Título: Começa a corrida municipal
Autor: de Tarso Lyra, Paulo
Fonte: Correio Braziliense, 01/07/2012, Política, p. 2

A disputa pela cadeira de prefeito das 5,5 mil cidades brasileiras começa oficialmente hoje, após o encerramento do prazo para as convenções partidárias. Em outubro, a extensão da influência regional das legendas pelos próximos quatro anos será definida nas urnas. PT e PSDB, os dois principais partidos do país, disputam uma guerra particular em São Paulo. Fernando Haddad, do PT — que realizou convenção ontem — e José Serra (PSDB) nacionalizaram uma eleição que deveria ser local. São Paulo é a cidade mais complexa do país para se administrar, mas os dois partidos enxergam na corrida pelo Executivo paulistano uma chance para se cacifar para 2014. "Se preciso for, vou morder a canela dos adversários para eleger Haddad", disse, na semana que passou, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os petistas querem retomar a prefeitura paulistana — a mais cobiçada entre as capitais (veja quadro) — e, em 2014, vencer as eleições para o governo de São Paulo, considerado o último bastião da oposição no país. "Queríamos encerrar esse capítulo triste da história da cidade de São Paulo no primeiro turno das eleições", afirmou Haddad, durante a convenção de ontem. O PSDB sabe disso. "Precisamos vencer para evitar a mania hegemonista do PT", defendeu um dos coordenadores da campanha de Serra, o deputado Walter Feldmann (PSDB-SP).

Cada partido terá suas grandes estrelas nessa campanha. No caso de PT e PSDB, são Serra e Haddad. Já o PMDB aposta as fichas na reeleição do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes — se isso acontecer, ele será o comandante da cidade durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016; e no deputado federal Gabriel Chalita, candidato do partido à prefeitura paulistana.

Durante evento em Brasília, em maio, Temer indicou aos correligionários que as eleições de outubro são fundamentais para a legenda, que já comanda 1,1 mil cidades — campeã de prefeituras entre os partidos. "Vamos eleger o maior número de prefeitos, o maior número de vereadores e ainda os presidentes da Câmara e do Senado em 2013. Vamos mostrar nossa força", conclamou.

Já o PCdoB trabalha para eleger a deputada federal Manuela D"Ávila em Porto Alegre. Os comunistas tentaram, sem êxito, atrelar a indicação de Nádia Campeão (PCdoB) como vice de Haddad a um apoio em primeiro turno a Manuela. Ficou acertado que PT e PCdoB estarão juntos no segundo turno da capital gaúcha.

Já o PSB do governador Eduardo Campos planeja voos mais altos a partir destas eleições municipais. Marcou posição no coração do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao anunciar o apoio à candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. "Além de tratar-se da mais importante cidade do país, o apoio ao candidato do PT representava e representa a melhor opção para as forças progressistas do país", disse o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, em texto encaminhado ao Correio.

A conduta do PSB é estratégica. Embora diga que a tendência é concorrer ao Senado em 2014, após dois mandatos à frente do governo de Pernambuco, Eduardo Campos não descarta ser vice de Dilma Rousseff ou do próprio Lula, caso o PMDB perca espaço na coalizão presidencial.

Por isso, Campos apressou-se para procurar Lula e explicar que a decisão do partido de rachar com o PT em Recife, lançando Geraldo Júlio para concorrer com o senador Humberto Costa (PT-PE), não tem nenhuma relação com a aliança nacional entre os dois partidos. "Nada disso põe em risco a aliança nacional responsável pelo projeto político que ensejou os governos de centro-esquerda de Lula e Dilma", completou Amaral.

Briga Em Belo Horizonte, no entanto, a briga é intensa. Depois de um quebra-pau no encontro municipal que definiu o apoio do PT ao prefeito Márcio Lacerda, o clima de tensão prosseguiu na convenção de ontem, com uma parte dos petistas querendo romper a aliança. No fim, o PT decidiu romper a parceria com o PSB e lançou o vice-prefeito Roberto Carvalho. Integrante da direção do PT, o deputado Virgílio Guimarães sinaliza que poderá haver uma intervenção da Executiva Nacional para assegurar a aliança com Márcio Lacerda.

As disputas municipais também marcam o retorno à cena de alguns políticos que andavam esquecidos. Ex-líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio concorrerá à prefeitura de Manaus. Em Fortaleza, o DEM resgatou o ex-deputado e atual pastor mórmon Moroni Torgan para disputar a prefeitura de Fortaleza.