O globo, n. 31078, 08/09/2018. País, p. 4

 

Em campanha, do hospital

Jussara Soares

Eduardo Bresciani

Vinicius Sassine

Juliana Castro

08/09/2018

 

 

Bolsonaro gravará vídeos, e aliados terão protagonismo;

Flávio disse ontem que o pai dificilmente terá condições de voltar a fazer campanha na rua

Considerado “insubstituível” por seu partido, Bolsonaro terá atuação intensa pela internet. Com o candidato Jair Bolsonaro (PSL) impedido de fazer campanha, após o ataque sofrido em Juiz de Fora (MG) na tarde de quinta-feira, a campanha do líder nas pesquisas de intenção de voto passará por uma transformação. Em uma frente, o presidenciável gravará vídeos no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde está internado. Em outra, o vice, general Hamilton Mourão, os filhos e seus principais aliados o substituirão em eventos públicos. Em boletim divulgado no início da tarde de ontem, o médico Miguel Cendoroglo, diretor-superientendente do Albert Einstein, informou que Bolsonaro encontra-se consciente e em boas condições clínicas. O candidato chegou ao hospital porvol ta das11h, após transferência da Santa Casa de Juiz de Fora, onde ele recebeu os primeiros socorros após recebera facada que provocou lesões no intestino e perfurou aveia me sentá rica. Bolsonaro segue internado na UTI e não tem previsão de alta. Em São Paulo, apoiadores do candidato chegaram a instalar um grande boneco inflável com a imagem de Bolsonaro, que foi retirado em seguida. Na nova estratégia forçada pelo atentado, o general Mourão deve abrir mão da agenda de palestras e eventos fechados e passará a assumir atividades nas quais Bol sonar o estaria presente, porém semas já tradicionais recepções em aeroportos coma presença de apoiadores em massa. O filho Eduardo, candidato à reeleição a deputado federal por São Paulo, intensificará a agenda pública no estado, considerado estratégico pela campanha. O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, anunciou que os próximos compromissos estão cancelados. E reconheceu que não há “substituto”.

— A agenda de viagens está cancelada. A agenda será feita via internet e com vídeos dele (Bolsonaro). Ele é insubstituível —afirmou Bebianno. Na próxima semana, Bolsonaro tinha uma viagem marcada para o Nordeste, onde passaria por Pernambuco, Alagoas e Bahia. Os próximos destinos incluiriam Espírito Santo e Paraná. Em vídeo publicado nas redes sociais, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSLRJ), que disputa vaga ao Senado, disse que seu pai “provavelmente não consegue mais ir para as ruas nessa campanha”. Ele reconheceu que o quadro é “delicado” e se mostrou mais grave do que se imaginava inicialmente. —Pode ter certeza de uma coisa: ele está lá se recuperando, provavelmente não consegue mais ir para ruas nessa campanha. Ele não pode ir às ruas, mas nós podemos — disse Flávio, completando: — É uma campanha que não está sendo fácil e não vai ser fácil. Mas a gente vai continuar indo para rua com a nossa verdade.

