O globo, n. 31340, 28/05/2019. País, p. 6

 

Após atos, Bolsonaro convida Maia para encontro

Jussara Soares

28/05/2019

 

 

Alvo de protestos no domingo, presidente da Câmara será recebido com Davi Alcoloumbre e Dias Toffoli

Após os atos em favor das medidas do governo e com críticas ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro recebe para um café da manhã hoje no Palácio do Alvorada os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

No domingo, foram defendidas pautas nas ruas como a reforma da Previdência e o pacote anticrime do ministro Sergio Moro (Justiça), mas também houve críticas a parlamentares do centrão e ao presidente da Câmara.

No Rio, um boneco inflável de Maia com 3,5 metros de altura foi erguido na orla de Copacabana com termos como “Judas” e “171”. Procurado ontem pelo GLOBO, o presidente da Câmara não se manifestou.

Ontem, o porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, negou que, ao exaltar as manifestações em suas redes sociais, Bolsonaro incentive os atos, que ele mesmo tem reforçado que são espontâneos.

— A espontaneidade foi o mote deste movimento, e é em cima deste contexto, de características que são positivas, que o presidente vem reafirmando e vem opinando sobre este conjunto de manifestações. E é isso — afirmou Rêgo Barros.

No fim de março, Bolsonaro e Maia trocaram críticas em público. O presidente da Câmara chegou a dizer que Bolsonaro estava “brincando de presidir o país”. No mês passado, houve uma reaproximação entre os dois e os atritos em público cessaram.

Maia chegou a se reunir com Bolsonaro para tratar da recriação do ministério das Cidades e da Integração Nacional, mas as negociações não andaram nas últimas semanas.

Rêgo Barros defendeu que “a voz das ruas não pode ser ignorada” e que é preciso um pacto entre os poderes para o país avançar:

— É hora de retribuirmos este sentimento. O que devemos fazer agora é um pacto pelo Brasil. Estamos todos no mesmo barco e juntos podemos mudar o país — disse o presidente, em mensagem lida pelo porta-voz.

Ao ser questionado sobre como Bolsonaro firmará um pacto com os demais poderes, o porta-voz observou que o presidente defende a participação da sociedade com o Executivo, Legislativo e Judiciário para a aprovação de pautas do governo.

—Este pacto há de conformar todos os poderes, toda a sociedade, ultrapassar obstáculos que naturalmente se impõem no ambiente político e no dia a dia da sociedade para que nós cheguemos a cruzar a bandeira final, que é o bem estar da nossa sociedade — respondeu Rêgo Barros.

Presidente nas redes

Bolsonaro voltou a usar as redes sociais, na tarde de ontem, para exaltar as manifestações de domingo, segundo ele “a favor de reformas consideradas impopulares”. O presidente classificou como “históricos” os atos ocorridos em 156 cidades de todos os 26 estados e do Distrito Federal. Ele ressaltou que esses atos teriam sido espontâneos.

“Quando imaginaríamos uma manifestação expressiva a favor de reformas consideradas impopulares? A população mostrou-se extremamente consciente. A peculiaridade deste evento torna injustificável qualquer tentativa de minimizálo”, escreveu.

Bolsonaro ainda comparou o tamanho das manifestações em prol de seu governo com as realizadas contra o bloqueio de verbas para a educação. Essas últimas, segundo ele, teriam sido organizadas por movimentos de esquerda que, segundo o presidente, possuem estrutura “sólida e organizada” e “que por décadas ocuparam espaços e aparelharam instituições" para chegarem onde chegaram.

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Câmara articula pauta independente do governo.

Eduardo Bresciani

Bruno Góes

28/05/2019

 

 

Atos do último domingo a favor da gestão Bolsonaro não devem alterar relação do Planalto com o Congresso

Os atos do último domingo a favor de medidas do governo Bolsonaro não devem alterar a relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Segundo líderes de diferentes partidos ouvidos pelo GLOBO, na Câmara, onde tramitam as reformas econômicas, o caminho será dar andamento a uma pauta independente. Embora o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), esteja afinado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, a tendência é que a agenda do país seja liderada pelo Legislativo.

Na comissão especial da reforma da Previdência, os deputados continuam a debater alterações na proposta do governo. Os parlamentares também já encaminharam uma reforma tributária própria, sem ficar a reboque do Executivo.

Desde a última semana, técnicos e parlamentares negociam o texto de uma proposta que limita a edição de Medidas Provisórias (MPs). Tanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), quanto Maia tentam chegar a entendimento sobre o assunto.

Segundo o vice-líder do governo José Rocha (PRBA), os atos nas ruas do país foram importantes para que o Congresso ficasse atento às demandas de parte da sociedade. Ele ressalta, entretanto, que muitas das pautas são convergentes, como a reforma da Previdência, e que as críticas a Maia são “totalmente injustas”. Apesar de argumentar que o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro, seja importante, ele pondera que não há como queimar etapas:

— Vai tramitar normalmente. Pode ser acelerado, mas não dá para atropelar o regimento.

O líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), enfatiza a necessidade de diálogo entre o governo e o Congresso e identifica pontos convergentes entre as prioridades da Câmara e dos manifestantes. Disse também que o “radicalismo e a beligerância nunca levaram a lugar algum”:

— Ressalto que a maioria deles manifestou-se a favor da reforma da Previdência e do pacote anticrime, ambos em tramitação no Legislativo. Desta forma, a Câmara e o Senado são fundamentais no processo de aprovação das duas pautas. O STF (Supremo Tribunal Federal) também é pilar da democracia e, tenho certeza, contribuirá para o fortalecimento das instituições. Ninguém governa sozinho.

Já o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), disse ainda não saber dimensionar o impacto dos atos pró-governo no cotidiano parlamentar, mas reforça a legitimidade das demandas levadas às ruas no domingo, como fez o presidente Jair Bolsonaro:

— Eu não sei se vai provocar grandes alterações na Câmara, mas acredito que as manifestações foram populares, de pautas legítimas, na sua maioria.