O Estado de São Paulo, n. 45857, 07/05/2019. Política, p. A6

 

Militar assume Apex e tira diretores ligados a Araújo

Lorenna Rodrigues

07/05/2019

 

 

Sérgio Segóvia, terceiro presidente da agência, demite Letícia Catelani e Márcio Coimbra, ambos da ‘cota’ do chanceler

 

O novo presidente da Agência de Promoção à Exportação (Apex), Sérgio Segóvia, destituiu do cargo os diretores da agência Letícia Catelani (Negócios), e Márcio Coimbra (Gestão Corporativa). Tanto Letícia como Coimbra são da “cota” do chanceler Ernesto Araújo, enquanto Segóvia foi indicado pela ala militar. Ele é contra-almirante na Marinha Brasileira e atuou em diferentes áreas do órgão.

Segóvia, que assumiu o cargo ontem, é o terceiro presidente da agência no governo Jair Bolsonaro. Desde janeiro, a Apex se tornou um dos principais focos de embate entre “olavistas” – seguidores do escritor Olavo de Carvalho – e militares. Letícia protagonizou disputas com os dois últimos presidentes.

A nota que comunica as exonerações rebate também os comentários de que o novo presidente não teria experiência na área e não fala inglês, duas exigências para assumir o cargo. “Na área de comércio exterior, foi responsável pelos processos de logística e de aquisição internacional, quando encarregado do grupo de recebimento de navio no estrangeiro. É fluente nos idiomas inglês e espanhol”, afirmou na nota, em referência a Segóvia.

Segundo o Estadão/Broadcast apurou, para permitir as demissões, o estatuto da Apex teve de ser mudado pela segunda vez desde o início do ano. No mês passado, o texto já havia sido alterado por Araújo – a quem a agência é subordinada – para retirar poderes da presidência e permitir que os diretores nomeassem servidores. Agora, Araújo “devolveu” os poderes ao presidente.

Letícia chegou a trabalhar na campanha de Bolsonaro e funcionários da Apex tratavam ela como “indemissível” por uma espécie de “dívida de gratidão”. Foi ela quem providenciou um avião para levar o cirurgião Antonio Luiz Macedo a Juiz de Fora após Bolsonaro sofrer uma facada, durante a campanha eleitoral.

Além de Araújo, Letícia é próxima do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Procurada ontem, não retornou. Coimbra disse que já havia solicitado a sua demissão.

No mês passado, o embaixador Mário Vilalva foi demitido da presidência da Apex após criticar Araújo publicamente – ele disse, em entrevista ao Estado, que o chanceler deu um “golpe” ao mudar o estatuto da Apex sem consultá-lo.

Ainda em janeiro, o primeiro escolhido do presidente para o cargo, Alexandre Carreiro, foi dispensado depois de apenas uma semana no cargo. Nos dois casos, a disputa foi a mesma. Tanto Carreiro quanto Vilalva bateram de frente com Letícia.