O globo, n. 31133, 02/11/2018. País, p. 7

 

Agricultura e Meio Ambiente devem ficar separados

02/11/2018

 

 

Bolsonaro recua de ideia apresentada durante a campanha e diz que está ‘pronto para voltar atrás se for o caso’

Em entrevista a emissoras católicas e em coletiva de imprensa, o presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou ontem que não deve levar adiante a fusão dos Ministérios da Agricultura e Meio Ambiente. A ideia de unir as duas pastas em uma foi anunciada pelo próprio Bolsonaro durante a campanha, mas desagradou tanto a ambientalistas quanto ao agronegócio e o fez recuar.

— O Brasil é o país que mais protege o meio ambiente. Nenhum país do mundo protege tanto quanto nós. Pretendemos proteger, mas não criar dificuldades para o nosso progresso — afirmou o presidente eleito, completando. — Havia uma ideia de fusão, mas pelo que parece será modificada. Ao que tudo indica, serão dois ministérios distintos —afirmou, salientando, no entanto, que o escolhido para o Meio Ambiente não vai ter “caráter xiita como nos últimos governos”.

A proposta de fundir as duas pastas foi apresentada por Bolsonaro no início da campanha no contexto de uma medida maior de redução de ministérios. No meio do processo eleitoral, ele voltou atrás em nome do diálogo, segundo ele. Mas a fusão voltou à pauta depois das eleições. Para o cargo de ministro da Agricultura, Bolsonaro pediu a indicação de um nome à bancada ruralista.

Na entrevista coletiva, Bolsonaro disse que ainda há dois meses para decidir se une ou não as pastas, mas repetiu que, em princípio, serão ministérios distintos. O presidente eleito afirmou que, caso as duas pastas fiquem separadas, não haverá muita diferença já que é ele quem indicará os dois comandantes.

— Em um primeiro momento houve uma unanimidade dos ruralistas em querer a fusão, hoje em dia não existe mais essa unanimidade. Nós podemos voltar atrás na possibilidade de fundir o Meio Ambiente com a Agricultura. Mas não vai ter muita diferença porque quem vai indicar o ministro do Meio Ambiente sou eu —disse.

Sobre o perfil de um futuro ministro do Meio Ambiente, Bolsonaro afirmou que ele não será “xiita” em relação ao tema e que não haverá pressão de ONGs por indicações.

— A ideia surgiu de um colega e foi bem recebida porque sempre houve uma briga entre ministério da Agricultura e Meio Ambiente. E tínhamos que pacificar isso aí. Depois, com o passar do tempo, os próprios ruralistas acharam que não era o caso para evitar pressões internacionais entre outras coisas e eu estou pronto para voltar atrás se for o caso, não tem problema nenhum — afirmou. — Só que quem vai indicar o ministro do Meio Ambiente é o Jair Bolsonaro. Vai ser uma pessoa que não vai botar ninguém lá por pressão de ONGs e que tenha um trabalho xiita em relação ao Meio Ambiente. Nós queremos preservar o meio ambiente, mas não da forma como o ministério vem fazendo.

Titulares reclamaram

Na semana passada, o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Nabhan Garcia, disse, após uma reunião com o presidente eleito, que a fusão entre os ministérios não estava definida. A declaração contrariou o que foi dito por outro integrante da cúpula bolsonarista, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. O deputado dissera que que a junção já estava confirmada.

O anúncio da união das pastas fez com que os dois ministros atuais reagissem. Edson Duarte, do Meio Ambiente, divulgou uma nota afirmando que vê com “surpresa e preocupação” o anúncio e que junção traria danos para as duas áreas” Blairo Maggi, que comanda a Agricultura, lamentou a decisão e disse que a fusão trará prejuízos ao agronegócio brasileiro, muito cobrado pelos países da Europa pela preservação do meio ambiente.

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Jornais e agências são barrados em entrevista coletiva

02/11/2018

 

 

Equipe de Bolsonaro dá acesso somente a emissoras de televisão e sites; questionado, presidente eleito diz que não faz restrição

O staff do presidente eleito, Jair Bolsonaro, proibiu a entrada de parte dos profissionais de imprensa que aguardavam o começo de uma entrevista coletiva, na tarde de ontem. Apenas emissoras de televisão e sites foram autorizados a entrar no seu condomínio, na Barra da Tijuca, apesar da solicitação de credenciamento ter sido feita por todos os repórteres. Jornais e agências internacionais foram barrados.

