O globo, n. 31077, 07/09/2018. País, p. 6

 

Candidatos, STF e entidades repudiam episódio

Karla Gamba

Carolina Brígido

07/09/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

Presidenciáveis disseram se tratar de crime não só contra o deputado do PSL, mas também contra democracia; Cármen Lúcia manifesta preocupação com ‘garantias e liberdades dos candidatos e eleitores’

Com quatro perfurações nos intestinos, além de uma veia no abdômen atingida, Bolsonaro corre risco de complicações. Em diferentes atos de campanha pelo país, os candidatos à Presidência reagiram ontem com perplexidade e condenaram o atentado sofrido pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), atingido com uma facada no abdômen enquanto percorria ruas de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

Em uníssono, todos os candidatos repudiaram o crime e disseram se tratar de uma violência não só contra o candidato, mas à democracia brasileira. Antes mesmo da identificação de Adélio Bispo de Oliveira como o suspeito de atacar Bolsonaro, os presidenciáveis também já cobravam rigor nas investigações para apurar as motivações do crime, que provocou reação também na classe política.

O candidato a vice na chapa do PT, Fernando Haddad, participava de uma sabatina quando foi informado pela organização do evento sobre o que havia acontecido. Aos entrevistadores, considerou o fato como lastimável e absurdo.

Avisado pelos assessores, Ciro Gomes (PDT) repudiou o que chamou de violência como linguagem político e demonstrou solidariedade a Bolsonaro. Geraldo Alckmin (PSDB) usou sua conta no Twitter para lamentar o episódio, o qual classificou de “deplorável”.

Também engrossando o coro contra a violência na campanha, a candidata à Presidência pela Rede, Marina Silva, disse ser “inadmissível” um candidato sofrer um atentado como o que aconteceu ontem.

Alvaro Dias (Podemos) e Henrique Meirelles (MDB) pregaram o fim da violência, a qual, segundo Dias, não deve ser estimulada.

Também prestaram solidariedade a Bolsonaro os candidatos Guilherme Boulos (PSOL), João Amoedo (Novo), José Maria Eymael (DC), Vera Lúcia (PSTU) , Cabo Daciolo (Patriota) e João Goulart Filho (PPL).

Até a noite de ontem, as campanhas dos candidatos ainda avaliavam se manteriam ou não as agendas oficiais programadas para hoje em diferentes cidades.

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, também se pronunciou logo após o atentado e afirmou que “há que se apurar com celeridade, segurança e com apresentação de resultados o que efetivamente se passou, o responsável e qual a medida jurídica a ser imediatamente adotada”.

Cármen Lúcia manifestou preocupação “com a garantia das liberdades dos candidatos e dos eleitores, qualquer que seja a posição ou ideologia adotada por quem quer que seja”.

Já a presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber, afirmou que o tribunal “repudia toda e qualquer manifestação de violência, seja contra eleitores, seja (contra) candidatos ou em virtude do pleito”.

Maria do Rosário

Rosa Weber acrescentou que é “inaceitável que atitudes extremadas maculem conquista tão importante quan toé a democracia ”.

A OAB emitiu nota, assinada pelo presidente da entidade, Claudio Lamachia, na qual repudia o ato de violência e diz que “a realização das eleições em ambiente saudável depende da serenidade das instituições e militantes políticos”.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se manifestou no Twitter, afirmando que “há tempos” menciona e critica o ódio que se difunde na sociedade: “A facada em Bolsonaro fere a democracia. É inaceitável humana e politicamente”.

No perfil oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Twitter, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, classificou o atentado de lamentável: “Nenhum ato de violência pode ser admitido. A violência não é justificável. Na política, temos que nos ater ao enfrentamento de ideias”.

Até adversários políticos de Bolsonaro, que já tiveram sérios problemas com o candidato na Câmara, como a deputada Maria do Rosário (PT), repudiaram o atentado. A parlamentar, que foi agredida verbalmente por Bolsonaro e o levou a ser condenado no Superior Tribunal de Justiça pelas ofensas, afirmou ser contra a violência “sempre”.

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Alckmin retira propaganda com ataques a adversário

Cristiane Jungblut

Catarina Alencastro

Bruno Góes

Eduardo Bresciani

07/09/2018

 

 

Tucano vinha sendo maior opositor de Bolsonaro; campanhas avaliam que atentado pode beneficiar candidato do PSL

O atentado a Jair Bolsonaro (PSL) fez com que os principais presidenciáveis cancelassem seus compromissos eleitorais. O tucano Geraldo Alckmin decidiu retirar do ar provisoriamente os ataques a Bolsonaro do programa eleitoral e inserções. A iniciativa, segundo um dos coordenadores da campanha, foi tomada no final da tarde de ontem, depois da constatação de que o quadro clínico de Bolso naroémaisg rave doque se pensava. Masa mudança só será sentida nos próximos dias, já que o programa de ontem já fora entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Alckmin vinha sendo o maior opositora Bolso na roem entrevista senas mídias sociais. Na quarta-feira, em visita a Goiânia, Alckmin elevou o tome chamou o candida todo PSL de “despreparado” e disse que a eleição do adversário levaria o Brasil “ao caos”. A cautela foi sugerida à campanha por políticos experientes que participam do núcleo de decisões. A avaliação é que o momento é de moderação.

Embora pontuem que as implicações do atentado sobre a campanha presidencial sejam imprevisíveis, as campanhas de PT, Ciro Gomes (PDT) e Alckmin admitem que Bolsonaro pode se beneficiar eleitoralmente. Membros das campanhas de PT e Ciro avaliam que diante da gravidade do incidente, ele pode sofrer um processo de vitimização evirar uma espécie de mártir. Outro ef ei toé o acirramento maior da polarização entre os adeptos de Bolsonaro, de direita, e os que defendem o ex-presidente Lula, de esquerda. Temem que a consequência seja uma onda de violência.

—O impacto disso só o tempo vai dizer, não tenho como fazer essa análise agora. Mas achoque pode gerar dois tipos de consequências; por um lado a vitimização do Bolsonaro, e de outro lado a radicalização, gerando mais violência, o que é muito perigoso. Infelizmente — afirmou Carlos Lupi, presidente do PDT.

O líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (MT), diz que o atentado deve fortalecer Bolsonaro na disputa eleitoral:

— O Brasil é um país da comoção. Esse tipo de coisa beneficia a vítima. É claro que acaba tendo essa comoção. Ser atacado por alguém da esquerda pelo que ele defende, isso fortalece. É um absurdo essa intolerância.

O PT entende que o atentado será um assunto da campanha eleitoral. Ainda não há uma estratégia definida para lidar com a situação, a não ser condenar a violência.

—É provável que a comoção gerada vá tomar conta da pauta política. Espero que se tire todas as lições. Não apenas sobre a violência física, mas também a verbal — diz Gilberto Carvalho, da campanha do PT.

Na campanha de Marina Silva, a coordenação política evitou prever cenários. Pegos de surpresa, os candidatos ainda discutem como proceder a partir de agora. O presidente do PDT diz que nada vai mudar na estratégia de Ciro.