O globo, n. 31129, 29/10/2018. País, p. 8

 

Guedes já tem acordo por independência do Banco Central

Lauro Jardim

29/10/2018

 

 

Futuro ministro da Fazenda tem acordo para independência do BC, informa Lauro Jardim Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda de Jair Bolsonaro, já combinou com o presidente eleito: o projeto que torna o Banco Central (BC) independente será prioridade.

Há 30 anos Guedes defende o BC independente, com mandatos não coincidentes com os do presidente da República — já havia, inclusive, essa proposta no programa de governo (elaborado por Guedes) de Afif Domingos, candidato à Presidência em 1989.

O objeto do desejo do “Posto Ipiranga” é que Ilan Goldfajn permaneça no comando do BC. Cairia como uma luva: Ilan ficaria no cargo sob Michel Temer por dois anos e por mais dois anos no governo Bolsonaro. Mas, atenção: Ilan não foi convidado ainda (assim como ninguém foi ainda nem sondado para a presidência do BNDES).

Ao menos na equipe econômica, o que Guedes tem dito aos mais próximos é que são duas as condições obrigatórias para que um quadro do governo Temer permaneça: ter um excelente desempenho e motivação para seguir com o novo governo. Ilan com sobras preenche o primeiro requisito. Não se sabe se cumpre o segundo.

Apesar das idas e vindas de Bolsonaro em relação ao Ministério da Indústria e Comércio, o que Guedes tem garantido a interlocutores é que ele será mesmo extinto. Vai virar uma supersecretaria integrada ao Ministério da Fazenda.

Para comandá-la, vai convidar um empresário sem relação com o governo e nem com relações próximas de entidades como a CNI. Aliás, Paulo Guedes costuma referir-se à CNI como uma turma que ainda está “nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial”. Ou seja, são empresários estão fora do seu tempo, exageradamente protecionistas.

O liberal Guedes vai abrir a economia. Mas não de supetão. A empresários, tem garantido que não é “louco de fazer isso numa velocidade que as empresas não aguentem o tranco”.

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O time de Bolsonaro e cotados para o Ministério

Jussara Soares

Eduardo Bresciani

29/10/2018

 

 

Jair Bolsonaro confirmou até agora apenas três futuros ministros: o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-DF), articulador político da candidatura, na Casa Civil; o economista Paulo Guedes, na Fazenda; e o general da reserva do Exército Augusto Heleno, no Ministério da Defesa. O presidente eleito se comprometeu a ocupar o alto escalão de sua administração com nomes técnicos e sem compromisso de agradar partidos aliados. Por outro lado, se cercou de aliados e consultores em diversas áreas que passaram, automaticamente, a serem cotados para ministros.

Magno Malta

Recusou a vaga de vice-presidente para tentar reeleição ao Senado no Espírito Santo. Sua derrota foi em parte atribuída à dedicação à campanha de Bolsonaro, com viagens até as vésperas da eleição. Um dos poucos com acesso livre à casa de Bolsonaro e ao hospital durante a internação, tem a confiança do presidente eleito e terá espaço no governo.

Onyx Lorenzoni

O deputado gaúcho, futuro ministro da Casa Civil, foi o responsável por construir a estrutura de apoio político à campanha. Rígido e pouco aberto a concessões, enfrenta resistências no Congresso após ter sido criticado ao relatar projeto de medidas contra a corrupção em 2016. Depois, confessou a prática de caixa dois e submergiu.

Marcos Pontes

Único brasileiro a participar de uma missão aeroespacial, em 2006, o tenente-coronel da reserva Marcos Pontes é o provável ministro de Ciência e Tecnologia. Filiado ao PSL, foi eleito suplente do senador Major Olímpio (PSL). Pontes deixou a Aeronáutica após a missão espacial, chegou a ir para o PSB e tentar sem sucesso vaga na Câmara em 2014.

Augusto Heleno

General da reserva, será ministro da Defesa. Respeitado nas Forças Armadas, foi o primeiro comandante das tropas brasileiras no Haiti e é conselheiro de Bolsonaro sobre segurança pública. Heleno é próximo dos principais líderes da caserna e, na campanha, foi o responsável pela atração de técnicos que tocaram as propostas do plano de governo.

Nelson Teich

Consultor da campanha na área de Saúde, é um dos assessores mais discretos. Oncologista e empresário do setor de saúde, chegou à campanha por meio do economista Paulo Guedes e ganhou espaço. Além de Teich, o diretor do hospital de Câncer de Barretos, Henrique Prata, é outro nome cogitado para ser ministro da Saúde.