Uma agente da Polícia Federal destacada para fazer a triagem dos veículos autorizados alegou questões “de espaço físico” para impedir a entrada de representantes de todos os jornais e das rádios presentes. Em outro momento, ela afirmou que a autorização dos profissionais era “de dentro para fora”, explicando que a ordem partiu de dentro da casa do Bolsonaro. Ao todo, 21 pessoas tiveram a permissão para ir à entrevista.

Questionado sobre os critérios para a seleção dos repórteres, Tercio Arnaud Tomaz, que se apresentou como assessor de comunicação do presidente eleito, afirmou que apenas TVs participariam da entrevista, apesar de profissionais de sites terem sido autorizados. É praxe, no entanto, que coletivas de autoridades permitam a participação de todos os meios profissionais de comunicação.

Durante a entrevista, questionado sobre o porquê de veículos impressos, como O GLOBO, Valor, “Folha de S.Paulo” e “Estado de S.Paulo”, além de agências internacionais, terem ficado fora da coletiva, Bolsonaro respondeu:

—Ah, não sei. Quem marcou isso não fui eu, tá ok? Eu tenho consideração com vocês, eu não mandei restringir ninguém, não.

Outros integrantes da equipe de Bolsonaro também foram questionados sobre os critérios da escolha de profissionais e o porquê de Bolsonaro não se colocar à disposição para responder perguntas de todos os veículos. Não houve resposta.

Desde que voltou ao Rio no fim de setembro, após 23 dias internado no Hospital Albert Einstein em São Paulo, Bolsonaro tem aberto sua casa para receber grandes grupos de apoiadores, como ocorreu ao ser visitado por dezenas de parlamentares das bancadas da bala, evangélica e do agronegócio, por exemplo.

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Malta agora é cotado para ‘Ministério da Família’

Jussara Soares

02/11/2018

 

 

Nova pasta reuniria Direitos Humanos e Desenvolvimento Social; para Mourão, senador derrotado virou um ‘elefante na sala’

Aliado de longa data do presidente eleito Jair Bolsonaro, o senador Magno Malta (PR-ES), derrotado nas urnas em busca da reeleição, é um dos cotados para assumir um novo ministério que integraria as pastas de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos. Bolsonaro, que sonhava ter o parlamentar como candidato a vice, tem reafirmado que não abre mão de ter a colaboração de Malta.

A saída para o senador, segundo o presidente eleito tem conversado com interlocutores, é entregar a ele as atribuições desses dois ministérios. A avaliação é que a atuação de Malta à frente da CPI da Pedofilia o credencia para a função.

Nos bastidores, a nova pasta tem sido chamada de “Ministério da Família”, título que oficialmente a equipe de Bolsonaro diz não reconhecer. Malta esteve ontem na casa do capitão da reserva para uma conversa.

—Bolsonaro falou comigo que quer botar o Magno em um ministério que tem a ver com o perfil social. Ele tem experiência nessa área —confirmou o pastor Silas Malafaia, amigo de Bolsonaro e de Malta.

“Deserto para o camelo”

Malafaia, no entanto, afirma que o novo ministério ainda não foi detalhado.

—O Magno tem um trabalho social há muitos anos, de recuperação de drogados, negócio de criança, então acho que ele (Bolsonaro) está pensando nisso, pelo que me falou ontem —adiantou o líder religioso.

O senador, no entanto, está longe de ser uma unanimidade na equipe de Bolsonaro. Alguns dos aliados não veem espaço para Malta no novo governo, embora o presidente eleito já tenha expressado o desejo tê-lo ao lado em Brasília.

Vice-presidente eleito, o general Hamilton Mourão admitiu, reforçando ser sua opinião pessoal, que Malta é “um caso” a ser resolvido no governo Bolsonaro.

—Ele deve estar à procura. É aquela história, ele desistiu de ser vice do Bolsonaro para dizer que ia ganhar a eleição para senador lá no Espírito Santo. Agora ele é um elefante que está colocado no meio da sala e tem que arrumar, né? É um camelo, é preciso arrumar um deserto para esse camelo —diz Mourão.

Resposta

Silas Malafaia saiu em defesa do senador e criticou general Mourão. O pastor negou que Malta esteja com o pires na mão em busca de um cargo, mas ponderou que um dos motivos para o senador ter perdido a reeleição foi o fato de ter se dedicado mais à eleição de Bolsonaro do que à sua campanha.

—Elefante é ele. Ele tem que se colocar no lugar de vice, ficar calado —retrucou Malafaia, subindo o tom contra o general.