O Estado de São Paulo, n. 45703, 04/12/2018. Política, p. A13

 

Onyx nega ‘toma lá, da cá’ com partidos

04/12/2018

 

 

Na véspera de reuniões de Bolsonaro com parlamentares, futuro ministro afirma que não haverá barganha na relação com Congresso

Organograma. O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante o anúncio da estrutura do novo governo; total de ministérios chegará a 22

Na véspera de o presidente eleito, Jair Bolsonaro, iniciar uma série de reuniões com parlamentares e líderes de partidos, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), disse que não haverá “toma lá, dá cá” na articulação política do Palácio do Planalto com o Congresso. Também afirmou que é preciso “couro duro” para enfrentar pressões.

Apesar do discurso oficial, Bolsonaro já foi informado de que terá de fazer concessões para aprovar projetos na Câmara e no Senado e planeja alocar políticos aliados no segundo escalão. Uma das bancadas que mais têm se queixado de não estar representada na nova equipe é a evangélica.

“Vou conversar com as bancadas para esclarecer como vai ser o nosso relacionamento com o Congresso”, afirmou Onyx, ao anunciar ontem a estrutura do novo governo, que terá 22 ministérios – sete a mais do que o prometido na campanha. “O famoso ‘toma lá, dá cá’ destruiu a relação com a política e será completamente revisado”, disse o futuro chefe da Casa Civil. “Nada impede que uma bancada indique um médico ou um engenheiro para ocupar um cargo. Mas não será com aquele espírito operativo.”

Até agora ignorados, líderes de partidos na Câmara vão usar os encontros desta semana com Bolsonaro para tentar quebrar a resistência do novo governo a negociar com as siglas.

Nas últimas semanas de transição, o presidente eleito foi alvo de queixas até mesmo de aliados que, até o momento, não participaram da montagem dos ministérios. A aproximação com parlamentares que poderão compor a base governista no Congresso foi costurada por Onyx. Nos bastidores, interlocutores de Bolsonaro admitem que concessões poderão ser feitas em nome da “governabilidade”.

Na mesma linha de Onyx, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, indicado para comandar a Secretaria de Governo, afirmou que, ao conversar com parlamentares, seguirá princípios e valores que não permitirão a troca de favores. “Se você for raciocinar que, para fazer o trabalho certo, não tem dificuldade nenhuma, é só ser norteado por bons princípios. A dificuldade é se começar a se afastar de princípios que são fundamentais”, afirmou Santos Cruz.

Mais tarde, Onyx afirmou que a Secretaria de Governo, sob o comando do general, cuidará da relação com Estados e municípios, e também do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).

Conversas. Entre hoje e amanhã, o presidente eleito receberá as bancadas do MDB, PRB, PR e PSDB no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede da equipe de transição. Os deputados dizem que não pretendem pleitear cargos.

“Não há um compromisso formal nesse encontro. Vamos ouvir o presidente eleito”, afirmou o líder do PSDB na Câmara, Nilson Leitão (PSBD-MT). “Não temos de nos meter na formação do governo.” Leitão afirmou que defenderá como prioridades a aprovação da reforma tributária e de mudanças no licenciamento ambiental.

Para o líder do PR, José Rocha (BA), todos querem saber como Bolsonaro vai construir pontes no Congresso. “Todo mundo sabia que essa história de só conversar com frentes parlamentares não funcionava”, disse Rocha. “Neste momento, falar é prata, calar é ouro. Vamos lá para ouvir”, disse o presidente do PRB, deputado Marcos Pereira (SP), que também quer tratar da polêmica reforma da Previdência com Bolsonaro.

Aliado do presidente Michel Temer, o deputado Darcísio Perondi (MDB-RS) disse que vai pleitear o apoio integral de seu partido a Bolsonaro, sem especificar uma contrapartida. “Estamos construindo esse apoio”, afirmou Perondi.

Em 2019, Perondi – primeiro suplente de deputado federal de seu partido no Rio Grande do Sul – assumirá a vaga na Câmara de Osmar Terra (MDB-RS), que foi reeleito, mas será o ministro da Cidadania do novo governo.