Funções de Mourão

O general Mourão já discutiu com outros militares que integram a campanha sua nova função. E foi estimulado a abandonar a agenda de vice. Ele já havia divulgado uma lista de compromissos para a próxima semana. No entanto, na noite de ontem, comunicou que desistiu das atividades que ocorreriam no Paraná e em Manaus. Hoje, o candidato a vice deve visitar o colega de chapa no hospital. —Mourão tinha uma agenda quase independente. Ele atuava num segmento, principalmente com palestras, e Bolsonaro em outro. Agora, vai ser difícil adotar o modelo de campanha que vinha sendo adotado. Num aeroporto, Mourão seria recebido por dez pessoas. Isso (ser recebido por uma grande quantidade de apoiadores) é intransferível de Bolsonaro, que tem muito carisma —afirma o general da reserva do Exército Augusto Heleno, um dos militares mais próximos ao presidenciável, que explicou como será o papel de Mourão daqui para frente: —Quando é apresentação, ele vai no lugar de Bolsonaro. Palestras a empresários, redes de rádios, essas coisas. Se o evento envolve carisma, multidão, ele não vai se expor a isso. Mourão afirmou que, na próxima terça-feira, haverá uma reunião em Brasília para definir a nova estratégia. — Não tem nada fechado. Temos três situações para organizar: uma é a saúde dele, que é nossa prioridade. Em segundo lugar, tem a questão policial, de acompanhar as investigações, para checar se houve outra motivação além da mera maluquice de alguém. E a terceira coisa é reorganizar os dispositivos da campanha —disse Mourão. Presidente do PSL em São Paulo, o deputado Major Olímpio pretende marcar agendas públicas com Mourão. Olímpio destacou, porém, que Eduardo Bolsonaro, candidato à reeleição como deputado federal no estado, deve ter maior visibilidade. Articulador político da campanha, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM) afirmou, ontem, que caberá aos aliados e seguidores continuar a campanha nas ruas. Caso Bolsonaro consiga se recuperar a tempo, Lorenzoni afirmou que ele deve participar dos dois últimos debates: na Record, no dia 30, na TV Globo, em 4 de outubro. — O Jair fez tudo o que tinha que fazer. Bolsonaro deu seu sangue pelo Brasil. Agora quem vai para a rua somos nós. Todos aqueles que querem ver o Brasil mudar. O capitão já fez a parte dele, agora é conosco — disse Lorenzoni.

“A agenda de viagens está cancelada. A agenda será feita via internet e com vídeos dele. Ele é insubstituível”

Gustavo Bebianno, presidente do PSL

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Em vídeo, candidato afirma: 'A morte esteve a 2 milímetros'

08/09/2018

 

 

No Twitter, candidato do PSL à Presidência diz estar bem e se recuperando

“Eu me preparava para um momento como esse porque você corre riscos. Mas, de vez em quando, a gente duvida, né! Será que o ser humano é tão mau assim?”

Jair Bolsonaro (PSL)

Em vídeo divulgado nas redes sociais pelo senador Magno Malta (PR-ES), gravado no fim da noite de anteontem, ainda na UTI da Santa Casa de Juiz de Fora, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) falou pela primeira vez após o ataque que sofreu num ato de campanha na cidade mineira. No vídeo, Bolsonaro afirmou que nunca fez mal a ninguém e que, no momento em que foi esfaqueado, parecia ter levado uma pancada na boca do estômago.

— Até o momento, Deus quis assim. Eu me preparava para um momento como esse porque você corre riscos. Mas, de vez em quando, a gente duvida, né! Será que o ser humano é tão mau assim? Nunca fiz mal a ninguém —afirmou. No vídeo, Malta e os filhos do presidenciável, Eduardo e Flávio, fazem uma oração pela recuperação do candidato. Com dificuldade para falar, o candidato agradeceu à equipe de médicos e enfermeiros que, disse, impediu que o pior acontecesse. À noite, em um vídeo divulgado pelo pastor Silas Malafaia, o candidato do PSL disse que a morte esteve a dois milímetros dele, numa referência à distância pela qual a faca passou de uma artéria principal.

— A morte esteve distante dois milímetros de mim. A faca passou a dois milímetros da veia cava. Eu perdi dois litros de sangue para drenar. Se demorasse mais três minutos o atendimento, o pessoal diz que eu teria morrido. Foi um milagre —disse. Na tarde de ontem, a conta de Bolsonaro no Twitter publicou uma mensagem sobre seu estado de saúde: “Estou bem e me recuperando". No microblog, o candidato do PSL à Presidência voltou a agradecer aos médicos: “Agradeço do fundo do meu coração a Deus, minha esposa e filhos, que estão ao meu lado, aos médicos que cuidam de mim e que são essenciais para que eu pudesse continuar com vocês aqui na terra, e a todos pelo apoio e orações!”. Flávio Bolsonaro gravou um vídeo em que agradeceu aos simpatizantes dopai pelas orações eà equipem édica da Santa Casa de Juiz de Fora. E afirmou que o estado dopai“se mostrou muito mais grave do que imaginava inicialmente". — Segundo os médicos, por questão de milímetros, podia ter pegar uma artéria principal ali que irriga o intestino, ou algo do tipo, e ele não teria tempo nem de chegar ao hospital —disse Flávio, afirmando que o que aconteceu com o pai é “sinal de que Deus está agindo na vida dele e não é de agora”.