Correio braziliense, n. 20251, 31/10/2018. Brasil, p. 7

 

Emendas não resolvem reconstrução do Museu

Otávio Augusto

31/10/2018

 

 

SOCIEDADE » Compromisso de parlamentares de destinarem verba para obras não melhora a situação da instituição, que precisa de R$ 56 milhões para iniciar os trabalhos. Orçamento deficitário impediu adoção de medidas contra incêndio

Para garantir o início das obras de reconstrução do Museu Nacional do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) precisa de, ao menos, R$ 56 milhões. Com um orçamento deficitário, os dirigentes da instituição estão em romaria em busca de dinheiro. Até o momento, conseguiram a sinalização de 21 deputados, a maioria fluminense, para a destinação de R$ 250 mil em emendas individuais.

Em mais uma tentativa de comover parlamentares, Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, participou ontem de audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Prestes a completar dois meses, pesquisadores ainda tentam dimensionar a tragédia de 2 de setembro, quando seis horas de fogo consumiram dois séculos de história.

Passado o abalo do incêndio, Kellner começa a admitir o despreparo para garantir a segurança e preservação do local. Segundo ele, o museu tem receita de pouco mais de R$ 6 milhões por ano. Mas, para atender as demandas, precisaria de R$ 13 milhões. Somente o custeio de brigadistas custaria R$ 1,1 milhão: o dobro do que a instituição tem disponível.

“Faltava muita coisa no Museu Nacional. Tínhamos o básico, como extintor de incêndio. Faltava o projeto para controlar um eventual incêndio, havia essa dificuldade, porque o prédio é tombado. Tínhamos consciência da falta de dispositivos para combater um incêndio”, destacou.

Agora, o desafio é arrecadar fundos para iniciar as obras do prédio e de recuperação do que sobrou do acervo, que teve 90% de seu total queimado. “Estamos elaborando um projeto para que defina o que será o novo museu. No fim de 2019, pretende-se contratar a empresa que fará a reconstrução. Precisamos ter um planejamento que possibilite manter e cuidar de um largo acervo. Museus científicos e, sobretudo, os vinculados estão esquecidos no orçamento. Não há recursos para investimentos e prevenção”, explicou o reitor da UFRJ, Roberto Leher.

A ministra interina da Cultura, Cláudia Pedrozo, destacou, durante a audiência, que apesar de apoiar a reconstrução, não faz parte da gestão da pasta angariar recursos. “O processo de captação não acontece na gestão do ministério ou com a gerência dele. Contudo, existe a previsão de contratação de um profissional especializado em captação de recursos. Somos sócios do sucesso e parceiros de soluções para o museu”, adiantou.

Ajuda

Um dos parlamentares que se comprometeram em destinar emendas é Alessandro Molon (Rede-RJ). Ontem, ele fez um apelo para que mais deputados ajudem. “Essa é uma tragédia sem precedentes no Brasil. Foi uma perda de patrimônio incalculável. Devemos pensar as razões que nos levaram aquilo. O que houve antes para que aquilo acontecesse. Esse debate foi negligenciado. Temos de reduzir os estragos e fazer o máximo para recuperar”, pediu.

Chico Alencar (PSol-RJ) adotou o mesmo discurso. Ele ainda criticou a invisibilidade orçamentária da cultura. “Vejo com alegria que a reconstrução já está em curso, que as atividades educacionais não foram interrompidas. Mas temos de pensar o que levou a essa tragédia e não cometer os mesmos erros”, destacou.

O Museu Nacional do Rio de Janeiro é o mais antigo do país e um dos mais importantes da América Latina. Com acervo de mais de 20 milhões de itens, como coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. No local, estava a maior coleção de múmias egípcias das Américas, e o mais antigo fóssil humano encontrado no continente, o Luzia. No museu, havia ainda o esqueleto do Maxakalisaurus topai, maior dinossauro encontrado no Brasil.