do exterior. O imóvel de 462 metros quadrados e cinco suítes fica no Condomínio Portobello, um dos mais luxuosos do Sul Fluminense e onde outros tantos investigados da Lava-Jato tinham casas. Antes do negócio, o comprador e seus representantes não tinham visitado a mansão. A ida a Mangaratiba acontecerá apenas após o mandado de emissão na posse pelo juiz Marcelo Bretas, que não sai no nome do empresário, mas do representante.

Depois do leilão, uma pessoa que não tinha relação com a compra tentou se passar por comprador do imóvel, mas foi barrada pela segurança do condomínio. Após o imóvel ser vendido, Bretas publicou um despacho em que permitiu que os antigos donos retirassem da casa objetos pessoais. A ida de representantes do casal ao imóvel aconteceu na última sexta, segundo pessoas que frequentam o condomínio. Na mansão, ainda havia fotografias, roupas, livros, quadros e outros pertences da família do ex-governador.

LANCE MÍNIMO

A emissão da posse será repassada ao representante Marcelo Valdigem, da MPVip Investimentos Imobiliários, que não esboçou qualquer reação quando o leiloeiro Renato Guedes ofereceu a casa de Mangaratiba como primeiro item. O leilão seguiu, e três automóveis de Cabral e Adriana, além de imóveis e relógios de dois envolvidos na Lava-Jato, foram arrematados. O certame ficou aberto por mais alguns minutos. Quando a impressão era a de que o martelo do leiloeiro não soaria mais, o representante do comprador começou a cochichar com Guedes.

Ele tinha interesse pelo imóvel, mas queria pagar menos. A ideia era fazer uma proposta com um valor menor, mas, no fim das contas, deu o lance mínimo de R$ 6,4 milhões.

O leilão da casa de Mangaratiba e de outros bens de Cabral e Adriana foi autorizado pelo juiz Bretas no ano passado, mas suspenso pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e remarcado depois que o casal abriu mão dos bens para a Justiça, o que possibilitou uma redução nas penas no processo em que foram condenados por receber propina do empresário Eike Batista. Adriana foi condenada a quatro anos e seis meses por corrupção passiva. O juiz imputou a ela também outros quatro anos por lavagem de dinheiro.

No entanto, Bretas levou em conta o fato de ela ter renunciado ao patrimônio e retirou essa parte da condenação. No caso de Cabral, a pena total ficou em 22 anos e oito meses. Assim como para Adriana, a redução de pena para o ex-governador veio no crime de lavagem de dinheiro. Ao levar a entrega do patrimônio em conta, o juiz diminuiu a pena deste crime em dois terços.