O Estado de São Paulo, n. 45657, 19/10/2018. Política, p. A10

 

Moro diz que não ‘inventou’ depoimento

 

 

 

Julia Affonso, Ricardo Brandt e Fausto Macedo

19/10/2018

 

 

 

Curitiba. Juiz federal Sérgio Moro, que conduz a Lava Jato na primeira instância, vota no primeiro turno das eleições

O juiz Sérgio Moro afirmou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que não “inventou” o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci, no qual o petista diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia do esquema de corrupção na Petrobrás. Na manifestação, Moro também criticou o PT. Para ele, “agentes” do partido têm um “desejado controle social da administração da Justiça”.

Moro enviou a resposta ao CNJ depois de o PT e três deputados da legenda entrarem com representação no órgão contra a divulgação de parte da delação de Palocci, dias antes do primeiro turno das eleições. O corregedor nacional de Justiça, ministro Humberto Martins, havia pedido informações ao juiz da Lava Jato sobre a retirada do sigilo de um dos anexos da colaboração do ex-ministro.

“Não foi o Juízo quem inventou o depoimento de Antonio Palocci Filho ou os fatos nele descritos. Publicidade e transparência são fundamentais para a ação da Justiça e não deve o juiz atuar como guardião de segredos sombrios de agentes políticos suspeitos de corrupção. Retardar a publicidade do depoimento para depois das eleições poderia ser considerado tão inapropriado como a sua divulgação no período anterior”, afirmou Moro ao CNJ.

O magistrado disse ainda que não houve, de sua parte, “qualquer intenção de influenciar as eleições gerais de 2018”. “Após análise, constatou este Juízo que a sua publicidade não prejudicaria as investigações. Há outros depoimentos, alguns mais contundentes”, apontou.

Parte da delação de Palocci foi tornada pública no dia 1.º de outubro. No dia seguinte, o PT foi ao CNJ e afirmou que a decisão de Moro era “imprudente, parcial e antiética”. Na resposta ao conselho, o magistrado lembrou que Lula “não é nem sequer candidato” e está “condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro”.

 

‘Controle’. Ao criticar a representação do PT, Moro afirmou que “agentes” da sigla buscam “cercear a atuação independente da Justiça”. “Antecipando-se a um desejado ‘controle social da administração da Justiça’, estes mesmos agentes políticos, através de provocação ao Conselho Nacional de Justiça (cuja composição desejam, aliás, alterar), cercear decisões da Justiça que contrariam os seus interesses partidários”, assinalou.

Palocci está preso desde setembro de 2016. Moro o condenou em uma primeira ação penal a 12 anos e 2 meses de reclusão. O trecho da colaboração do ex-ministro foi tornado público nos autos de outro processo, sobre suposta propina da Odebrecht a Lula – um terreno que abrigaria o Instituto Lula e um apartamento em São Bernardo do Campo. O ex-presidente afirmou que Palocci “mentiu”.