O globo, n. 31339, 27/05/2019. Economia, p. 17

 

Saída pelo pré-pago

Bárbara Nóbrega

27/05/2019

 

 

Uso do cartão cresce 66% e atrai classe média. Ele já é usado até para pagar salário

Inicialmente voltado para as classes C e D, o cartão pré pago começa a ampliar seu público. E lese tornou alternativa tanto para consumidores de classe média preocupados com segurança e controle do orçamento quanto para empresas de telemarketing que depositam o salário de empregados sem conta em banco. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) mostram que o volume movimentado com esse meio de pagamento aumentou 66,5% e passou de R$ 6,6 bilhões em 2017 par a R $11 bilhões no ano passado. Para este ano, a previsão é que o montante chegue a R$ 18,55 bilhões.

O volume ainda é tímido se comparado ao do cartão de crédito tradicional, mas o ritmo de expansão é acelerado. Caso a projeção para este ano se confirme, haverá expansão de 68,6%. Para Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o aumento do uso do pré-pago é uma herança da crise, que deixou o consumidor mais cauteloso na gestão das contas do mês:

—A cicatriz da criseno bolso do brasileiro ainda é muito recente. As famílias se apoiaram muito no crédito, elevando o grau de endividamento. O consumidor aprendeu da pior forma possível e agora está recorrendo ao planejamento financeiro. Essa modalidade, que antes era para viagens ao exterior, está entrando no consumo do varejo, o que é positivo deu mm odo geral.

Aumento da inadimplência

O empresário Alessandro Pinto, de 45 anos, viu o cartão à venda pela primeira vez na fila do supermercado e decidiu adquiri-lo para que a empregada fizesse as compras do mês:

— Ajuda no controle de gastos e evita que a gente fique andando com dinheiro em espécie. Depois comprei para mim, para ter mais segurança nas compras on-line.

O cartão pré-pago foi regulado pelo Banco Central como modalidade de pagamento em 2014. Ele pode substituir o cartã ode crédito na contratação de serviços de streaming e aplicativos de transporte, por exemplo. Na prática, porém, funciona como débito, pois o cliente conta apenas como saldo depositado ou transferido para o cartão.

Enquanto as instituições financeiras justificam as taxas de juros cobradas no cartão de crédito em razão da inadimplência dos clientes, os pré-pagos atraem um público à caça de tarifas menores. Entre as empresas que oferecem esta modalidade de pagamento háf in techs, como a Acessoe a Agilitas, e bancos tradicionais, como Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Santander.

No momento em que o desemprego atinge 13,4 milhões de pessoa seque o tempo médio para arruma ruma vaga supera um ano, mante raconta aberta em banco pode ser um fardo amais para quem deixa de contar com salário. Após ficar desempregada, Amanda Santos, de 32 anos, decidiu encerrar sua conta corrente. Ao retornar ao mercado de trabalho, há um ano, optou por receber o salário e o vale-transporte em um pré-pago.

Pesquisa do Banco Central mostra que 58% dos chamados desbancarizados não têm conta em instituição financeira por falta de dinheiro ou em razão do custo alto. Em compensação, o mesmo levantamento mostrou que 60% deste público têm acesso acelular e internet. Existem 50 milhões de pessoas no Brasil sem conta nos bancos tradicionais.

— Moro em São Paulo, e acho ótimo porque consigo fazer a recarga no cartão do ônibus pelo aplicativo do cartão. Na empresa de telemarketing em que trabalho, 400 funcionários

recebem o pagamento por meio desse tipo de cartão. Acabamos economizando, porque é preciso ter o dinheiro na conta para conseguir comprar —disse Amanda.

Dados de pesquisa da CNC sobre endividamento, divulgada em abril, mostram que 62,7% das famílias estão endividadas no país. Deste total, quase 80% das dívidas vêm de cartões de crédito.

Bentes, da CNC, pondera que um dos fatores que podem justificar o aumento do uso do pré-pago é a inadimplência maior:

— Quem procura esse tipo de cartão também faz isso por dificuldade de acesso a crédito, já que não consegue obter por não ter emprego formal ou porque a renda oscila muito.

