Correio braziliense, n. 20245 , 25/10/2018. Política, p.3

Militares em 356 localidades

Jorge Vasconcellos

 

 

Nos últimos dias de uma campanha presidencial manchada por ameaças e agressões em diversos pontos do país, 356 localidades contarão com militares das Forças Armadas para garantir a segurança nas seções eleitorais, no próximo domingo. Este número, superior aos 325 registrados nos dois turnos do pleito de 2014, foi anunciado ontem pelo Ministério da Defesa, um dia depois de o titular da pasta, general Joaquim Silva e Luna, afirmar que a votação do segundo turno ocorrerá “em clima de total normalidade”.

O reforço na segurança foi solicitado pelas 356 localidades ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que determinou ao Ministério da Defesa o envio de militares para as missões de Garantia da Votação e Apuração (GVA), destinadas a assegurar a normalidade da eleição, o livre exercício do voto e o bom andamento da apuração. Os estados onde elas serão executadas são Acre, Amazonas, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Tocantins. No primeiro turno, 513 localidades contaram com esse apoio.

Procurado pelo Correio, o Ministério da Defesa não confirmou nem negou a informação, publicada ontem na coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, de que comandantes do Exército, da Marinha, da Aeronáutica têm conversado sobre o receio de que grupos radicais, de ambos os lados em disputa, pratiquem atos de violência após o segundo turno. Segundo a nota, os militares pregam que o próximo presidente faça da conciliação uma prioridade após o resultado das urnas.

O ministério reiterou ao Correio as declarações do ministro Silva e Luna sobre a expectativa de um clima de normalidade no segundo turno. Enquanto isso, no PT, do candidato Fernando Haddad, há forte preocupação com ataques no dia da votação, e a direção do partido se reuniu com líderes de movimentos sociais para orientá-los a não intimidar opositores nem cair em provocações. A cúpula da legenda recomendou os militantes a não andarem sozinhos no domingo.

Além disso, o PT decidiu fazer um chamado para que países “preocupados com a democracia” observem a votação. Se houver ataques a petistas, o discurso será de que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) deve ser visto como corresponsável. Questionado anteriormente a respeito de ataques atribuídos a seus apoiadores, Bolsonaro disse dispensar o voto de quem pratica violência.

O clima de tensão se agravou no último domingo, quando Bolsonaro fez discurso transmitido ao vivo para uma multidão de apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo. O presidenciável anunciou que, se eleito, fará uma “faxina nunca vista” no país e que, se não respeitarem a lei, os “marginais vermelhos” serão “banidos”. O candidato tem sido alvo de muitas críticas por discursos inflamados que estimulariam seus eleitores a cometerem atos violentos contra homossexuais, negros, nordestinos e outros segmentos da população.

No mesmo tom, o coronel reformado Carlos Alves, em vídeo divulgado nas redes sociais, ofende e ameaça a ministra Rosa Weber, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Alves — visto como desequilibrado e sem credibilidade pelo próprio Exército — ameaça a ministra para que “não se atreva” a dar seguimento à ação eleitoral contra Bolsonaro, ou “nós vamos derrubar vocês aí”.

A Polícia Federal já instaurou quatro inquéritos para investigar ameaças à presidente do TSE. “Todos estão identificados. Não existe impunidade, não existe anonimato nas redes”, disse ontem o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. “Nós já sabemos de quem se trata e onde se encontra.”

O Ministério da Defesa, além de enviar efetivos para garantir a segurança da votação em 356 localidades, empregará 27 mil militares no apoio logístico aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Eles atuarão no traslado de urnas e de pessoal da Justiça Eleitoral a locais de difícil acesso. Os militares desempenham essa tarefa acompanhados de servidores da Justiça Eleitoral. Essas operações estavam confirmadas, até ontem, para 91 localidades de cinco estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Roraima.