O globo, n. 31124, 24/10/2018. País, p. 4

 

Bolsonaro tem 57%, Haddad, 43%

Marco Grillo

24/10/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

Candidatos oscilam na margem de erro; diferença entre eles é de 14 pontos

A nova pesquisa Ibope realizada no segundo turno mostra que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) permanece à frente na disputa presidencial, com 57% dos votos válidos, contra 43% de seu adversário, Fernando Haddad (PT). A diferença entre os dois, que era de 18 pontos percentuais na semana passada, agora é de 14 pontos. Os candidatos oscilaram dois pontos, no limite da margem de erro.

No primeiro levantamento da série, Bolsonaro tinha 59%, e agora, no segundo, oscilou dois pontos para baixo; Haddad tinha 41% e oscilou positivamente dois pontos.

Em um cenário diferente do revelado na semana passada, os dois candidatos agora têm parâmetros semelhantes de rejeição. Bolsonaro é rejeitado por 40% do eleitorado, o que representa um crescimento de cinco pontos em uma semana. Já Haddad enfrenta a aversão de 41% dos eleitores, uma queda de seis pontos na comparação com o levantamento anterior.

Quando são levados em consideração os votos totais, o capitão da reserva tem 50% das intenções de voto (oscilação negativa de dois pontos, no limite da margem de erro), e o petista aparece com 37%, o mesmo índice da outra sondagem. Brancos e nulos somaram 11% (oscilação de um ponto para cima), enquanto 3% não responderam.

Depois de ensaiar um tímido aceno ao centro nos primeiros dias do segundo turno, com a formação de uma frente que poderia incluir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o exministro Ciro Gomes (PDT), a campanha de Haddad mudou a estratégia e dobrou a aposta no eleitorado lulista.

O candidato do PT passou o fim de semana em agendas pelo Nordeste, única região onde está à frente nas pesquisas, com 61% das intenções de voto na região, contra 39% do adversário. Para reforçar a estratégia, lançou mão de propostas como o aumento de 20% nos repasses mensais aos beneficiários do Bolsa Família —com o impacto de R$ 5,5 bilhões nas contas públicas —e a criação de um limite de R$ 49 para o preço do botijão de gás. Além disso, os ataque s ao adversário, em discursos e nos programas de TV, são recorrentes.

Já Bolsonaro, que tem ficado no Rio em função da recuperação de duas cirurgias pelas quais passou após receber uma facada em 6 de setembro, também tenta crescer no Nordeste: no fim de semana, recebeu jornalistas de rádios da região e de uma afiliada do SBT. O candidato vai se preservar até o fim da campanha, evitando qualquer embate direto com o adversário — na terça-feira, informou oficialmente à TV Globo que desistiu de comparecer ao debate previsto para sexta-feira. Pelos recortes regionais, a maior vantagem de Bolsonaro sobre o petista ocorre no Sul, onde lidera com 67%, contra 33% de Haddad.

O candidato do PSL permanece com uma vantagem ampla sobre Haddad no eleitorado masculino (63% a 37% nos votos válidos), enquanto entre as mulheres a situação é de empate técnico, no limite da margem (52% a 48%). O petista tem vantagem na parcela com renda mensal de até um salário mínimo (59% a 41%), mas perde em todos os outros estratos de renda. Entre quem recebe acima de cinco salários, Bolsonaro fica à frente por 71% a 29%.

Para o cientista político Guilherme Carvalhido, os números da pesquisa indicam que Haddad tende a manter o tom dos últimos dias:

— A única saída para tentar uma virada é desconstruir o adversário. Mas é uma tarefa difícil, porque o número de antipetistas é muito grande.

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Autoritarismo e falta de clareza têm peso

Paulo Celso Pereira

24/10/2018

 

 

A pesquisa Ibope divulgada na noite de ontem mostra que a onda de crescimento de Jair Bolsonaro, iniciada nos dez dias que antecederam o primeiro turno, parece ter chegado ao fim. A queda de dois pontos —no limite da margem de erro —na intenção de votos entre a semana passada e esta foi puxada pelo crescimento de cinco pontos percentuais em sua rejeição —e pela redução no percentual de eleitores que não tinham mais dúvidas em apoiá-lo.

Motivos para o incômodo do eleitorado não faltam. Nos últimos dias, veio a público o vídeo em que Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável e deputado mais votado do país, fala em fechamento do Supremo. Domingo, o próprio candidato a presidente discursou falando em banir ou prender adversários e atacou a “Folha de S.Paulo", após o jornal afirmar que empresas comprariam pacotes de distribuição em massa de mensagens contra o PT, violando a lei eleitoral.

O problema do líder nas pesquisas, no entanto, não se restringe aos arroubos autoritários, mas também à opção por não participar de qualquer debate ou sabatina. Do alto de seu amplo favoritismo, Bolsonaro pede um cheque em branco à população sem dizer o que pretende fazer em praticamente nenhuma área. A cinco dias do pleito, não se sabe, por exemplo, suas propostas objetivas para temas centrais do país como educação, saúde, Previdência, privatizações ou reforma tributária.

Como bem destacou Marcelo Adnet em sua impagável paródia do presidenciável, a mensagem central de Bolsonaro é simples: “Vou mudar isso daí, tá ok?!”. À imagem de novidade, o candidato agregou dois outros elementos que o ajudaram a cair nas graças de parte significativa do eleitorado: o antipetismo e um duro discurso de combate à violência crescente no país.

Apesar das flutuações na sondagem de ontem, ainda é difícil uma virada para Haddad. Do total de eleitores entrevistados, exatamente metade diz que votará no capitão reformado, contra 37% que são favoráveis ao petista. Além disso, a rejeição do ex-prefeito de São Paulo, embora em queda, ainda é elevada —41%, contra 40% de Bolsonaro. Na última pesquisa Ibope antes do primeiro turno, os índices de rejeição do capitão reformado era de 43% contra 36% do adversário.

A pesquisa não é suficiente para animar o PT, mas deveria ao menos conter o ânimo dos bolsonaristas. Ontem, seu grupo político o recebeu na casa do empresário Paulo Marinho com um churrasco, com direito até a apresentação de músicos tocando violoncelo. Apesar do franco favoritismo, vale a pena não esquecer o velho ditado: “Eleição e mineração, só depois da apuração”.