Título: Ação anti HIV esbarra na falta de diagnóstico
Autor: Castro, Grasielle
Fonte: Correio Braziliense, 20/07/2012, Brasil, p. 9

O maior desafio para o Brasil no controle das contaminações pelo vírus HIV é a busca por pessoas que não sabem que estão infectadas. Estima-se que cerca de 250 mil pessoas das 630 mil que têm o vírus no Brasil não sabem da condição. O teste é a forma indicada para a descoberta. Segundo o Ministério da Saúde, só no ano passado, a cada hora, 851 brasileiros se submeteram à verificação. No total, foram feitos 7,4 milhões de exames, o número é quase o dobro do alcançado em 2003. Só de testes rápidos, introduzidos no Sistema Único de Saúde em 2010, nos primeiros seis meses deste ano foram realizados quase 1,2 milhão — que representa 30% dos exames realizados pelo SUS. Apesar do alto índice, especialistas ressaltam que, além de aumentar a testagem, é fundamental que o país consiga eliminar o preconceito em torno da doença para atingir até a meta estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU) de zero infecções e zero óbitos pela Aids.

Após a fase de testagem, ao descobrir quem está infectado, o governo pode atuar em duas frentes: evitar a morte e reduzir a possibilidade de que outra pessoa seja contaminada, consequências diretas do acesso ao tratamento. "Existe uma enorme vantagem em conhecer o diagnóstico positivo. É possível tratar a doença na hora certa e fica embutido o risco quase zero de transmitir o vírus à alguém. Quanto mais diagnósticos forem feitos, maior a chance de fazermos uma diferença tremenda no número de casos no país", destaca o diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco.

De acordo com Greco, ter conhecimento sobre o vírus também é uma maneira de prevenir. "E só com prevenção é possível conter as infecções", ressalta. A dificuldade, no entanto, está em fazer com que as pessoas façam o exame. "Não adianta ter o teste se as pessoas não fazem", lamenta. O coordenador da Unaids no Brasil, Pedro Chequer, destacou na última quarta-feira, durante a divulgação do Relatório Global 2012 da ONU, que só com o diagnóstico é possível alcançar o controle da doença. Segundo ele, até 2015, o acesso ao tratamento será universal e a chance de se eliminar totalmente a contaminação vertical, da mãe para o bebê, é real, pois ela pode ser evitada com o acesso aos medicamentos.

O infectologista e primeiro secretário da Sociedade Brasileira de Infectologia, Aluisio Augusto Segurado, alerta que não dá para se esquecer que algumas pessoas não buscam saber a sorologia por causa do preconceito. Para ele, paralelamente ao número de testagens, é preciso trabalhar no treinamento dos profissionais que realizam o exame. "Uma vez dando negativo, esse momento pode servir para reforçar os mecanismos de prevenção, como o uso da camisinha. Se positivo, o profissional deve ser acolheador o suficiente para que o paciente saia com uma consulta marcada em um centro especializado para avaliar o grau de imunidade", pontua.