Correio braziliense, n. 20253, 02/11/2018. Política, p. 4

 

PT lidera críticas à indicação do juiz

Lucas Valença

02/11/2018

 

 

GOVERNO DE TRANSIÇÃO » Políticos da oposição questionam isenção de Moro em relação à atuação nos processos contra o ex-presidente Lula, depois de o juiz aceitar o convite de Bolsonaro para a Esplanada

A decisão do juiz Sérgio Moro de assumir um cargo no governo de Jair Bolsonaro, do PSL, foi criticada por membros da futura oposição. O PT, que viu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — presidente de honra do partido — ser condenado e preso por sentença de Moro, voltou a questionar a imparcialidade das decisões proferidas pelo magistrado, além de afirmar que tomará “todas as medidas judiciais cabíveis” para colocar sob suspeição a atuação do juiz. Membros do PSDB se pronunciaram a favor de Moro.

Segundo o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), os membros do partido receberam a notícia de maneira “estarrecida”. Ele tentou associar o fato de o magistrado ter retirado o sigilo do depoimento de Antonio Palocci, uma semana antes do primeiro turno das eleições, a uma possível retribuição de Bolsonaro por meio do Ministério da Justiça. “Se na Itália o juiz da operação Mãos Limpas tivesse aceitado um convite de Berlusconi, teriam todos ido para a cadeia. Esse episódio é o mais grave e expõe, de maneira ímpar, o Poder Judiciário brasileiro”, afirmou.

O parlamentar acredita que a decisão tomada por Moro o retira da situação de conforto. Pimenta explica que, como ministro da Justiça, o magistrado terá de prestar esclarecimentos aos jornalistas, políticos e à população de forma direta. “Sérgio Moro utilizava o argumento de que não entraria na política como prova de sua isenção. Era tudo mentira. O Brasil precisa passar a limpo essa relação promíscua. É um triste fim para a Lava-Jato”, enfatizou Pimenta.

Medidas judiciais, para colocar sob suspeição as decisões proferidas pelo juiz, foram anunciadas pelo líder na Câmara. Uma nova campanha internacional também foi anunciada pelo deputado. Em nota, o PT defendeu que “aos olhos do Brasil e do mundo” o juiz revelou sua parcialidade, em especial, na prisão que expediu do ex-presidente Lula. “Ao aceitar o convite para ser ministro da Justiça, Sérgio Moro revelou suas verdadeiras opções políticas”. O advogado de defesa, Cristiano Zanin, também emitiu documento no qual afirmna que o objetivo do magistrado era de retirar o ex-presidente da disputa eleitoral. “Lula foi processado, condenado e encarcerado sem que tenha cometido crime. É o lawfare na sua essência”, informou em nota.

O candidato derrotado à presidência, Fernando Haddad, se manifestou pelo Twitter. Para ele, o conceito de democracia já não é bem-entendido por “nossa elite”, agora, o conceito de República está em xeque. “O significado da indicação de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça só será compreendido pela mídia e pelos fóruns internacionais”, escreveu.

A presidente atual da legenda, Gleisi Hoffmann, acusou o magistrado de ter recebido o cargo por ter trabalhado em favor da campanha do presidente eleito. “Vazou a delação de Palocci antes das eleições. Ajudou a eleger (Bolsonaro), vai ajudar a governar”, expressou a petista. O candidato à Presidência pelo Psol, Guilherme Boulos, derrotado no primeiro turno, disse que Sérgio Moro resolveu assumir a condição de “político profissional”. Ele explicou que não há problema de juízes deixarem a magistratura para entrar na política, o problema se dá quando se utiliza da toga para fazer política. “Mais do que nunca, suas decisões estão colocadas sob suspeição”, afirmou.

Para o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, que também saiu do Judiciário para atuar na política, a atitude de Moro é coerente com os atos praticados ao longo da Operação Lava-Jato. “Eles (Bolsonaro e Moro) estavam militando no mesmo projeto político: o da extrema direita. O grave problema é esconder interesses eleitorais por baixo da toga. Não há caso similar no direito no mundo inteiro”, declarou. Em entrevista publicada pelo Estadão, no dia oito de novembro de 2016, Sérgio Moro afirmou que “jamais entraria para a política”.