O globo, n. 31286, 04/04/2019. País, p. 6

Em CPI, engenheira diz que Vale foi alertada de risco em Brumadinho

Marco Grillo

04/04/2019

A engenheira geotécnica Ana Lúcia Yoda afirmou ontem, em depoimento à CPI do Senado que investiga a tragédia de Brumarinho (MG), que a Vale foi alertada, meses antes do desastre, sobre a redução das condições de segurança da barragem que desmoronou em janeiro. Ela é funcionária da empresa Tractebel, que emitiu laudos de estabilidade da estrutura até junho de 2018.

Yoda tratou a redução do fator de segurança como um “indicativo” de possíveis problemas, mas não um elemento que necessariamente acarretaria no rompimento. Segundo a engenheira, os critérios de segurança da Vale e da empresa vinham divergindo. Depois que a análise da Tractebel verificou a piora da situação e a necessidade de investigação mais ampla, a mineradora contratou outra companhia, a Tüv Süd, que passou a ser responsável pelos laudos a partir de setembro.

– O fato de o parâmetro não ser o mesmo que a gente praticava, de início, não gerava indicativo de ruptura iminente —pontuou a engenheira.

À Polícia Federal, o engenheiro Makoto Namba, que assinou o laudo de estabilidada Tüv Süd, afirmou que se sentiu pressionado por Alexandre Campanha, gerente de geotecnia da Vale, a referendar o documento. Campanha negou a acusação ontem, em depoimento à CPI, e disse que a pressão citada por Namba dizia respeito a uma pergunta feita durante reunião.

– A pergunta foi a seguinte: “Senhor Makoto (Namba), a Tüv Süd já tem posição sobre a condição de estabilidade (da Mina Córrego do Feijão)?" – disse Campanha.

Instado pelo relator da CPI, senador Carlos Viana (PSDMG), a confirmar se sofreu pressão do executivo da Vale, Namba preferiu ficar calado. Além de Namba, o engenheiro André Yassuda, também auditor da Tüv Süd, conseguiu habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) garantindo o direito ao silêncio. Os dois engenheiros e o gerente da mineradora chegaram a ser presos preventivamente no curso da investigação, mas foram soltos por decisões judiciais.