Correio braziliense, n. 20292 , 11/12/2018. Política, p.5

Em busca da governabilidade

Rodolfo Costa

 

 

O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), retoma hoje as reuniões com bancadas dos partidos na Câmara tendo como objetivo a formação da uma base de apoio ao governo e às reformas econômicas. Nesta terça, ele e o futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), recebem deputados do PSD. Amanhã, Bolsonaro se reúne com parlamentares de DEM, PSL e PP. Também estão previstos encontros com os governadores eleitos de Santa Catarina, Comandante Moisés (PSL), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

A conversa com correligionários do PSL é um dos encontros mais estratégicos da semana. Bolsonaro terá a oportunidade de conversar pela segunda vez com os deputados eleitos, desta vez para chamar a atenção para a necessidade de pôr um fim às divergências internas no partido. O recado principal é de que o PSL deixou de ser pedra para ser vidraça, avalia o cientista político Enrico Ribeiro, da Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical.

O PSL terá de aglutinar o máximo de apoio possível a Bolsonaro. “E não é expondo conversas internas que vai se conseguir isso”, alertou Ribeiro. Na semana passada, o vazamento de uma discussão entre Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito, e a deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), causou constrangimento a algumas candidaturas à Presidência da Câmara. Na conversa, Eduardo disse que mantém contato com o líder do PR na Câmara, José Rocha (BA), e que não precisa nem pode ficar falando aos “quatro cantos” o que “anda fazendo por ordem do presidente”.

Lideranças na Câmara não têm dúvida de que o governo eleito nutre simpatia pela candidatura de João Campos (PRB-GO). Mas pregam que Bolsonaro deve, publicamente, manter neutralidade no processo, a fim de evitar desconforto com o Parlamento. Essa é uma sugestão que a bancada do DEM dará ao presidente eleito na conversa de amanhã, afirma o deputado Efraim Filho (PB), vice-líder da legenda na Câmara. “Quanto menos se meter (na disputa pela Presidência da Câmara), mais fácil será conduzir a governabilidade”, ponderou Efraim.

A opção pelo distanciamento de Bolsonaro favorece a reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que busca o apoio de parlamentares mais novatos e articula a montagem de um grande bloco para disputar a reeleição. Hoje, Maia oferece um jantar na residência oficial, no Lago Sul, para deputados recém-eleitos.

O deputado eleito Júnior Bozzella (PSL-SP), responsável por auxiliar a articulação da bancada na Câmara, estará presente. É o primeiro convite formal feito a correligionários do presidente eleito, que também se estende a parlamentares de outras legendas. As sinalizações do jantar serão debatidas em reunião da bancada do PSL, após o encontro com Bolsonaro. “Tem gente que deve ser contra (Maia) e gente que pode ir com ele. Dificilmente vamos caminhar em bloco em relação a uma única candidatura, caso não lancemos candidato próprio”, declarou Bozzella.