Correio braziliense, n. 20239, 19/10/2018. Brasil, p. 5

 

Operação da PF atinge cúpula do Pros

Rosana Hessel 

19/10/2018

 

 

A Polícia Federal, em parceria com a Receita Federal, deflagrou ontem a Operação Partialis, que atingiu em cheio a cúpula do Partido Republicano da Ordem Social (Pros) — coligada ao PT e ao PC do B na eleição presidencial, na chapa de Fernando Haddad. Foram expedidos pela 2ª Vara de Justiça Federal de Marabá (PA) 17 mandados, sendo quatro de prisão preventiva, quatro de prisão temporária e nove de busca e apreensão. De acordo com levantamentos preliminares da PF, os valores desviados dos cofres públicos “podem chegar seguramente” a mais de R$ 2 milhões.

As ações ocorreram em Marabá e Altamira (PA), além de Brasília, onde fica a sede do partido. Dos oito mandados de prisão, só não foi cumprido o do presidente nacional do Pros, Eurípides Júnior, que não foi localizado, embora avisado, e agora é considerado foragido pela Justiça. O mandado de prisão temporária passa a ser de prisão preventiva. O único preso em Brasília foi o ex-prefeito de Marabá João Salame Neto, da mesma legenda.

Procuradas, a assessoria do Pros e a liderança do partido não comentaram o assunto. O  presidente da legenda não atendeu o celular, que estava desligado. Em nota, o Pros classificou a acusação como “absurda e sem fundamento jurídico algum”, e afirmou que “estará à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários”. De acordo com o comunicado, Salame Neto não integra mais o partido.

Além do ex-prefeito, que ficou detido na capital federal, seis pessoas foram presas no Pará. Os investigados responderão pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, uso de documento falso e apropriação e/ou desvio de recursos públicos. Em caso de condenação, as penas podem somar até 30 anos de reclusão.

 

Origem

A nova investigação é desdobramento da Operação Asfixia, deflagrada em junho de 2016 para apurar fraudes em licitações para aquisição de gases medicinais pela prefeitura de Marabá. Segundo a nota da PF, após a análise de documentos apreendidos, descobriu-se um esquema que consistia na cobrança de valores por servidores municipais em troca de facilidades no recebimento de valores atrasados. Uma anotação que chamou a atenção dos investigadores indicava o depósito de R$ 100 mil reais para uma “parceria” — o que inspirou o nome da operação, do latim, Partialis.

Conforme o Blog do Vicente, o Pros recebeu R$ 4,5 milhões do PT para integrar a coligação de Haddad. Desse total, R$ 694 mil foram repassados pelo presidente do partido para a mãe dele, dona Cida, que concorreu a deputada federal em Goiás, mas não se elegeu. Em 2014, o partido apoiou a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT).

Fundado em 2010 e registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apenas em 2013, o Pros tem histórico de uso do fundo partidário na compra de aeronaves. Em 2015, o partido informou o uso de recursos públicos para a compra de um avião avaliado em R$ 400 mil. Em março de 2017, o Correio informou que Eurípedes Júnior comprou um helicóptero de forma irregular. A PF destaca essa reportagem em seu comunicado de ontem, sem citar o jornal.

Em sua nota, o Pros afirma que a aeronave foi adquirida “dentro da legalidade, seguindo todos os trâmites legais”, no Pará, e já foi vendida. “Não há qualquer envolvimento do partido ou do presidente do partido em atos ilícitos”, concluiu o informativo.

 

R$ 2 milhões

Total estimado dos valores desviados dos cofres públicos por dirigentes do partido, segundo a PF