Valor econômico, v.19 , n.4588 , 13/09/2018. Brasil, p.A4​

 

Brics seguem com papel importante na economia global, defende analista

Alex Ribeiro 

Sergio Lamucci 

 

 

 

13/09/2018

 

 

 

O grupo dos Brics segue importante para a economia global, embora o ritmo de expansão da China esteja em declínio e Brasil, Rússia e África do Sul lutem para superar a estagnação, diz o economista Ataman Ozyildirim, diretor de ciclos econômicos do Conference Board, associação de pesquisa sediada em Nova York. Ele destaca em especial o papel que China e Índia - o quinto integrante dos Brics - continuarão a ter, por causa do tamanho e por registrarem longos períodos de avanço robusto do PIB.

Para Ozyildirim, contudo, a Índia não será uma nova China, não devendo ser capaz de substituir completamente o crescimento chinês, em desaceleração nos últimos anos. Ao falar do Brasil, ele aponta o baixo crescimento da produtividade como o grande desafio de longo prazo do país, um dos fatores que explicam as taxas medíocres de expansão da economia. Ozyildirim participou ontem de uma mesa-redonda sobre Ciclos Econômicos nos Brics, durante a 34ª Conferência do Ciret (Centre for International Research on Economic Tendency Surveys), promovida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio.

Ao Valor Ozyildirim lembrou que o "centro da gravidade da economia global" tem se movido em direção aos emergentes há algum tempo. Hoje, a contribuição para o crescimento mundial é praticamente igual entre esses países e os países desenvolvidos, diz ele. "Nesse contexto, os Brics respondem por um grande pedaço dos emergentes." Em 1990, os cinco países do grupo respondiam por 15,7% do PIB global, medido pelo critério de paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês). Em 2016, o número havia subido para 31,1%, como lembram Sergey Smirnov e Daria Avdeeva, da National Research University Higher School of Economics, da Rússia, em artigo para o livro "Business Cycles in Brics", lançado ontem na conferência do Ciret.

Pelos dados de 2016, a China respondia por 17,8% da economia global, pelo critério de PPP, enquanto a participação da Índia era de 7,2%. A fatia do Brasil era de 2,6%, a da Rússia, de 2,8%, e a da África do Sul, de 0,6%.

China e Índia ainda terão grande influência por muito tempo, a despeito do ritmo mais fraco do crescimento chinês, diz Ozyildirim. Dado o tamanho da China, o impacto do que se passa no país asiático sobre emergentes e a economia global continuará muito elevado, embora o país não cresça mais acima de dois dígitos, como durante boa parte da década passada. Em 2017, o PIB chinês teve expansão de 6,9%.

A Índia tende a crescer a um ritmo mais forte do que a China - o Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta avanço da economia indiana de 7,4% neste ano e de 6,6% para a chinesa, por exemplo. Apesar disso, Ozyildirim diz que a Índia não vai compensar totalmente o crescimento mais fraco da China. Em primeiro lugar, pela diferença de tamanho entre as economias. Além disso, o país expandiu mais o setor de serviços, com o setor manufatureiro ficando em segundo plano, apesar de o país ter feito várias reformas que elevaram o crescimento, avalia ele. A questão é que os serviços em geral não têm uma produtividade tão alta quanto a da indústria manufatureira.

Já o Brasil, para crescer, se beneficiou do tamanho da economia, dos recursos naturais e de uma população que ainda era jovem, mas tem sofrido com problemas de produtividade, diz Ozyildirim. "O sucesso depende de quão produtivos são os seus trabalhadores." "No longo prazo, o principal problema econômico do Brasil é a produtividade não tão alta quanto deveria."

Ele é um dos editores do livro sobre ciclos econômicos nos Brics, ao lado de Smirnov e de Paulo Picchetti, da FGV. Num dos artigos, Picchetti usa um modelo econométrico para verificar o grau de interconexão entre os ciclos econômicos do grupo. O exercício considera um conjunto de medidas de nível de atividade para os países dos Brics, tentando separar o que são ciclos comuns, que representam a ideia de conectividade, do que são choques específicos de cada economia, explica o brasileiro. "O que eu encontrei é que há um grau elevado de conectividade, quantitativamente equivalente ao dos países do G-7", diz Picchetti, apontando o "papel proeminente" da China. "No caso da China, porém, quando se fala de ciclo, são ciclos de crescimento, porque o país não tem períodos de recessão e de expansão; eles crescem mais ou crescem menos."