Gustavo Bebianno

Presidente do PSL, o advogado carioca é cotado para o Ministério da Justiça, porém a relação de confiança com Bolsonaro pode levá-lo à SecretariaGeral da Presidência. Bebianno articulou as negociações para a ida do presidente eleito para o PSL. O estilo controlador lhe rendeu desafetos entre aliados e até ciúme por parte dos filhos de Bolsonaro.

Stravos Xanthopoylos

Ex-diretor da área de cursos on-line da FGV, o professor defende a educação a distância (EAD) até mesmo para o ensino fundamental. É contra o sistema de cotas. Outro cotado para a Educação é o general Aléssio Ribeiro Souto, que defende a revisão bibliográfica e curricular, segundo ele, para evitar o ensino partidarizado.

Hamilton Mourão

Vice-presidente eleito, o general da reserva contornou resistências a Bolsonaro nas Forças Armadas e manteve a interlocução privilegiada mesmo diante das seguidas polêmicas em que se envolveu, como a crítica ao 13º salário. Mourão garante que não será um vice decorativo e pediu a instalação de uma sala próxima ao gabinete presidencial.

Luiz Antonio Nabhan Garcia

Presidente da União Democrática Ruralista, é um dos conselheiros do presidente eleito para o agronegócio. É o autor da proposta de unir os ministérios da Agricultura com o do Meio Ambiente. Bolsonaro encampou a ideia, mas, após críticas, voltou atrás. Disputa com indicações da Frente Parlamentar da Agropecuária o Ministério da Agricultura.

Oswaldo Ferreira

General da reserva, comandou a área de Engenharia no Exército e foi levado por Heleno para o círculo de Bolsonaro. Esteve à frente do trabalho realizado pelo grupo de Brasília para o plano de governo. É apontado como provável titular de uma pasta na área de Infraestrutura. Ferreira, porém, diz não ter desejo de ocupar um ministério.

Paulo Marinho

O empresário ajudou na interlocução da campanha com jornalistas e empresários. Sua casa virou escritório para a produção dos programas de TV e cenário para entrevistas do candidato. Nega que ocupará cargo no governo, mas poderá atuar como conselheiro na área de comunicação. É suplente do senador eleito Flávio Bolsonaro.

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Bolsonaro não terá cheque em branco

Merval Pereira

29/10/2018

 

 

A vitória expressiva de Jair Bolsonaro indica que as idas e vindas das pesquisas eleitorais captaram a repulsa aseu discurso exaltado a manifestantes na Av. Paulista no domingo passado, mas não o recuo do presidente eleito, que chegou a perder votos na reta final devido aseu extremismo, mas os recuperou em boa medidaao semostrar sensívelàre ação da opinião pública.

Foi uma vitória expressiva, mas não aponto dedar um cheque em branco ao presidente eleito. Lula teve mais votos que Bolsonaro em 2006 — e conquistou os dois mandatos com vantagem sobre o adversário superior a 20 milhões de votos. Considerando-se dono do país, inventou Dilma Rousseff e um esquema político ilegal para perpetuar seu grupo no poder.

O resultado é que falou mais alto, ao final, o sentimento antipetista que tomou conta da população depois que o saldo dos 13 anos de governos do Parti dodos Trabalhadores foi uma recessão brutal eoa parelhamento dos órgãos públicos paraimposição ideológica de suas verdades, a corrupção para financiara permanência no pode realimentara ganância de seus principais líderes.

Coube a Bolsonaro interpretar esse sentimento latente na sociedade brasileira, mas ele não deve se enganar: muitos dos eleitores que o escolheram não são dele, e estarão a partir de hoje em “apoio crítico”, como virou moda dizer, ou mesmo na oposição.

O fato é que a retórica radicalizada de Bolsonaro não corresponde ao desejo da maioria, e o novo presidente terá que ter sensibilidade para se enquadrar dentro do que a maioria do país quer, um governo reformista que, a partir da recuperação da economia, saiba unir os brasileiros sob uma orientação que pode ser conservadora nos costumes, mas nunca repressora ou autoritária.

Muito da derrocada do PT se deveà corrupção disseminada, aos hábitos e costumes políticos que foram exacerbados pelos governos petistas como fórmula para a cooptação do apoio político, mas também pelo teor autoritário de muitas de suas iniciativas, que continuam em seu programa de governo.

Se a maioria não quer que nossa bandeira seja vermelha, como diz o mantra bolsonariano, também não quer um país dominado por um conservadorismo rasta que raque leve a retrocessos em setores em que já estamos conectados com os avanços civilizatórios das sociedades modernas, nos emancipamos como cidadãos livres.