O globo, n. 31203, 11/01/2019. País, p. 8

 

Flávio falta a depoimento no MP sobre caso de ex-assessor

Juliana Castro

Daniel Gullino

11/01/2019

 

 

Senador eleito quer acesso à investigação, antes de marcar nova data; E diz que não tem ligação com atividades de Queiroz

O deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, não compareceu ontem ao Ministério Público do estado do Rio para depor nas investigações sobre as movimentações financeiras de seu ex-assessor Fabrício Queiroz. O MPRJ divulgou, em 21 de dezembro, que esta era a data sugerida para a oitiva de Flávio, que não é investigado. Ontem à tarde, contudo, o senador eleito afirmou, em suas redes sociais, que só foi notificado no último dia 7.

Ele argumentou ainda que, antes de agendar seu depoimento, vai esperar ter acesso aos autos da investigação sobre a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão, em 2016, na conta de Fabrício Queiroz, apontada em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ). Por ter prerrogativa de foro, o deputado pode escolher a data de seu depoimento. Embora não tenha comparecido ao MPRJ, Flávio tratou do caso em entrevista ao SBT, transmitida na noite passada.

— É o tempo de eu tomar ciência do que é, se eu tiver que produzir algum documento, levar algum documento para o Ministério Público. Esclarecer e ficar longe dessa coisa, porque eu não tenho nada a ver com isso. Vou lá sepultar qualquer dúvida que eles tenham em relação à minha pessoa.

Queiroz e os familiares também já faltaram aos depoimentos marcados pelo MP do Rio. O ex-assessor recebeu depósitos de funcionários e ex-funcionários do gabinete de Flávio e também fazia saques fracionados na boca do caixa.

“Pedi agora uma cópia do mesmo para que eu tome ciência de seu inteiro teor. Ato contínuo, comprometo-me a agendar dia e horário para apresentar os esclarecimentos, devidamente fundamentados, ao MP/RJ para que não restem dúvidas sobre minha conduta”, afirmou o senador eleito, em nota.

O MP do Rio informou em nota que Flávio protocolou ontem requerimento de cópia integral da investigação. O deputado estadual pode ter acesso aos autos, segundo o MP, por ser advogado e por ter sido notificado para prestar depoimento.

“A solicitação do deputado foi em resposta ao ofício encaminhado pelo procurador-geral de Justiça à Presidência da Assembleia Legislativa do Rio (ALERJ) no dia 21/12/ 2018”, afirma o MP do Rio, reafirmando a data da notificação do parlamentar. O órgão diz ainda que o deputado estadual esclareceu que informará local e data “para prestar os devidos esclarecimentos que porventura forem necessários”.

“O Ministério Público do Rio reafirma que as investigações prosseguem com a realização de diligências de natureza sigilosa e oitivas de outras pessoas relacionadas aos fatos em apuração”, afirma a nota.

Queiroz já foi convidado para comparecer ao MP do Rio quatro vezes, mas faltou em todas as ocasiões. Em duas delas, justificou a ausência por conta de problemas de saúde. Ele retirou um tumor no intestino no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Os familiares do ex-assessor, que também trabalharam para Flávio, também não compareceram ao MP na última terça-feira, alegando que haviam se mudado temporariamente para São Paulo com o objetivo de acompanhar Queiroz no tratamento.

De acordo com a defesa de Queiroz, ele está pagando o tratamento em São Paulo com recursos próprios.

"Direcionamento"

Em nota divulgada ontem, Flávio disse que não pode ser responsabilizado por atos de terceiros:

“Reafirmo que não posso ser responsabilizado por atos de terceiros, como parte da grande mídia tenta, a todo custo, induzir a opinião pública”. Ao SBT, ele afirmou que há um “direcionamento” para atingir seu pai, e reclamou do fato das movimentações de assessores de outros deputados não terem o mesmo destaque.

— Eu não sei o que as pessoas do meu gabinete fazem da porta para fora, nem dele nem de ninguém. Não tem como controlar isso, não tenho a menor ideia. Quem tem que explicar isso é ele, se é verdade, se não é. Ninguém dá atenção para os outros casos, de parlamentares com assessores que movimentaram R$ 49 milhões.

No fim de dezembro, Fabrício Queiroz justificou sua movimentação financeira, dizendo que é “um cara de negócios”, que atua com compra e venda de carros. No último dia 3, também ao SBT, Jair Bolsonaro afirmou saber que Queiroz “fazia rolo”. “Agora, quem vai ter que responder é ele”, afirmou o presidente.