Correio braziliense, n. 20291, 10/12/2018. Política, p. 2

 

Bolsonaro fecha equipe ministerial

Gabriela Vinhal e Lucas Valença

10/12/2018

 

 

GOVERNO EM TRANSIÇÃO » Com a escolha de Ricardo de Aquino Salles, do partido Novo, para o Meio Ambiente, a gestão do presidente eleito terá 22 pastas - sete a mais do que o prometido durante a campanha. Nomes mesclam perfis conservadores com liberais na economia

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, anunciou ontem, como de costume no Twitter, o último nome que faltava para compor a Esplanada dos Ministérios a partir de 2019. O advogado e administrador Ricardo de Aquino Salles, do partido Novo, será o ministro do Meio Ambiente. Com a nomeação, o futuro chefe de Estado fecha o governo com 22 pastas — sete a mais do que havia proposto durante a campanha eleitoral, quando prometeu enxugar a máquina pública para apenas 15.

Um dos criadores do movimento Endireita Brasil e filiado ao partido Novo, Salles concorreu neste ano a deputado federal pela sigla, mas não conseguiu se eleger. “A defesa do meio ambiente é um valor inegociável e o faremos com absoluto respeito aos diversos setores produtivos, sem ideologias e com observância do rigor técnico e das leis”, disse à imprensa.

Durante a campanha, inclusive, chegou a ser repreendido pela legenda, após sugerir o uso de armas contra o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) em uma publicação nas redes sociais. A legenda disse não concordar com o teor das postagens dele. O Correio procurou o Novo para comentar a nomeação do advogado. Contudo, a sigla preferiu não comentar, mas ressaltou não ter sido uma indicação feita pela própria legenda.

Entre 2016 e 2017, o futuro ministro trabalhou como secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo. Foi secretário particular do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB). À época, ele e mais duas funcionárias da equipe foram alvos de uma ação de improbidade administrativa por suspeita de esconder alterações em mapas do zoneamento ambiental do Rio Tietê.

Desde a vitória de Bolsonaro nas urnas, o Ministério do Meio Ambiente foi alvo de polêmicas. O presidente eleito afirmou que juntaria a pasta com a Agricultura, mas decidiu mantê-las independentes após repercussão negativa entre pesquisadores, ambientalistas e, inclusive, ruralistas. Mesmo com a desistência, Bolsonaro declarou que a pessoa escolhida para comandar a pasta ambiental deveria estar alinhada com as premissas da deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS), indicada pela bancada ruralista para o Ministério da Agricultura.

 

Avaliação

O analista político Creomar de Souza, professor da Universidade Católica de Brasília, aponta que as polêmicas sobre a montagem do primeiro escalão funcionarão como um teste para saber se os nomes são os ideais para ocupar a Esplanada. Para o especialista, todo início de governo passa por processos de acomodação de forças políticas. No caso de Bolsonaro, a reviravolta ocorre porque o PSL era um partido nanico e se tornará um dos mais fortes do Congresso. “Ele cresceu muito; então, é preciso ajustar algumas questões, porque já é possível ver conflitos dentro da própria base da legenda. Inclusive, porque alguns políticos não se sentem contemplados por essa política de indicação do Bolsonaro”, explica.

Segundo Souza, Bolsonaro conseguiu manter a linha na qual se prontificou em assumir de liberal na economia e conservador nos costumes. Todos os secretários e subsecretários do time econômico têm o mesmo perfil da Universidade de Chicago, com pautas ultraliberais. Por outro lado, nomes que vão chefiar pastas sociais seguem uma dinâmica conservadora, como a pastora Damares Alves, no Ministério dos Direitos Humanos, e Ricardo Vélez-Rodríguez, na Educação. O último, inclusive, fez declarações incisivas contra a ideologia de gênero e a favor dos “valores tradicionais da sociedade, que tange à preservação da vida, da família, da religião, da cidadania, em soma, do patriotismo”.

Atualmente, há 29 órgãos subordinados ao Planalto. A equipe de transição de Bolsonaro optou, entretanto, por remanejar algumas pastas e unir atribuições, como os Ministérios da Fazenda e do Planejamento, e parte do Ministério da Indústria e do Comércio Exterior, no Ministério da Economia, de Paulo Guedes. As pastas da Justiça, da Segurança Pública e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) ficarão na Justiça, do juiz Sérgio Moro. Já os Ministérios da Cultura, do Esporte e do Desenvolvimento Social ficarão na pasta da Cidadania.

Para o cientista político e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Tadeu Monteiro, a redução no número de Ministérios é uma medida “muito mais” simbólica do que, efetivamente, econômica. “Muitas destas funções foram mantidas, já que os problemas seguem existindo. O mundo do trabalho não vai desaparecer com o desaparecimento do Ministério do Trabalho, por exemplo. Então, muitas das funções foram meramente realocadas”, esclarece o pesquisador.

A composição do Ministério já era, de certa maneira, esperada, conta o acadêmico. O presidente eleito já havia afirmado que iria prescindir das indicações partidárias para a composição da Esplanada. No entanto, ainda existe uma desconfiança de como a articulação com o Congresso e a sociedade vai funcionar. “Ele atende aos grupos que o apoiaram. Os grupos políticos, ideológicos e, até corporativos, no caso, os militares. Porém, mais do que a composição dos Ministérios, o importante é conseguir conciliar a governança do país com essas pessoas e com estes grupos políticos”, explica Tadeu Monteiro.

 

Quem é quem

Confira os 22 ministros da gestão de Jair Bolsonaro

 

Casa Civil

Onyx Lorenzoni (DEM), deputado federal

 

Gabinete de Segurança Institucional (GSI)

Augusto Heleno, general

 

Secretaria-geral

Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL

 

Secretaria de Governo

Carlos Alberto dos Santos Cruz, general

 

Justiça e Segurança Pública

Sérgio Moro (sem partido), ex-juiz

 

Educação

Ricardo Vélez Rodríguez (sem partido), filósofo e professor

 

Saúde

Luiz Henrique Mandetta (DEM), deputado federal

 

Cidadania

Osmar Terra (MDB), deputado federal

 

Direitos Humanos

Damares Alves, ex-assessora de Magno Malta

 

Infraestrutura

Tarcísio Gomes da Costa, ex-diretor do Dnit

 

Desenvolvimento Regional

Gustavo Henrique Rigodanzo Canuto, servidor do Ministério do Planejamento

 

Meio Ambiente

Ricardo de Aquino Salles, ex-secretário de Geraldo Alckmin

 

Agricultura

Tereza Cristina (DEM), deputada federal

 

Ciência e Tecnologia

Marcos Pontes (PSL), astronauta

 

Minas e Energia

Bento Costa Lima, almirante

 

Relações Exteriores

Ernesto Araújo (sem partido), diplomata

 

Defesa

Fernando Azevedo e Silva (sem partido), general

 

Economia

Paulo Guedes (sem partido), economista

 

Controladoria-Geral da União (CGU)

Wagner Rosário (sem partido), atual ministro da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União

 

Advocacia-Geral da União (AGU)

André Luiz de Almeida Mendonça (sem partido)

 

Banco Central

Roberto Campos Neto (sem partido)

 

Turismo

Marcelo Álvaro Antônio (PSL), deputado federal