O Estado de São Paulo, n. 45612, 04/09/2018. Política, p. A6

 

Campanha de Marina terá reforços de cineastas

Marianna Holanda

04/09/2018

 

 

Eleições 2018 Alternativa / Candidata da Rede aposta em ‘filmes’ de diretores voluntários nas redes sociais

 

Com 21 segundos dos 12 minutos de cada bloco do horário eleitoral na TV destinado aos presidenciáveis, a campanha de Marina Silva (Rede) vai apostar em vídeos autorais, “filmes” de cerca de 3 minutos, feitos por cineastas voluntários, para apresentar a candidata nas redes sociais e no WhatsApp. Entre os apoiadores estão Fernando Meirelles, diretor de Cidade de Deus e Ensaio sobre a Cegueira.

A estratégia dos “filmes” segue o tom da própria campanha, mais descentralizada e dando liberdade para que cada um dos realizadores possa apresentar sua visão da candidata, segundo o coordenador da campanha, Lourenço Bustani. “Optamos por sistemas mais horizontais, descentralizados e distribuídos, pautados em grande parte pelo voluntariado, para garantir uma riqueza de olhares, tão diversos quanto nosso próprio País”, diz Bustani.

Como a campanha neste ano será mais curta, os “filmes” devem focar especialmente no principal eleitorado de Marina – mulheres, negras, de baixa escolaridade e baixa renda, segundo a mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Também fazem parte do projeto dos filmes autorais André D’Elia e Jorge Brivilati.

‘Você, mulher’. No sábado, a Rede veiculou o primeiro vídeo da candidata no horário eleitoral, em que ela diz que quer falar com “você, mulher”. Todas as inserções e vídeos para a propaganda eleitoral já foram gravados no domingo retrasado, em um estúdio. Eles vão tratar de pontos do programa da candidata, como a sustentabilidade e agricultura familiar, que passam mais ao largo do programa de TV da candidata, pela falta de tempo.

Em 18 de agosto, uma equipe de voluntários que acompanhavam a candidata no Acre fizeram um vídeo sobre a viagem. Todo em preto e branco, com uma narração no fundo, o vídeo tem uma estética diferente dos tradicionais vídeos de campanha e, apesar de não fazer parte dos projeto dos cineastas, revela uma nova abordagem para a produção audiovisual da campanha da Rede.

Ontem, Marina participou de um ato no Largo da Batata, em São Paulo, e recebeu propostas do movimento Agora!, do qual o apresentador de TV e empresário Luciano Huck faz parte.

 

Descentralizadas

“Optamos por sistemas mais horizontais, descentralizados e distribuídos, pautados em grande parte pelo voluntariado, para garantir uma riqueza de olhares.”

Lourenço Bustani​, COORDENADOR DA CAMPANHA DA CANDIDATA MARINA SILVA (REDE)

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‘Seria ótimo conseguir falar com todo mundo, mas sem TV é difícil’

Fernando Meirelles

04/09/2018

 

 

Fernando Meirelles diz que seu vídeo para a campanha da candidata Marina Silva deve dialogar com a classe média

Apoiador declarado de Marina Silva desde 2010, Fernando Meirelles faz parte da equipe de cineastas voluntários que vai fazer os “filmes” para a campanha da candidata usar nas redes sociais. Em entrevista ao Estado por e-mail, Meirelles lamenta não poder atingir públicos maiores nas redes sociais, como a TV consegue, e conta que seu vídeo deve dialogar mais com a classe média. Abaixo os principais trechos da entrevista:

 

Por que o sr. resolveu apoiar Marina Silva de novo neste ano e qual seu papel na campanha?

Se sairmos da batalha sangrenta do dia a dia, é muito fácil ver que o futuro do nosso planeta está mais do que ameaçado, já está comprometido. Enquanto os outros candidatos falam em fortalecer a exploração de petróleo ou explorar minério na Amazônia, a Marina é um antídoto contra essa ameaça. Também gosto da ideia de governança em rede, um governo que ouça a sociedade e inclua academia, ONGs, empresários e conecte todas essas pessoas. Governo centralizado é coisa do século 20. Já foi.

