Título: Efeito Maluf na chapa de Haddad
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 20/06/2012, Política, p. 7

Erundina desiste de ser a vice do ex-ministro da Educação na disputa pela prefeitura de São Paulo, após divulgação da foto de Lula com o deputado federal, um rival histórico. PSB abre mão de indicar o substituto dela

A foto de Luiz Inácio Lula da Silva e do candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, ao lado do deputado Paulo Maluf (PP-SP) sepultou os planos do PSB e da deputada federal Luíza Erundina. Em reunião na tarde de ontem, a parlamentar abriu mão de ser vice do petista e o PSB abdicou da tarefa de indicar um nome para substituí-la. "Continuamos na aliança e faremos de tudo para eleger Haddad prefeito de São Paulo, mas ele e o PT estão livres para escolher um nome que melhor componha a chapa, mesmo sendo alguém de fora do PSB", disse o governador de Pernambuco, Eduardo Campos.

Campos reuniu-se com Erundina; o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral; e o secretário-geral do partido, Carlos Siqueira, na Fundação João Mangabeira, uma das sedes do partido em Brasília. Erundina disse que sua decisão era irrevogável e que ela não alteraria em nada as declarações dadas ao longo do fim de semana. Desde que a aliança do PT com o PP se confirmou, a ex-prefeita de São Paulo deu entrevistas reclamando e demonstrando incômodo, mas ressalvando que, em certos momentos, a política real não é a ideal.

Na conversa de ontem, Eduardo Campos e Erundina concordaram que, se a decisão não fosse tomada de maneira rápida, toda a campanha de Fernando Haddad seria contaminada por essa polêmica. Campos comunicou a decisão a Haddad, e Roberto Amaral avisou a decisão do partido ao presidente nacional do PT, Rui Falcão. Segundo apurou o Correio, Haddad esperou até o último momento que o PSB revertesse a decisão de Erundina.

Eduardo Campos não quis comprar polêmicas diretas com o PT. Mas reconheceu que o PSB fez todo o esforço para concretizar a aliança e ofereceu o melhor quadro que tinha para ser vice de Haddad. "Eu adoraria ter outras Erundinas no PSB de São Paulo, mas não temos", disse ele. "Nós fomos os primeiros a formalizar a parceria com uma candidatura que enfrentava dificuldades em buscar apoios. Esperamos que esse episódio sirva de aprendizagem."

Conversas Em São Paulo, Haddad acusou o golpe. "Não gostei, gostaria que ela permanecesse", disse o petista, em tom de desolação. "Não contávamos com essa decisão", emendou. Ele cancelou a parte final de sua agenda, após passar um dia inteiro em campanha na região de Aricanduva, Zona Leste da capital. A saída do PSB da chapa de vice obriga os petistas a corrigirem os rumos. Haddad afirmou que vai conversar com as lideranças partidárias que o apoiam e que aguardará a decisão do PCdoB até o fim da semana. Ele revelou que assim que foi comunicado por Campos, avisou Orlando Silva sobre a desistência de Erundina, levantando as suspeitas de que poderia convidar o ex-ministro do Esporte para a chapa.

Mas a exemplo do PSB, o PCdoB também ficou incomodado com a aproximação do PT com o PP de Paulo Maluf. E admitiu retomar as conversas com o PMDB de Gabriel Chalita. Os petistas também correram para conversar com o PMDB tão logo foi confirmada a desistência de Erundina. Mas negaram o pedido para que Chalita abrisse mão da candidatura. O vice-presidente do PMDB, Michel Temer, foi cauteloso ao comentar a aliança de Haddad com o PT de Paulo Maluf, esquecendo-se de que ele também estava negociando essa parceria. "Digamos que não foi útil para o PT."

Até a oposição comentou o episódio. "Você tem uma participação dos partidos aliados, obviamente, respeitando a meritocracia. Outra coisa é você, às vésperas da eleição, começar a ceder espaços do governo para garantir alianças partidárias", criticou o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

Análise da notícia Golpe na militância O pragmatismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ceder às exigências de Paulo Maluf e posar para fotos em público em troca de um minuto e meio no horário eleitoral gratuito foi vencido pelo discurso da esquerda paulistana. Fernando Haddad terá o tempo do PP no horário eleitoral, mas perdeu um dos principais quadros do PSB — a deputada Luíza Erundina — na vaga de vice.

Sem Erundina, Haddad enfrentará dificuldades para trazer os petistas históricos. A deputada e ex-prefeita de São Paulo também era a última esperança do PT de aproximar a ex-prefeita Marta Suplicy para a campanha à prefeitura. "Lula jogou fora um mês de trabalho ininterrupto que tivemos para convencer Erundina a ser vice do PT", reclamou ao Correio um integrante da direção nacional do PSB.

Lula tem se esmerado em ressuscitar desafetos sob o discurso da governabilidade. Redimiu José Sarney (PMDB-AP), Jader Barbalho (PMDB-AP) e até Fernando Collor (PTB-AL), contra quem foi às ruas em 1992 durante a campanha pelo impeachment. Mas posar ao lado de Paulo Maluf, a quem chamou de ladrão mais de uma vez, foi demais para a militância petista e para os eleitores da esquerda paulistana. (PTL)

Juiz manda PT validar prévias Uma decisão da Justiça mexe com o cenário eleitoral de Recife. O juiz da 3ª Vara Civil do Recife, Francisco Julião de Oliveira Sobrinho, determina que o diretório municipal do PT deve homologar a candidatura à reeleição do prefeito João da Costa. Na avaliação do juiz, é válida a prévia realizada pelo partido em 20 de maio. João da Costa derrotou por quase 600 votos de diferença o deputado federal Maurício Rands. A Executiva Nacional do PT anulou a disputa e decidiu que o candidato a prefeito seria o senador Humberto Costa. Até o fechamento desta edição, os advogados do partido tentavam entender os efeitos da decisão judicial.