O Estado de São Paulo, n. 45640, 02/10/2018. Política, p. A8

 

Campanhas de Dilma custaram R$ 1,4 bi, diz relator

Ricardo Brandt, Julia Affonso, Fausto Macedo e Luiz Vassallo

02/10/2018

 

 

Palocci afirma que Lula pediu a Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás, a construção de sondas para gerar recursos para candidaturas em 2010

 

2011. A então presidente Dilma Rousseff participa de cerimônia da Petrobrás com Gabrielli

As campanhas presidenciais de Dilma Rousseff em 2010 e 2014 custaram R$ 600 milhões e R$ 800 milhões, segundo delação premiada do exministro Antonio Palocci. O valor de R$ 1,4 bilhão supera em 2,7 vezes o declarado ao Tribunal Superior Eleitoral. O gasto oficial informado para a disputa de 2010 foi de R$ 153 milhões e para a 2014, R$ 350 milhões.

Palocci afirmou que, em uma reunião em janeiro de 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva solicitou ao então presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, a construção de sondas para garantir recursos para a campanha de Dilma, que era a ministra da Casa Civil.

Na delação, feita em 13 de abril, cujos trechos foram divulgados ontem, Palocci, ex-ministro da Fazenda de Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma, atribui ao ex-presidente envolvimento em um esquema de loteamento de cargos estratégicos na Petrobrás. Na época da reunião, Palocci era deputado federal.

“O então presidente da República foi expresso ao solicitar do então presidente da Petrobrás que encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do país e do Partido dos Trabalhadores com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava”, registra o Termo 01 da delação premiada de Palocci.

Preso e condenado a 12 anos e um mês de pena na Operação Lava Jato, Lula teria orientado Palocci a ser o responsável pelo gerenciamento dos recursos. “Na mesma reunião, afirmou que caberia ao colaborador (Palocci) gerenciar os recursos ilícitos que seriam gerados e o seu devido emprego na campanha de Dilma Rousseff para a Presidência da República.”

Palocci dá peso especial ao encontro com Lula, Dilma e Gabrielli. “Foi a primeira reunião realizada por Luiz Inácio Lula da Silva em que explicitamente tratou da arrecadação de valores a partir de grandes contratos da Petrobrás”, registra o Termo 01. “Havia um interesse social e um interesse corrupto com a nacionalização e desenvolvimento do projeto do pré-sal”, sustentou Palocci.

O termo – são dezenas ainda sob sigilo – foi anexado ao processo penal contra Lula aberto pelo juiz federal Sérgio Moro, de propinas da Odebrecht na compra de um terreno para o Instituto Lula, em São Paulo, e do apartamento usado por ele em São Bernardo do Campo.

Dilma. A delação de Palocci descreve um cenário no qual governos do PT uniram um cartel de empreiteiras, que fatiou as obras de refinarias. Em outros capítulos ainda não públicos, a delação premiada homologada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), a segunda instância da Lava Jato de Curitiba, aponta o financiamento e criação da empresa Sete Brasil, em 2010, a intermediária privada da Petrobrás para a contratação de estaleiros para construção e operação dos navios-sonda para exploração do petróleo da camada de pré-sal.

O negócio de US$ 22 bilhões teria envolvido propina de 1% para o PT e demais envolvidos. Seguindo a política de nacionalização da indústria nas construções e reformas de refinarias – lançada no primeiro governo Lula (2003-2006), a produção naval voltada ao petróleo com conteúdo nacional reservou 70% dos negócios para empreiteiras, que se associaram às multinacionais como Mitsui, Kepell Fels, que detinham a expertise industrial.

Segundo o delator, Lula teria exigido que os recursos para o PT fossem pagos pelas empresas nacionais. Os estaleiros contratos pela Sete Brasil foram o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), o Brasfels, o Estaleiro Rio Grande, o Enseada Paraguaçu e o Jurong Aracruz.

 

'Futuro'

“(Lula) foi expresso ao solicitar do então presidente da Petrobrás que encomendasse a construção de 40 sondas para garantir o futuro político do País e do Partido dos Trabalhadores com a eleição de Dilma Rousseff, produzindo-se os

navios para exploração do pré-sal e recursos para a campanha que se aproximava.”

Antonio Palocci​, EX-MINISTRO DA FAZENDA E DA CASA CIVIL EM DELAÇÃO PREMIADA