 

Qual mensagem o sr. pretende passar nos seus filmes?

O programa de governo da Marina tem propostas que mudam paradigmas. A ideia é falar sobre algumas dessas ideias, como a mudança para matriz energética limpa, apoio forte à agricultura familiar e o foco na primeira infância começando a preparar uma geração que pode transformar o país daqui a 20 anos.

 

O principal eleitorado da Marina é mulher, pobre, preta/parda, nordestina e de renda e escolaridade baixas. Isso vai se refletir nos vídeos? Elas serão o público principal?

Seria ótimo conseguir falar com todo mundo, mas sem TV é difícil chegar em muitos lugares. O Fred (Mauro, outro cineasta que está no projeto) está fazendo um filme para dialogar com este público e eu estou falando mais com classe média.

 

Quem é a Marina que o sr. pretende apresentar?

Gosto do lado estadista da Marina, que pensa um projeto de país a longo prazo. Sustentabilidade tem total relação com construir o futuro. A ideia de energia limpa, de educar crianças desde a formação neural, ou a agricultura agroecológica, têm relação com isso. Já quem propõe armar a população, que futuro está imaginando?

 

O sr. fala de Bolsonaro?

Ele é um, mas o (João) Amoêdo (candidato do Novo) também é a favor de afrouxar o controle da venda de armas e a vice do Ciro (Gomes, do PDT, Kátia Abreu) também acha que no campo todo mundo deveria manter uma garrucha embaixo do travesseiro. Me apavora pensar que pode haver uma arma dentro da bolsa da Dona Eliana, uma senhora histérica que conheço. Ela dá piti em supermercado, briga com garçom, fica furiosa no trânsito. Se sem arma ela já é uma ameaça a sociedade, imagina a Dona Eliana armada. Vai dar ruim com certeza.

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Bolsonaro fala em ‘fuzilar petralhada’; PT vai ao Supremo

Rafael Moraes Moura e anda Pupo

04/09/2018

 

 

Declaração do candidato do PSL foi dada em evento no Acre; partido apresenta representação por crime de ameaça

Vídeo. Jair Bolsonaro simula arma com um tripé de câmera

 

A campanha do PT apresentou ontem uma representação ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o candidato do PSL à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro, por crime de ameaça. Em evento de campanha realizado no último sábado, em Rio Branco, Bolsonaro falou em “fuzilar a petralhada aqui do Acre”. O Estado é governado pelo partido desde 1999.

“Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre. Vamos botar esses picaretas para correr do Acre. Já que eles gostam tanto da Venezuela, essa turma tem de ir para lá. Só que lá não tem nem mortadela, vão ter de comer é capim mesmo”, discursou o candidato do PSL, que aparece em vídeos usando o tripé de uma câmera para simular que segurava uma arma.

A coligação encabeçada pelo PT (formada ainda por PCdoB e PROS) também quer que Bolsonaro seja investigado pelos crimes de injúria eleitoral e incitação ao crime. O ministro Ricardo Lewandowski foi sorteado para relatar o caso.

Para o PT, o caso expõe crime eleitoral “de injúria em detrimento de todos os eleitores que de algum modo são identificados como ‘esquerda’ política e nos crimes de ameaça e incitação ao crime de homicídio”.

“No âmbito do direito penal eleitoral, o noticiado (Bolsonaro) promoveu graves dizeres que maculam a honra de parcela da população, afirmando que estes deveriam morrer por fuzilamento ou, como opção, deveriam comer capim. Tudo isso, ressalta-se, no intuito de se promover politicamente, propagandeando ou buscando propagandear sua plataforma política”, dizem os advogados da coligação do PT.

Procurada, a campanha de Bolsonaro não apresentou sua versão para o discurso até a conclusão desta edição.