Título: Incentivos à indústria verde
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2012, Brasil, p. 10

CNI defende políticas compensatórias para produtores que investirem em ações sustentáveis A Confederação Nacional da Indústria (CNI) quer liderar ações para o desenvolvimento de práticas sustentáveis no setor produtivo e pretende cobrar do governo a implementação de políticas compensatórias para que o projeto deslanche. A entidade fez um levantamento e constatou que as iniciativas nessa área têm crescido em diversos setores, mas ainda são pontuais e pouco disseminadas em seus respectivos segmentos.

"Nossa expectativa é que o governo adote políticas compensatórias para que as empresas possam investir mais em práticas sustentáveis e, assim, ajudar a baratear o custo do produto final para o consumidor", comenta a diretora de Relações Institucionais da CNI, Monica Messenberg, lembrando que muitos dos produtos não sustentáveis são mais baratos, porque conseguem produzir em escala maior. "É importante que o governo crie uma política para as práticas sustentáveis em todos os setores da economia, e não somente para os que possuem lobbies mais fortes", destacou.

O secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Cozendey, revelou que, em função da Rio+20,o governo iniciou estudos para identificar as práticas de incentivo à indústria verde em outros países. "É possível usar uma série de mecanismos financeiros para incentivar essa indústria, como o financiamento de agropecuária na Amazônia somente para quem está com regularidade ambiental. Esse tipo de iniciativa teve um resultado positivo para redução de desmatamento, e precisamos estudar uma forma para outros setores", comentou o secretário, destacando que o tema será debatido em um painel promovido pelo México, que preside o G-20 (grupo das principais nações desenvolvidas e emergentes), com a participação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente mexicano, Felipe Calderón. Cozendey informou que uma das primeiras iniciativas do governo nesse sentido é privilegiar as empresas sustentáveis nas compras governamentais. "O governo está começando a fazer isso", disse.

Hoje, durante a Rio+20, a CNI apresenta o resultado de um relatório feito com 16 setores produtivos. O presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, coordenará os trabalhos, que contarão com a participação dos ministros do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e de Relações Exteriores, Antônio Patriota, além do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. "Foi feito um levantamento do que as empresas desses segmentos estão fazendo para podermos ter um mapeamento e, a partir, dele traçar metas para o futuro", explicou Monica Messenberg. O levantamento inédito da CNI reuniu 90% da indústria brasileira e considerou os avanços dos últimos 20 anos, desde a Eco92.

A Lafarge, um dos maiores fabricantes de cimento do mundo, é um exemplo. O Brasil está na frente das iniciativas sustentáveis do grupo francês. Enquanto que, globalmente, mais de 10% do total da energia consumida vem de combustíveis alternativos, aqui esse percentual é de quase 20%. Além disso, a companhia tem uma iniciativa de reciclar pneus e resíduos urbanos como combustíveis alternativos para a produção de cimento.

O projeto iniciado em 2008, na unidade de Cantagalo, no Rio de Janeiro, está sendo bastante frutífero. Das 350 toneladas de lixo descartado pelo município, 15% são aproveitados no processo produtivo da companhia francesa.

Bancos O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, anunciou ontem que as instituições financeiras serão obrigadas a adotar políticas de responsabilidade socioambiental e a divulgar os resultados obtidos. Segundo Tombini, os programas deverão ser compatíveis com o porte e a complexidade dos produtos e serviços pelas empresas, "devendo estar alinhada à sua política estratégica". As propostas regulatórias serão debatidas em audiência pública. O anúncio foi feito ontem, na abertura de um ciclo de debates sobre finanças sustentáveis para a Rio+20, na capital fluminense. "Destacam-se a necessidade de mensurar os impactos socioambientais dos produtos e serviços ofertados, a adequação dos produtos às demandas dos clientes e usuários, bem como o gerenciamento do risco socioambiental", disse Tombini.

Mudanças na produção

Confira alguns pontos do estudo da CNI

» O Brasil possui um dos maisaltos índices de reciclagem de alumínio do mundo: hoje, 97,6% das embalagens com esse metal produzidas e distribuídas no país são recicladas.

» Nas indústrias de aço, os índices de recirculação de água estão acima de 90%, e 88% dos resíduos gerados são reaproveitados dentro da própria indústria ou por terceiros.

» No setor de papel e celulose, 100% da madeira utilizada vêm de florestas plantadas. São 2,2 milhões de hectares de plantações de pinus e eucalipto.

» O setor automotivo fez inovações sustentáveis em seus produtos e um automóvel fabricado hoje emite 28 vezes menos poluentes que um veículo produzido há 30 anos.

» O setor elétrico e eletrônico desenvolveu aparelhos que ajudam a reduzir o consumo de energia. A geladeira fabricada hoje consome 60% menos energia que há 10 anos. Isso se repete em freezers, condicionadores de ar e computadores.

» O setor sucroenergético se tornou autossuficiente em energia ao utilizar o próprio bagaço da cana-de-açúcar como fonte geradora.