Título: Crise não impede soluções, diz Dilma
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 14/06/2012, Brasil, p. 10

Presidente afirma que a elaboração de medidas para a preservação do meio ambiente tem que ser independente dos problemas da economia mundial Rio de Janeiro — No primeiro dia oficial da Rio+20, a presidente Dilma Rousseff inaugurou, na manhã de ontem, o Pavilhão Brasil, no Parque dos Atletas, no qual o país vai apresentar projetos apontados pelo governo como iniciativas de desenvolvimento sustentável, como o combate ao desmatamento da Amazônia e o programa Minha Casa, Minha Vida. No evento, Dilma voltou a defender que a crise financeira internacional não se torne um impeditivo para que soluções concretas sejam decididas na capital fluminense. A presidente deu também boas-vindas a todos os visitantes dos 193 países membros da ONU.

Dilma lembrou que, em um momento no qual as conquistas sociais dos países desenvolvidos estão ameaçadas pela crise financeira, o Brasil pode apontar propostas para alguns problemas do planeta. "Estamos aqui para mostrar as nossas conquistas e o compromisso com a redução da desigualdade social. Esse é um espaço em que todos poderão conhecer algumas delas. Nosso modelo de desenvolvimento não pode mudar ao sabor da crise."

A presidente ainda frisou a importância de conciliar os três pilares da sustentabilidade — o econômico, o social e o ambiental. "O meio ambiente não é um adereço. A visão de incluir e crescer tem que estar integrada à noção de preservar e conservar. A sustentabilidade é um dos eixos da nossa concepção de desenvolvimento", afirmou a presidente. "Nós acreditamos que respeitar o meio ambiente significa também melhorar a produtividade do nosso solo, significa preservar as nossas riquezas naturais e garantir aquele crescimento que é aquele que nós queremos, um crescimento que respeite ao mesmo tempo a nossa população, os seus direitos, a sua cidadania, e também garanta que o nosso povo tenha consciência pública no sentido de garantir oportunidades a todas as pessoas, sem restrição de crença, credo, opção sexual ou raça."

"Outra partida" No discurso, Dilma ponderou, porém, que o Brasil não se considera dono de todas as respostas nas negociações. "A Rio+20 faz parte de um processo que começou com a Rio-92. Agora temos que dar outra partida, precisamos provar que esse outro mundo que julgamos possível e real é também o mundo em que cabe um alerta sobre a necessidade de um compromisso entre todos os países do mundo", concluiu.

Além das discussões ambientais, na prática, a conferência da ONU tem sido o grande teste para o Rio de Janeiro antes da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. A Rio+20 mexe, desde o início da semana, com a rotina da cidade, que está mobilizada para o evento. Um dos grandes medos da prefeitura carioca, o trânsito não apresentou grandes problemas ontem. O esquema especial montado pela polícia — sem a interdição de vias, mas com orientação aos motoristas para que evitassem os trechos usados pelas autoridades — deu certo e não causou nada além dos engarrafamentos já cotidianos na cidade.

O reforço do Exército nas ruas garantiu a segurança do entorno do Riocentro, principal palco de convenções e sede do evento internacional. Dentro do espaço — que desde a semana passada é considerado território da ONU —, a polícia das Nações Unidas, formada por homens de vários países, é a responsável pela segurança.

Com quase 4 mil eventos oficiais e paralelos, a Rio+20 reúne, a exemplo da Eco 92, diferentes tribos. Literalmente. Cerca de 350 índios brasileiros e de outros países, como o México e o Canadá, participaram ontem da cerimônia do povo sagrado da Aldeia Kari-Oca, na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, mesmo bairro do Riocentro. São aguardados 1,6 representantes de diferentes etnias, para debater, até o dia 18, assuntos relacionados à causa indígena.

A cidade tem ainda um grande calendário de eventos culturais, como exposições e apresentações de dança e música. A diversidade deve aumentar ainda mais amanhã, quando começa a Cúpula dos Povos, encontro paralelo que reúne movimentos sociais variados, dos Indignados da Espanha ao jovens da Primavera Árabe. Todos juntos na cidade que, pelos próximos dias, será a capital do mundo.

Cerimônia do povo sagrado, na Aldeia Kari-Oca: 1,6 mil indígenas reunidos na capital fluminense

"O meio ambiente não é um adereço. A visão de incluir e crescer tem que estar integrada à noção de preservar e conservar" Dilma Rousseff, presidente da República

"Precisamos acelerar o ritmo das negociações. O mundo inteiro está olhando para nós e não podemos decepcioná-los" Sha Zukang, secretário-geral da ONU para a Rio+20

Agenda

Confira os principais eventos que ocorrem hoje na Rio+20

» Segundo dia da 3ª Reunião do Comitê Preparatório para a Rio+20, última rodada oficial de negociações antes da cúpula dos chefes de Estado, na semana que vem. As discussões são restritas aos técnicos e diplomatas envolvidos.

» O Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca, onde ocorreu o Rock in Rio 4, reúne pavilhões de países participantes da Rio+20, em que eles mostram iniciativas voltadas para o desenvolvimento sustentável de seus governos.

» O Ministério do Meio Ambiente está com um ciclo de debates no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico. Hoje, às 9h30, será discutida a produção de químicos sustentáveis. Às 14h30, o tema é o empreendedorismo sustentável.

» O Fórum de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável vai até amanhã, com discussões científicas interdisciplinares na PUC-Rio. O evento tem transmissão via internet (www.icsu.org/rio20).

» O Museu de Arte Moderna está com uma exposição sobre o desmatamento no Centro-Oeste brasileiro, a Brasil Cerrado, especialmente criada para o evento pelo artista plástico Siron Franco, a convite da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.