Correio braziliense, n. 20253, 02/11/2018. Cidades, p. 17

 

Quero pacificar a Polícia Civil

Entrevista - Robson Cândido da ​Silva 

02/11/2018

 

 

TRANSIÇÃO 2018 / Em entrevista ao Correio, o próximo chefe da Polícia Civil afirma que montará uma equipe técnica e manterá todas as delegacias abertas 24 horas. Nome foi escolhido pelo governador eleito Ibaneis Rocha (MDB) a partir de uma lista tríplice

O governador eleito Ibaneis Rocha (MDB) agiu rápido. A escolha do delegado que vai comandar a Polícia Civil do DF em sua gestão ocorreu pouco mais de 12 horas depois da eleição pela categoria da lista tríplice. Foi uma forma de evitar guerras nos bastidores que pudessem desgastar os candidatos. A decisão foi tomada no começo da manhã de ontem em conversa com o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do DF (Sindepo), Rafael Sampaio. Ibaneis perguntou: “O primeiro da lista contempla?”. O sindicalista afirmou que os três nomes representam os policiais e que o mais votado seria uma boa escolha. Foi assim que o delegado Robson Cândido da Silva, 46 anos, chefe da 11ª Delegacia de Polícia (Núcleo Bandeirante), virou diretor-geral.

Com 265 votos entre os colegas, Robson superou Benito Tiezzi, ex-presidente do Sindepo, querido na classe, que teve 242 votos. O terceiro na lista, Gilberto Maranhão, conquistou 170 apoios. Poucas vezes esteve com Ibaneis. O contato é apenas institucional. Ele também nunca participou de disputas pelo comando. Jamais se candidatou para listas tríplices.

O sucessor de Eric Seba sempre trabalhou em delegacias circunscricionais. Nunca atuou como titular de uma unidade especializada. Mas conhece bem a realidade da segurança pública. Passou pelas delegacias de Ceilândia, Taguatinga, Gama, Recanto das Emas, Riacho Fundo e, desde 2016, é delegado-chefe no Núcleo Bandeirante.

Nascido em Pires do Rio (GO), Robson está na Polícia Civil há 28 anos. Antes de tomar posse como delegado, em fevereiro de 1999, ele foi agente em Goiás. Agora, no comando da instituição, promete montar uma equipe técnica. Ele não se considera um homem de grupos e pretende trabalhar com critérios de meritocracia. A retomada da autoestima da categoria, a conquista da paridade dos salários da Polícia Civil aos da Polícia Federal, prometida por Ibaneis na campanha, e a abertura das delegacias por 24 horas são algumas metas. Ele também pretende incrementar o combate à corrupção. “Essa é uma demanda nacional, internacional, em todos os acordos de cooperação”, disse.

A escolha foi aplaudida pelo Sindepo e aceita pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sinpol/DF), que suspendeu o processo de eleição de uma outra lista com votos dos demais servidores.

 

Como será assumir o comando da Polícia Civil num momento em que a categoria se encontra abatida pela atual relação conflituosa com o Executivo?

Confio muito no governador Ibaneis. Acredito que ele vai nos resgatar, e a gente vai trabalhar para elevar a autoestima dos policiais. Vamos construir novamente aquela polícia de eficiência, proativa. Sempre fomos considerados a melhor polícia do Brasil. O meu objetivo de vida hoje é resgatar a polícia não só na questão salarial, que é importante, mas também na gestão de pessoas. Quero implementar a meritocracia.

 

O que vai ser considerado na escolha da sua equipe?

O critério técnico. Não tenho nomes, não tenho grupos, não sou de nenhum grupo. Nós vamos, realmente, construir um perfil técnico.

 

O senhor é um delegado político ou técnico?

Como sempre participei das questões sindicais, eu me considero um delegado que vai conseguir trabalhar a questão técnica e também vou conseguir dialogar com a área política.

 

O que levou a uma votação expressiva como primeiro colocado na lista tríplice?

Foi a construção de uma vida dentro da polícia. Sempre fui verdadeiro com os meus pares, buscando o diálogo, sem tentar desconstruir a imagem de outros colegas. Acho que isso foi o principal ponto que me levou a ser o primeiro na lista.

 

Fala-se que o senhor é amigo do deputado Wellington Luiz, o que teria ajudado na nomeação. Procede?

O Wellington é amigo meu, amigo do Sindicato dos Delegados de Polícia, do Sindicato da Polícia. Ele é policial, sempre defendeu os policiais; então, ele não é só meu amigo. É amigo de todos nós, mas acredito que figurar em primeiro da lista foi um fator primordial. Tenho certeza de que ter amizades pessoais não mudariam esse resultado.

 

Será possível abrir todas as delegacias?

Com certeza. Estamos imbuídos desse objetivo. Esse é um compromisso do governador (eleito). Vamos reabrir as unidades e prestar um serviço de qualidade. As pessoas estão precisando de socorro. Tem de ser urgente, porque as comunidades estão carentes de segurança.

 

Como melhorar a autoestima dos policiais?

Nós passamos por uma deficiência muito grande no quadro. É um compromisso do nosso governador realizar novos concursos. É importante que as delegacias funcionem de forma plena, e isso passa pela contratação de policiais, buscando também a questão salarial, que é primordial. Mas não podemos nos apegar somente a isso. Passa pela valorização e pela motivação dos policiais. Quando eu me sentar na cadeira de diretor-geral, quero ouvir os policiais, passar por todas as delegacias, conhecer o que os policiais querem do novo diretor. Quero pacificar a Polícia Civil.

 

A votação interna do seu nome significa um desejo de renovação?

Sim, mas não é só na Polícia Civil. Vimos o resultado das eleições. O próximo diretor, que, no caso, sou eu, tem um compromisso não só de eficiência, mas de renovação no comportamento. Mudança na produção policial. Precisamos ser mais eficientes, fazer um trabalho digno para a população, melhorar o atendimento, investigar mais.

 

O combate à corrupção é uma prioridade?

Com certeza. Essa é uma demanda nacional, internacional, em todos os acordos de cooperação. Nós vamos fortalecer o combate à corrupção e ao crime organizado. Vamos fortalecer ao máximo o que pudermos para combater diuturnamente.

 

Tem algum grupo na polícia que tentou impedir a sua nomeação?

É uma coisa que não poderia falar. As coisas são tão sensíveis, mas acredito que não. O anúncio foi tão rápido.

 

O senhor vai manter as coisas que dão certo na atual gestão?

Com certeza. A gente tem de aproveitar o que há de bom, o técnico. A administração é grande, tem espaço. Temos de valorizar o servidor, não só o delegado. Toda a Polícia Civil precisa ser valorizada, com perfil técnico. Temos de evoluir. Não podemos ficar apenas em grupos.

 

O senhor foi escolhido antes mesmo da definição do próximo secretário de Segurança Pública. Isso pode comprometer a sua relação como chefe da pasta?

Com certeza, não. Tenho um perfil de diálogo, de construção. Tão logo seja anunciado o secretário, quero me apresentar para ele e dizer que teremos um trabalho juntos.

 

O comandante da Polícia Militar também?

Com certeza. Tenho um relacionamento muito bom com a Polícia Militar, sempre tive por onde fui delegado-chefe e delegado de plantão. Sempre tive um tratamento de excelência com os policiais militares. Um bom relacionamento com a PM é primordial para que a segurança funcione.