O globo, n.31075 , 05/09/2018. País, p.8

MP-SP denuncia Haddad pela terceira vez, agora por corrupção e lavagem 

Gustavo Schmitt 

Jailton de Carvalho

 

 

Ações decorrem da delação do dono da UTC; candidato a vice pelo PT questiona surgimento das acusações no período eleitoral

O Ministério Público paulista denunciou o candidato a vice do PT ao Planalto, Fernando Haddad, por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Haddad é acusado de receber R$ 2,6 milhões de propina da UTC Engenharia para pagar dívida contraída durante sua campanha à prefeitura de São Paulo em 2012.

Na semana passada, o ex-prefeito já havia sido acusado pelo MP de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito envolvendo a mesma construtora. De acordo com a denúncia, a UTC pagou, ao longo de 2013, dívidas da campanha eleitoral de Haddad com uma gráfica. Em maio, num processo também ligado à empreiteira, o MP eleitoral denunciou Haddad por uso de caixa 2.

Haddad sugeriu em nota que a iniciativa tem conotação eleitoral: “Surpreende que no período eleitoral, uma narrativa do empresário Ricardo Pessoa, da UTC, sem qualquer prova, fundamente três ações propostas pelo Ministério Público de São Paulo contra o ex-prefeito e candidato a vice-presidente da República, Fernando Haddad”.

Responsável pela acusação, o promotor Marcelo Mendroni disse que foi uma “coincidência” a denúncia ter sido feita durante a corrida eleitoral.

Segundo a denúncia, Haddad recebeu o empresário Ricardo Pessoa para uma reunião na prefeitura em 28 de fevereiro de 2013, quando já estava empossado no cargo. Em seguida, entre março e abril daquele ano, o tesoureiro do PT João Vaccari se reuniu com Pessoa para tratar do pagamento da dívida do PT.

Para o promotor, a proximidade das datas desses encontros é um dos indícios de que Haddad tinha conhecimento das dívidas de campanha e de como foram feitos os pagamentos. Contudo, não há na denúncia comprovação de que a empreiteira tenha recebido contrapartidas do então prefeito, nem que Haddad tenha feito pessoalmente o pedido.

O PT descumpriu decisão liminar do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e voltou a divulgar ontem, em propaganda de rádio, a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. Na inserção, Haddad se apresenta como o vice de Lula.

Os ministros do TSE decidiram ontem suspender mais duas propagandas da chapa do PT por considerarem que desrespeitaram a decisão da Corte. Até agora, já são cinco as propagandas suspensas. A multa pelo descumprimento é de R$ 500 mil.

 

SEGUNDO PLANO

HÁ REAÇÕES radicais do PT, como esta de afrontar a Justiça Eleitoral, que chegam a ser juvenis. Seja como for, o partido não só testa as instituições —o que precisa ter um custo —, como passa a confirmar que virou mesmo um joguete nas mãos de Lula.

A PONTO de o seu substituto na chapa, Fernando Haddad, dar sinais de algum desconforto, noticia-se. O vice precisa considerar, porém, que se o partido perde tempo para trabalhar seu nome como cabeça da chapa, reforça a vitimização de Lula como mártir, o que parece interessar mais ao ex-presidente do que qualquer outra coisa.