O globo, n. 31169, 08/12/2018. País, p. 6
Bolsonaro: cheque de ex-assessor pagou dívida
Thiago Herdy
08/12/2018
Presidente eleito afirmou que repasse de ex-funcionário de Flávio Bolsonaro para a futura primeira-dama quitou empréstimo de R$ 40 mil, e não de R$ 24 mil, como informa o Coaf; operação não foi declarada no Imposto de Renda
O presidente eleito Jair Bolsonaro confirmou ontem o repasse de dinheiro, por meio de cheques, de Fabrício José de Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro, para a futura primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Na quinta-feira, o jornal “O Estado de S. Paulo” revelou a existência de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras que apontou movimentação financeira atípica de R$ 1,2 milhão de Queiroz entre 2016 e 2017 . Uma das transações listadas é a de um cheque de R$ 24 mil destinado a Michelle.
Em entrevista ao site “O Antagonista”, o presidente eleito disse que, diferentemente do que foi indicado pelo Coaf , não foram R$24 mil, e sim R$40 mil repassados. O valor seria referente ao pagamento de uma dívida.
“Emprestei dinheiro para ele em outras oportunidades. Nessa última agora, ele estava com um problema financeiro e uma dívida que ele tinha comigo se acumulou. Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil”, disse ao site.
Segundo Bolsonaro, o ex-assessor de seu filho mais velho fez dez cheques de R$ 4 mil.
“Eu podia ter botado na minha conta. Foi para a conta da minha esposa, porque eu não tenho tempo de sair. Essa é a história, nada além disso. Não quero esconder nada, não é nossa intenção”, disse.
Bolsonaro afirmou que não registrou a operação financeira no Imposto de Renda. O presidente eleito disse ainda ter se surpreendido com a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. Bolsonaro afirmou ter cortado o contato com o ex-assessor até que ele se explique ao Ministério Público.
Ontem, o deputado Flávio Bolsonaro afirmou que a explicação dada por Queiroz a ele foi “bastante plausível”:
— Hoje (ontem) o Fabrício Queiroz veio conversar comigo. Fui cobrar esclarecimentos dele sobre o que estava acontecendo. Ele me relatou uma história bastante plausível. Me garantiu que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações.
Questionado sobre a origem do dinheiro, o senador eleito disse que não pode dar detalhes a pedido do advogado do ex-assessor.
— E agora... o senhor pode soltar a minha mão!
Pedido de "trégua"
Mais cedo, o futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se irritou e abandonou uma entrevista coletiva ao ser questionado sobre o caso. Antes, Onyx pediu uma “trégua” à imprensa, “em nome do Brasil”. Ele ainda questionou a atuação do Coaf:
— A pergunta é: onde estava o Coaf no mensalão? Onde estava o Coaf no petrolão?