Valor econômico, v.19, n.4625, 07/11/2018. Política, p. A9

 

Bolsonaro aceita manter Ilan no BC

Fabio Murakawa 

Carla Araújo 

Andrea Jubé 

Marcelo Ribeiro 

07/11/2018

 

 

Em sua primeira visita a Brasília desde que foi eleito presidente da República, Jair Bolsonaro sinalizou que convidará o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, para continuar no cargo.

Ele também demonstrou preferir que o general Augusto Heleno fique à frente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e não do Ministério da Defesa, como vem sendo cogitado. E afirmou ainda que deve anunciar, até o fim da semana, ao menos mais quatro ministros que comporão sua equipe.

O périplo de Bolsonaro por Brasília começou pelo Congresso Nacional, onde participou de uma solenidade em comemoração aos 30 anos da Constituição de 1988.

O presidente eleito sentou-se ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), do presidente Michel Temer, do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e do ex-presidente José Sarney, que há três décadas ocupava o Palácio do Planalto.

Encerrada a solenidade, Bolsonaro foi ao Ministério da Defesa, em um gesto simbólico antes de visitar o Ministério da Marinha e o Quartel General do Exército. Hoje, entre outros compromissos, o presidente eleito, que é militar reformado, irá ao Ministério da Aeronáutica.

À saída de cada compromisso, Bolsonaro concedia rápidas entrevistas à imprensa, fornecendo pistas sobre a formação de seu futuro governo e recuando ou avançando em declarações - uma marca desse período de transição.

Ao deixar a Marinha, Bolsonaro foi questionado sobre a possibilidade de convidar Ilan para permanecer à frente do BC. Sua resposta deixou uma porta aberta a esse convite, mas o presidente eleito disse que decisão ficará a cargo de seu ministro da Economia.

"Olha, o Paulo Guedes gosta dele. E, para mim, não é questão de gostar, é questão de competência", disse Bolsonaro.

Diferentemente do que vinha sendo informado por sua própria equipe, o papel do general Augusto Heleno no governo Bolsonaro ainda não está definido. O militar, dado como certo no Ministério da Defesa, agora pode ocupar o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Bolsonaro deu a entender preferir Heleno nessa última função.

"O general Heleno pode ser da Defesa ou do GSI", disse ele, ao lado do general. "Quem pode se dar ao luxo de se privar da companhia do general Heleno? Eu gostaria, sim, no que depender de mim, ele irá para o GSI. Mas a Defesa está aberta para que ele, se ele achar que é melhor a Defesa, tudo bem."

Ele afirmou ainda que, se Heleno for de fato ao GSI, a Defesa seguirá sob o comando de um militar. E prometeu indicar técnicos ou pessoas com conhecimento das respectivas áreas para todos os ministérios de seu governo, que tendem a ser de 15 a 17, em comparação aos atuais 29.

"O compromisso é nomear pessoas que entendam de determinados assuntos em cada área", disse. "A Defesa pode ser [comandada por] um [general de] quatro estrelas ou, já que eu estou na Marinha, alguém da Marinha."

A agenda de Bolsonaro ontem na capital denota sua intenção de demonstrar proximidade com as Forças Armadas. Nas conversas, com os comandantes militares, ele tratou de duas questões fundamentais para a economia do país: orçamento das forças e previdência dos militares.

Na conversa com o ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, Bolsonaro estava acompanhado do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes. Segundo fontes, foi consenso na conversa de que os militares precisam dar sua contribuição para a reforma da Previdência. Mas ficou acertado que Bolsonaro só colocará o tema na mesa após a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que trata da previdência dos civis avançar.

Ao chegar à Defesa, Bolsonaro prometeu que as Forças Armadas não terão recursos contingenciados durante seu governo.

"Segundo Paulo Guedes não terão mais recursos contingenciados. É ele que manda na economia aí", afirmou. "Nada mais justo, é um reconhecimento às Forças Armadas não contingenciar recursos que são tratados com tanto zelo por parte deles, que grandes serviços prestam a todos no Brasil e em especial nos momentos difíceis que a nação atravessa."

Bolsonaro reafirmou que a tendência, hoje, é não haver fusão entre os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente - um tema polêmico e que foi pivô de diversas idas e vindas nos últimos dias.

"O próprio setor do agronegócio queria [a fusão], e agora há uma certa divisão", disse. "Agora, deixo bem claro, quem vai indicar o ministro do Meio Ambiente é o Jair Bolsonaro", afirmou.

Outro compromisso do eleito nesta quarta-feira será um encontro com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto para discutir a reforma da Previdência. Ele disse que gostaria de ver aprovada "alguma coisa" antes de sua posse, em primeiro de janeiro.