O globo, n. 31120, 20/10/2018. País, p. 6

 

Haddad vai ao Ceará, mas não deve ter agenda com Cid Gomes

Sérgio Roxo

Fernanda Krakovics

20/10/2018

 

 

Senador eleito cobrou autocrítica do PT; já seu irmão Ciro continua na Europa após declarar ‘apoio crítico’ ao petista

Depois de concentrar a maior parte das agendas em São Paulo no segundo turno, o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, desembarca hoje no Ceará, único estado do Nordeste em que ele não venceu na primeira etapa da eleição. Ciro Gomes, então candidato do PDT, foi quem teve a maior quantidades de votos naquele estado. Após anunciar “apoio crítico” a Haddad, Ciro viajou para a Europa e a previsão é que volte somente no dia 27. — Ciro não vai de jeito nenhum (encontrar Haddad). Ele vai voltar só para votar — disse o presidente do PDT, Carlos Lupi, que coordenou a campanha de Ciro. Já seu irmão, o senador eleito Cid Gomes (PDT-CE), está em Sobral, reduto eleitoral da família, e, segundo pessoas próximas, não há previsão de que participe de atos políticos com Haddad hoje. Cid foi pivô de uma polêmica no estado durante um evento pró-Haddad, na última segunda-feira, quando cobrou uma autocrítica do PT e chamou algumas pessoas que estavam no local de “babacas” enquanto faziam defesa do ex-presidente Lula. Dias depois, Cid usou suas redes sociais para dizer que Haddad era “infinitamente melhor que (Jair) Bolsonaro”. Questionado, o deputado José Guimarães (PT-CE) disse que Cid não participará dos atos de Haddad hoje: —Claro que não. Não foi marcado nada disso. É fake news. Não foi pedida agenda (com ele) e nem combinado. Depois de um evento pela manhã em Fortaleza, o petista tem agenda de campanha em outras duas cidades cearenses: Juazeiro do Norte e Crato. À noite, a previsão é que Haddad participe de um evento em Picos, no Piauí. Amanhã pela manhã ele estará em São Luiz, no Maranhão, de onde volta para São Paulo.

Cobrança por frente

Ontem, um grupo de 12 intelectuais entregou uma carta ao candidato do PT, para cobrar a construção de uma frente democrática contra Bolsonaro. Entre os que assinam o documento estão Paulo Sérgio Pinheiro (secretário de Direitos Humanos de Fernando Henrique Cardoso), Rubens Ricupero (ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco) e Celso Amorim (ministro das Relações Exteriores de Lula e da Defesa de Dilma Rousseff ).

A campanha de Haddad até tentou formar uma frente, mas ela foi rechaçada por Ciro, FH e por Marina Silva.

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Um segundo turno imóvel para o PT

20/10/2018

 

 

O anti-petismo, que se mostrou evidente no primeiro turno das eleições, vem se solidificando na segunda fase da disputa e tornando imóvel a candidatura de Fernando Haddad, ungida pelo ex-presidente Lula, preso em Curitiba. A incapacidade de união das esquerdas também contribuiu para a paralisia dos números pró-Haddad no segundo turno que se encerra no dia 28. A sensação de corrupção institucionalizada nas gestões do PT encontrou na crise econômica o ambiente ideal para fazer florescer a enorme rejeição ao partido que mais tempo governou o país desde a redemocratização, na avaliação de especialistas.

— A corrupção é muito forte, e a recessão econômica que aconteceu no governo Dilma Rousseff é outro fator. Todos os partidos foram atingidos (por denúncias de corrupção), mas o PT teve alvos mais notórios —aponta David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), para quem a imagem de que Haddad seria um novo “poste”, depois de Dilma, também pesou. Para Ricardo Ismael, da PUC-Rio, a situação se agravou porque o partido se recusa a reconhecer esses erros:

— Não há autocrítica em relação aos erros que a Dilma cometeu na parte econômica, em relação ao esquema da Petrobras, não há autocrítica praticamente em relação a nada. O PT sempre reage atacando os outros. Uma das razões para isso, de acordo com Ismael, é que uma autocrítica enfraqueceria a defesa do ex-presidente Lula, condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.