O globo, n. 31193, 01/01/2019. País, p. 5

 

No apagar das luzes, Temer nomeia Marun para Itaipu

Karla Gamba

01/01/2019

 

 

Remuneração em conselho de usina é de cerca de R$ 27 mil, por reunião

Em um dos seus últimos atos como presidente da República, Michel Temer nomeou o ministro da Secretaria de Governo e um dos seus mais fiéis aliados, Carlos Marun, para a função de conselheiro de Itaipu Binacional.

O jeton pago aos conselheiros da usina hidrelétrica é o mais elevado do Executivo federal: cerca de R$ 27 mil por reunião. O colegiado se reúne apenas seis vezes por ano, mas podem acontecer encontros extraordinários.

Pela Lei das Estatais, sancionada por Temer em 2016, Marun não poderia ser indicado para o conselho da empresa. A legislação proíbe que pessoas com cargos políticos, como o de ministro, ocupem postos de direção nas estatais. Porém, a exoneração de Marun do ministério foi publicada ontem na mesma edição do Diário Oficial.

Deputado federal pelo MDB, Marun tornou-se ministro de Temer em dezembro de 2017, ficando responsável pela articulação política. Um dos principais defensores do governo, Marun virou uma espécie de porta-voz de Temer.

Pente-fino

O mandato de Marun irá até maio de 2020. Ele substituirá o conselheiro Frederico Matos de Oliveira, que renunciou ao cargo na última semana.

O presidente eleito Jair Bolsonaro planeja, para os cem primeiros dias de seu governo, rever atos dos últimos dois meses da gestão Temer.

O governo quer uma avaliação minuciosa, por exemplo, da produtividade de conselhos e comitês dos quais cada pasta faça parte. No caso de Itaipu, o Ministério das Relações Exteriores tem um assento no conselho de administração. Um levantamento com resultados e decisões deve ser elaborado para verificar a possibilidade de criação de estruturas mais enxutas.

A indicação de aliados para o Conselho de Itaipu é uma prática comum dos últimos governos. O assunto chegou a ser explorado na campanha eleitoral de 2014. Na ocasião, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, cobrou, em um debate de TV, da presidente Dilma Rousseff, que disputava a reeleição, a demissão do então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, do Conselho de Administração da usina Itaipu Binacional.

Também em 2014, outra nomeação para o conselho de Itaipu chamou atenção. Pela primeira vez na História, um assento passou de pai para filho. Com a saída do emedebista Orlando Pessuti —ex-governador do Paraná — para concorrer às eleições daquele ano, quem assumiu o posto foi seu filho Orlando Moisés Fischer Pessuti.

Pessuti pai chegou ao conselho como parte do acordo firmado em 2010 entre o PT e o PMDB para viabilizar a candidatura de Dilma Rousseff à presidência da República, tendo Michel Temer como vice.