Correio braziliense, n. 20360 , 17/02/2019. Política, p.2

Bebianno: "Tendência é a exoneração"

Rosana Hessel

Lucas Valença
 
 
 

Um dos principais articuladores da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PSL) será a primeira baixa ministerial em 47 dias de governo. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, aguarda apenas a formalização da demissão, que deverá ocorrer amanhã com a publicação da exoneração no Diário Oficial da União. “A sinalização é essa. A tendência é essa: exoneração”, afirmou ele, ontem, a jornalistas ao deixar o hotel onde mora em Brasília.

Em clima de despedida e na tentativa de sair de cabeça erguida, Bebianno publicou um texto em uma rede social sobre lealdade, atribuído por ele ao escritor e jornalista Edgard Abbehusen. “Uma pessoa leal, sempre será leal. Já o desleal, coitado, viverá sempre esperando o mundo desabar na sua cabeça”, escreveu. “Quando perdemos por ser leal, mantemos viva a honra. Saímos de qualquer lugar com a cabeça erguida ao carregar no coração a lealdade. É ela quem conduz os passos das pessoas que jamais irão se perder do caminho. Que jamais irão se entregar às turbulências. Que jamais irão se entregar às circunstâncias”, continuou o texto. Ao ser questionado sobre o teor da postagem, ele disse apenas que “foi uma mensagem que teve vontade de publicar”.

Ao mencionar o presidente, Bebianno disse ter “carinho”. Contudo, no último encontro com Bolsonaro, o clima não foi amistoso, de acordo com interlocutores do Palácio do Planalto. Bebianno minimizou a tensão e contou que “cada um teve a oportunidade de dizer o que pensa”. Nessa reunião de sexta-feira, o presidente chegou a oferecer a ele um cargo na diretoria de Itaipu Binacional, mas a oferta acabou recusada. “Não estou aqui por causa de emprego”, disse Bebiano ontem. Essa indicação, no entanto, seria vedada pela Lei das Estatais. A regra proíbe a indicação de “ministro de Estado” e de “dirigente estatutário de partido político”. Além de ministro, Bebianno, que é advogado, foi presidente do PSL entre março e outubro de 2018.

 

Repercussão

Apesar da queda de um importante integrante do primeiro escalão em tempo recorde, parlamentares do PSL evitam admitir que o governo esteja no meio de uma crise política. Eles ainda afirmam que a saída de Bebianno não prejudicará o avanço da reforma da Previdência no Congresso, que é a prioridade do governo no momento, cuja proposta do Executivo deverá ser apresentada oficialmente na quarta-feira. “Não existe crise no partido. O que houve foi uma ação e uma reação. Crise é o que acontece com o PT, se tivesse ministro preso. O que ocorreu foi apenas uma ação administrativa corriqueira”, afirmou ao Correio o líder do PSL na Câmara dos Deputados, Delegado Waldir (GO). Ele ainda minimizou o fato de o ministro cair em tão pouco tempo de gestão. “Foi um fato imprevisível. Quem erra e quem fizer atos de corrupção ou quebrar a confiança não ficará no governo. Agora não dá para medir isso no tempo. O que tem que de ser feito é punir. O presidente não pode ficar de braço cruzado”, afirmou ele.

Waldir vinha defendendo a permanência de Bebianno pelo papel exercido durante a campanha, mesmo após as denúncias de desvios de recursos do fundo partidário para candidatos laranjas no PSL no ano passado. Contudo, o deputado reconheceu que não há mais como sustentá-lo no cargo após a quebra de confiança devido ao vazamento de conversa entre o ministro e o presidente. “Não podemos nos esquecer do trabalho de Bebianno. A gente não pode esquecer que o cargo é da confiança do presidente. Houve quebra de confiança e o motivo é o vazamento dos áudios para a imprensa. Essa é a principal razão da demissão”, disse o deputado.

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), defendeu Bebianno e disse que tentou falar com o presidente por telefone, mas sem sucesso. Para ele, o ministro deveria continuar no cargo, porque  acredita que é “absolutamente impossível” que Bebianno tivesse o controle sobre a distribuição dos recursos do fundo partidário nos diretórios estaduais. Na avaliação do senador, que prometeu atuar no Senado pela extinção do fundo, é preciso apaziguar os ânimos no momento, “no sentido da harmonização dentro do governo”. “Não se deve apagar incêndio com gasolina. Tenho conversado com Bebianno e continuo defendendo a permanência dele, mas a decisão é do presidente, que fez o convite por critérios pessoais e ele também tem a condição de definir sobre a permanência do ministro”, declarou. De acordo com o senador, a escolha de Bebiano como ministro foi “pessoal e independente de cota partidária”.

 

Frase

"Não existe crise no partido. O que houve foi uma ação e uma reação. Crise é o que acontece com o PT, se tivesse ministro preso”

Delegado Waldir, líder do PSL na Câmara