O globo, n. 31145, 14/11/2018. País, p. 6

 

Embaixador é ‘sabatinado’ por filhos de Bolsonaro

Eliane Oliveira

Eduardo Bresciani

14/11/2018

 

 

Cotado para assumir o Itamaraty, Luís Fernando Serra teve encontro com o senador eleito Flávio e o vereador Carlos. Nome do novo chanceler pode sair hoje para comandar área que tem gerado atritos na transição

Cotado para assumir o Ministério das Relações Exteriores, o embaixador Luís Fernando Serra se reuniu ontem pela segunda vez com integrantes do gabinete de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Serra conversou com dois filhos de Bolsonaro: Flávio, senador eleito pelo Rio de Janeiro, e Carlos, vereador carioca, segundo informaram assessores do gabinete.

Na semana passada, o embaixador já estivera no Centro Cultural Branco do Brasil (CCBB) para se reunir com o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que comanda o gabinete de transição.

Ao chegar para uma visita ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), Jair Bolsonaro confirmou que as conversas para a confirmação do próximo chanceler estão adiantadas.

— Está madura, essa questão. Queremos alguém do quadro do Itamaraty — disse o presidente eleito, respondendo com ironia se indicaria uma mulher ou um homem:

— Tanto faz, pode ser gay também.

Fernando Serra, que até recentemente ocupava a embaixada do Brasil na Coreia do Sul, concorre ao cargo com outros diplomatas de carreira do Itamaraty. Entre as opções também estão José Alfredo Graça Lima, que esteve à frente da equipe de negociadores do ex-ministro Luiz Felipe Lampreia, no governo de Fernando Henrique Cardoso, e Sergio Amaral, atual embaixador do Brasil nos Estados Unidos.

Bolsonaro disse que busca alguém que tire o que chamou de “viés ideológico” do Itamaraty, ao ser questionado sobre o perfil que deseja.

— Fazer comércio com o mundo todo, sem viés ideológico com um lado ou com outro, uma pessoa que tenha muita iniciativa.

Nome "da área"

Ele reiterou que o desejo é ter um nome de dentro do Itamaraty para o cargo e comparou a medida com a sua decisão de nomear um militar para a área da Defesa.

— A ideia é ter gente da área, assim como na Defesa, que alguém achava que tinha que estar com um civil, mas é mais que valorizar, é reconhecer o trabalho desses profissionais na sua área — afirmou o presidente eleito.

Sobre Luis Fernando Serra, Bolsonaro disse que “está cogitado, entre outros”.

A área de relações exteriores tem sido uma das mais sensíveis na transição. Depois que Bolsonaro anunciou a intenção de transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo exemplo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, houve reação imediata.

Na semana passada, o Egito cancelou o 2º Fórum BrasilEgito, que aconteceria entre os dias 8 e 11 de novembro. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, participaria do encontro. Vinte empresários brasileiros, que já estavam no país africano, tiveram de retornar ao Brasil.

Ontem, um novo incidente ocorreu, dessa vez com a Noruega. Na segunda-feira, o coordenador da transição, Onyx Lorenzoni fez críticas ao país escandinavo. Após a pergunta de um repórter se o Ibama não fora “salvo” pela Noruega, em razão do histórico de doações para preservação da Amazônia, ele afirmou: “E a legislação brasileira não vale? Só vale a Noruega? E a floresta norueguesa, eles preservaram?”. Ontem, pelo Twitter, o embaixador da Noruega, Nils Gunneng, foi diplomático ao dizer que seu país “aprendeu muito com o Brasil”e convidou Lorenzoni a conversar sobre preservação da Amazônia.