O globo, n. 31119, 19/10/2018. País, p. 4

 

Bolsonaro mantém vantagem

Marco Grillo

19/10/2018

 

 

Deputado tem 59% dos votos válidos, 18 pontos à frente de Haddad, com 41%

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, permanece na frente da disputa pelo Palácio do Planalto, com uma vantagem de 18 pontos percentuais sobre o adversário, Fernando Haddad (PT). Pesquisa Datafolha, divulgada ontem, mostra que o capitão da reserva tem 59% das intenções de voto válidos, que desconsideram brancos e nulos, enquanto o exprefeito de São Paulo marca 41%. A situação manteve-se estável na comparação com o levantamento divulgado na semana passada, logo após o início do segundo turno — Bolsonaro oscilou um ponto percentual para cima, e Fernando Haddad oscilou um para baixo. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos.

Na contagem dos votos totais, o candidato do PSL tem 50%, e o petista, 35%. Brancos e nulos somaram 10%, enquanto 5% dos eleitores não souberam responder.

Além de não ter se aproximado de Bolsonaro em uma semana e meia de campanha no segundo turno, a pesquisa traz outra má notícia para Haddad: a rejeição de 54% do eleitorado — o índice de Bolsonaro neste quesito é de 41%. É uma tendência inversa à da maior parte do primeiro turno, quando a reprovação ao candidato do PSL era consideravelmente maior que a de seus principais adversários — a rejeição a Haddad começou a se aproximar no final da fase anterior da campanha. A possibilidade de o petista tirar votos de Bolsonaro, o que seria obrigatório para conseguir a vitória, também é remota, segundo o Datafolha: 95% dos eleitores do capitão da reserva demonstram convicção no voto, enquanto 5% admitem a possibilidade de mudar de ideia.

Para manter a vantagem, a equipe de Bolsonaro adotou como estratégia evitar os embates diretos com Haddad, que tem cobrado a participação do adversário nos debates organizados pelas emissoras de televisão. Apesar de liberado pela equipe médica, o candidato do PSL confirmou

ontem que não irá aos encontros que estavam programados para a semana que vem (Record e Globo), alegando desconforto por ainda estar usando uma bolsa de colostomia. O cálculo da coordenação de campanha é simples e anterior às possíveis razões médicas: com as transmissões ao vivo no Facebook e espaço diário nos telejornais, Bolsonaro consegue contato direto com o eleitorado sem estar exposto aos ataques que Haddad direcionaria a ele em um confronto direto.

Já o petista, que precisa alcançar um desempenho que jamais outro político teve — vencer uma eleição presidencial no segundo turno depois de ficar atrás no primeiro —, tem tentado desgastar a imagem do adversário, sem sucesso. A esperança de construção de uma “frente democrática”, com Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso, também naufragou.

Apoio a debates

De acordo com o Datafolha, 73% dos eleitores afirmam que Bolsonaro deveria ir aos debates; 23% dizem que ele não deveria ir, enquanto 4% não souberam responder.

Os recortes da pesquisa presidencial do Datafolha mostram o cenário de estabilidade revelado no dado global e as diferenças de perfis de cada eleitorado. Bolsonaro vence no Sul (61% dos votos totais contra 27%) e Sudeste (55% a 29%), enquanto Haddad está à frente no Nordeste (53% a 31%). O candidato do PSL tem uma vantagem maior entre os homens (58% a 32%) do que entre as mulheres (43% a 39%).

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Líder da corrida já conduz ‘na ponta dos dedos’

Paulo Celso Pereira

19/10/2018

 

 

Nas transmissões de provas de Fórmula 1, Galvão Bueno imortalizou um bordão para os momentos em que o líder da corrida abria tamanha vantagem sobre o segundo colocado nas voltas finais que bastava não cometer um grande erro para levar o troféu: “Agora é na ponta dos dedos!”. Essa é rigorosamente a situação de Jair Bolsonaro hoje.

Ao contrário das eleições de 2014, quando a divulgação das pesquisas de segundo turno eram precedidas por enorme expectativa, as deste ano são marcadas por calmaria. O motivo é a imensa distância que separa Bolsonaro de Fernando Haddad.

As três primeiras sondagens nacionais realizadas até agora por Datafolha e Ibope são quase idênticas. Após transcorrer mais da metade do segundo turno, o capitão reformado mantém uma monótona distância de quase 20 pontos percentuais para o petista.

Os intensos ataques mútuos entre as duas campanhas parecem nada afetar o eleitor. O esvaziamento das candidaturas de Geraldo Alckmin e Marina Silva na reta final do primeiro turno mostra que o voto útil foi antecipado. Hoje, a impressão é que nada fará o eleitor arredar pé da opção que fez.

Os apoiadores de Bolsonaro parecem decididos a impedir que o PT —e a política tradicional —voltem ao Palácio do Planalto este ano. Ontem, a campanha de TV de Haddad exibia um vídeo em que Bolsonaro batia continência para uma bandeira americana. É difícil acreditar que isso vá emocionar quem já escolheu o deputado do PSL tolerando suas declarações homofóbicas, misóginas, racistas e as polêmicas opiniões de seus aliados em relação à economia.

Do outro lado, por mais que Bolsonaro insista em levar para a TV e as redes sociais os diversos casos de corrupção envolvendo o PT, é difícil acreditar que o eleitor que migrou para Haddad possa ainda ser surpreendido e desista de dar seu voto no petista em função da delação de Antonio Palocci ou da exibição das fotos de Lula e Dilma Rousseff com Hugo Chávez e Nicolás Maduro.

A eleição se mostra consolidada. E é ainda mais difícil haver uma flutuação significativa de última hora sem debates diretos entre os dois. Apesar de ter sido uma das notas mais trágicas da eleição até agora, o atentado sofrido por Bolsonaro em Juiz de Fora (MG) facilitou sua tarefa de evitar riscos desnecessários.

Ainda que 67% dos entrevistados achem muito importante a realização de debates e 73% defendam que Bolsonaro compareça, ele e sua equipe terão sempre a seu lado o álibi de que sua saúde inspira cuidados. O país também. Pena que, mesmo após dois meses de campanha, ainda haja tão poucos sinais do tratamento que o líder das pesquisas pretende adotar.