O globo, n. 31327, 15/05/2019. País, p. 8

 

Na Câmara, um dia de Lei Áurea, monarquia e reação negra

Natália Portinari

Marco Grillo

15/05/2019

 

 

Movimentos sociais fazem embate com Luiz Philippe de Orleans e Bragança

Uma sessão solene em homenagem aos 131 anos da assinatura da Lei Áurea, organizada pelos deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), foi interrompida por entidades do movimento negro, que entraram no plenário da Câmara dos Deputados aos gritos de “parem de nos matar”. Um grupo de monarquistas, que prestigiava a sessão na manhã de ontem, respondeu com “Isabel, Isabel”, em defesa da princesa que assinou a Lei Áurea.

O movimento negro adotou o dia 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, como Dia da Consciência Negra, e tem postura crítica em relação ao 13 de maio, por considerar incompleta a abolição da escravatura instituída pela Lei Áurea.

Ontem, também estavam na Mesa Diretora, durante a sessão solene, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), Paula Belmonte (Cidadania-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP), que é próxima a Luiz Philippe.

Em uma tentativa de apaziguar os ânimos, Carla fez uma referência à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada no ano passado:

—Lembrando os senhores que, se a Marielle foi uma mulher livre, foi graças à Princesa Isabel.

Os manifestantes, que incluíam representantes dos grupos Frente Favela Brasil, Unegro, Movimento Negro Unificado, Educafro, responderam com as palavras de ordem “fascistas, não passarão”. Um dos monarquistas foi retirado do plenário por seguranças.

Ao retomar a palavra após a interrupção da sessão, Luiz Philippe, descendente da família real brasileira, disse que é preciso lutar contra a “natureza humana”, cujo instinto é de escravizar uns aos outros. Ele foi vaiado pelos ativistas.

—A natureza humana nos leva a esses grandes conflitos, nos leva a esses conflitos de escravizar uns aos outros. Isso faz parte da nossa natureza. Como é que combatemos isso? Essa é a grande questão. Como é que combatemos nossa própria natureza na evolução da humanidade? Existem, sim, pessoas com consciência de que escravidão não é algo bom. A consciência humana combate a própria natureza humana —disse Luiz Philippe.

“A natureza humana nos leva a esses grandes conflitos, nos leva a esses conflitos de escravizar uns aos outros. Isso faz parte da nossa natureza”

Deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP)