O globo, n. 31109, 09/10/2018. País, p. 5

 

Entrevista - João Amoêdo: ‘O novo tem uma escolha: não apoiar o PT ’

João Amoêdo

Jeferson Ribeiro

09/10/2018

 

 

Quinto colocado na corrida presidencial, com 2,51% dos votos, João Amoêdo, do Novo, ainda não decidiu se apoiará o adversário Jair Bolsonaro (PSL) ou ficará neutro no segundo turno. O que ele já decidiu é descartar apoio a Fernando Haddad, do PT. Segundo ele, o Novo ainda decidirá o que fazer, mas uma forte possibilidade é liberar os filiados.

Como o Novo vai se posicionar no segundo turno?

O diretório pode tomar decisão de neutralidade e transferir a decisão para cada um sobre quem apoiar ou não. Seria uma decisão se (o partido) não estiver seguro para definir um apoio e aí deixa a decisão com os filiados.

Quando o diretório nacional vai decidir?

Conversei rapidamente ontem (domingo) com eles, mas não sei o que eles estão pensando sobre o tema. Acho que é importante ouvir um pouco os candidatos. Bolsonaro está praticamente um mês fora do debate e muita coisa aconteceu. A gente não precisa se precipitar para tomar as decisões. Certamente quem está decidindo o voto vai querer ouvir um pouco mais, assistir aos debates.

É possível apoiar o PT?

O PT está fora por tudo que fez, é muito contrário ao que o Novo prega. Então, não dá para imaginar o Novo apoiar o PT. Seria muita incoerência.

Isso indica que o Novo já tem uma escolha?

Ele tem uma escolha, que é não apoiar o PT. Essa já é uma escolha. Agora, dentro das outras opções que sobram o partido ainda não divulgou.

E a sua posição?

Primeiro, vou esperar o que o Novo vai decidir para saber se tenho opção de ter escolha como filiado. E depois, se eu tiver escolha, aí observar com calma e aproveitar um pouco desse tempo para maturar as ideias. Eu trabalhei muito para não ter nenhuma dessas opções.

Qual a diferença então entre apoiar e ficar sem apoiar nenhum dos dois?

Se ficar sem apoiar ninguém as pessoas podem questionar se você não deveria se posicionar. E o apoio a Bolsonaro traz um ônus porque as práticas não seriam as mesmas que a gente faria. É isso que a gente tem que pensar para decidir. Sempre lembrando que existe uma diferença entre votar e apoiar e é importante também as pessoas terem a liberdade de decidir o que acharem que é mais conveniente para elas.

Apoiar Bolsonaro significa apoiar a velha política?

Apoiar o PT ou apoiar o Bolsonaro é apoiar a velha política. Já não temos mais a opção de apoiar a nova política. Então, isso não será mais determinante para a nossa decisão, porque os dois são tradicionais na política. Bolsonaro já está aí há 27 anos, já passou por diversos partidos. E o PT também, por tudo que fez. Por isso, a decisão não é simples. O PT é uma opção pior, por isso, votar no PT eu não voto.

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O sistema político morreu. E agora?

Bernardo Mello Franco

09/10/2018

 

 

Nada será como antes. O furacão eleitoral levou o telhado e as paredes da casa que abrigava a política brasileira há três décadas. “O sistema partidário que nós conhecíamos morreu no aniversário de 30 anos da Constituição”, resume o cientista político Jairo Nicolau. Ele é um dos estudiosos que tentam entender as mudanças decretadas pela urna.

O eleitor resolveu apressar a morte do doente. Despejou o presidente do Senado, desempregou o líder de todos os governos e humilhou oligarquias que não desgrudavam do poder, como o clã Sarney. No Rio, deu uma surra nos filhos de Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Jorge Picciani e Roberto Jefferson. Um ex-juiz desconhecido até a semana passada virou favorito para conquistar o governo do estado.

Ao mesmo tempo, a eleição premiou o ultraconservadorismo, o discurso truculento e o fundamentalismo religioso. A bancada da bala engordou e promete ficar mais estridente. No Rio, o campeão de votos para a Câmara foi um subtenente do Exército que tomou emprestado o sobrenome Bolsonaro. Há dois anos, ele tentou se eleger vereador em Nova Iguaçu. Teve míseros 480 votos. Agora recebeu mais de 345 mil na garupa do capitão.

“Uma taxa de renovação alta não garante um Congresso melhor”, lembra o professor Jairo Nicolau. Ele também prevê dificuldades para a formação de maioria, seja quem for o presidente eleito. A Câmara já estava dividida entre 25 partidos. Agora terá 30, uma fragmentação sem paralelo no mundo.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo partido sofreu um tombo histórico, concorda com o diagnóstico. “O sistema que nós montamos em 1988 está se exaurindo. Não sabemos ainda para que lado vai”, diz o tucano, que prevê “tempos de agitação” pela frente.

“A mudança na sociedade é muito rápida, e as instituições não correspondem mais às demandas das pessoas. Estamos virando uma página. O PSDB faz parte desta página. O que vai acontecer, eu não sei”, admite FH.

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Ana Amélia apoia deputado; petista espera Ciro Gomes

Cristiane Jungblut

Catarina Alencastro

Bruno Góes

Jussara Soares

Sérgio Roxo

Dimitrius Dantas

09/10/2018

 

 

Vice na chapa de Alckmin, senadora adere a Bolsonaro enquanto Haddad faz acenos ao ex-governador do Ceará e a Marina. FH nega ter decidido pelo candidato do PT

No primeiro dia de campanha do segundo turno, o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) começou a receber apoios, como oda candidata avicena chapa de Geraldo Alckmin (PSDB), senadora Ana Amélia (PP-RS), e do candidato tucano ao governo de São Paulo, João Do ria. Doou trolado, Fernand oH add ad( PT) iniciou o desenho da estratégia para buscar alianças no segundo turno com acenosa os adversáriosda primeira etapa. Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) já indicaram que não vão apoiar Bolsonaro, mas ainda não chegaram a um entendimento com o petista.

Os aliados de Bolsonaro afirmam que a campanha não negociará com caciques dos partidos, mas os apoios serão aceitos individualmente. Responsável pela articulação política do candidato do PSL, o deputado Onyx Lorenzoni (DEMRS) disse que adesões serão voluntárias, principalmente por causa da polarização.

— Acho muito natural isso, porque vai virar um plebiscito: volta PT ou não volta PT. Simples assim, fácil assim —disse o parlamentar, que descarta qualquer iniciativa. — Nós não vamos procurar ninguém. Vamos receber as pessoas. Nós dissemos lá atrás que a nossa coligação era com as pessoas.

Por outro lado, o PSL prepara uma reunião, na próxima quinta-feira, com deputados federais e estaduais eleitos, de diversos partidos e de todos os estados, que queiram apoiar Bolsonaro. O encontro, num hotel do Rio, deverá ter a participação do candidato.

Ana Amélia escolheu as redes sociais para expressar sua decisão. Seguindo orientação do seu partido, o PP, no Rio Grande do Sul, ela disse que apoia o capitão reformado para evitar que “o país corra o risco de o PT voltar ao poder”.

— Não há desconforto. É questão de escolha. Eu escolhi disputara vice ao lado de Alckmin. Não tenho com onã otomar posição. Neutra lida deé coisa que gaúcho não aceita — disse Ana Amélia ao GLOBO.

Disputando o segundo turno para o governo de São Paulo, o tucano Doria também declarou apoio a Bolsonaro, que teve ampla votação no estado. Movimento semelhante fez o candida todo PSD B ao governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. A Executiva Nacionaldo PSD B no entanto, só deve ser reunir hoje para discutir como vai se posicionar no segundo turno. A avaliação de lideranças tucanas é que qualquer decisão que o partido tome deve ter pouco efeito prático. Segundo esses políticos, atualmente a sigla não tem força para impo rum posicionamento aseus quadros.

O PSDB é um dos alvos da campanha petista, que tem o desafio de revertera vantagem de 18 milhões deBol sonar o. Além de alterar o programa para retirara polêmica proposta de elaboração de uma nova constituinte, o plano agora é trabalhar no descolamento da imagem de Haddad do ex-presidente Lula.

FH afasta apoio a Capitão

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi às redes sociais ontem para dizer que não manifestou apoio a nenhum dos candidatos à Presidência que disputam o segundo turno. Ao colunista do GLOBO Bernardo Mello Franco, descarta seguir Dória e outros tucanos em direção a Bolsonaro, mas ainda espera compromissos programáticos de Haddad.

— Nenhum dos dois é do meu agrado, mas o Bolsonaro está excluído. Não tem sentido —afirmou FH.

Marina e Ciro, derrotados no primeiro turno, são prioridades no radar de Haddad, que já recebeu apoio de Guilherme Boulos( P SOL ). Ontem,o presidente doPDT, Carlos Lu pi, endureceu o jogo e, depois de ser reunir com Ciro, disse que a adesão do presidenciável da legenda a Haddad será “crítica”, sem participação ativa na campanha petista. Já o PT planeja contar com apoio integral de Ciro. Dirigentes falam inclusive em dar ao pedetista uma papel de destaque na coordenação da campanha no segundo turno.

Ciro recebeu ainda na noite de domingo a ligação de Haddad após o resultado do primeiro turno, mas na ocasião o petista foi protocolar e não tratou de segundo turno, apenas o parabenizou pela passagem à nova etapa.

Dentro da nova estratégia do PT, até as visitas a Lula, no Paraná, podem ser revistas. Numa reunião ontem, coordenadores petistas discutiram a necessidade de o comando da campanha ter mais liberdade de decisão, sem necessidade de que decisões estratégias tenham sempre aval de Lula. Um dos coordenadores diz que, como está preso, Lula não consegue sentir com exatidão a temperatura das ruas.