Para a planejadora financeira Myrian Lund, o pré-pago pode ser parte da estratégia para organizar os gastos.

— Pode ser uma forma de ensinar os filhos a lidar com o dinheiro com mais responsabilidade. Para quem está com

nome sujo e tenta se reorganizar, é possível depositar o dinheiro disponível no pré-pago e deixá-lo como reserva, enquanto se organiza para pagar empréstimos —explicou.

Recarga na lotérica

A recarga do cartão pode ser feita por transferências, depósitos em banco e até no supermercado. Algumas empresas, como a Superdigital, permitem saque no Banco 24Horas. A Acesso oferecerá o serviço em lotéricas a partir do segundo semestre.

Criada pelo empresário cearense Davi Holanda, a plataforma de pré-pago Acesso deu início a suas atividades em 2010, e seus cartões podem ser comprados em gôndolas de supermercados ou diretamente no site.

— Imagina-se que o pré-pago seja algo voltado para jovens, mas, no Rio, por exemplo, grande parte dos nossos clientes está na faixa dos 40 a 50 anos. Nossas cinco maiores praçassão: São Paulo,Rio,Brasília, Salvador e Fortaleza. Hoje ,52% das compras realizadas por nossos clientes são feitas on-line e 48% em lojas físicas. O nosso compromisso é desburocratizar e democratizar. O serviço pode ser usado para pagar Netflix e Uber.

Com mais de 1,9 milhão de contas abertas, a Superdigital, fintech do Santander, está em expansão na América Latina. Já está em funcionamento no Brasil e no México, e outros cinco países receberão a plataforma digital até 2022, com previsão de cinco milhões de clientes ativos até 2023.

Para o diretor-geral da Superdigital, Ezequiel Archipretre, a plataforma busca atrair os clientes que a agência tradicional não consegue prospectar, como os jovens que nunca tiveram conta em banco:

— Cerca de 80% dos nossos clientes são de folha de pagamento e trabalhadores informais. Outros 20% são o público que nos conheceu pela internet, que tende a ser mais jovem.

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Magazine Luiza aumenta oferta pela Netshoes para US$ 93 milhões

27/05/2019

 

 

A disputa pela Netshoes, varejista on-line do setor esportivo, ganhou mais um capítulo neste fim de semana. O Magazine elevou sua oferta para US$ 93 milhões, o equivalente a US$ 3 por ação. O aumento da proposta ocorreu pouco depois de o presidente da empresa, Frederico Trajano, enviar uma carta ao Conselho de Administração da Netshoes defendendo o negócio. No texto, ele argumenta que tem o cronograma mais previsível para o fechamento da operação, que poderia ocorrer até junho, e diz que este é um fator importante dada “a delicada situação financeira da Netshoes”. Em março, a empresa tinha R$ 120 milhões em pagamentos atrasados de fornecedores e despesas, de acordo com o balanço.

Na última quinta-feira, a Centauro havia decidido entrar na disputa pela varejista com uma oferta de US$ 2,80 por ação ou US$ 87 milhões pela companhia. A reação dos investidores, que anteciparam a possibilidade de uma guerra de ofertas, foi rápida, e os papéis da Netshoes em Nova York subiram mais de 40%. Até então, a única oferta na mesa era a do Magazine Luiza, que tinha valor inicial de US$ 62 milhões.

Na carta, Trajano classifica a oferta da rival como “oportunista, com o potencial objetivo de prejudicar a transação”, de acordo com cópia do documento obtida pela Bloomberg. A oferta do Magazine Luiza já tem o sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e conta com o apoio de 47,9% dos acionistas da Netshoes.

O próximo passo no imbróglio será a reunião de acionistas da Netshoes, marcada para a próxima quinta-feira.

Na sexta-feira, a Netshoes divulgou comunicado em que afirma ter recebido proposta não solicitada da Centauro e que seu conselho vai revisá-la cuidadosamente, sem ter ainda decisão sobre qual proposta é superior. Procuradas pela Bloomberg, as empresas não comentaram o assunto.